Pêssegos de agora

Os pêssegos de agora são os melhores de sempre. Por agora, que não é pouco.

A Primavera chegou primeiro ao Algarve e foi subindo por Portugal até chegar ao Minho e a Trás-os-Montes. Pode-se viajar para Sul para ir espreitar o Verão e, quando ele chegar, pode-se virar para Norte para fazer durar mais a Primavera.

Assim se passeia em Portugal tanto no tempo como no gosto. Esta semana chegaram cá os primeiros pêssegos do ano, nascidos e criados em Tavira. Disseram-nos que ainda não prestavam, que não comprássemos, que tivéssemos paciência.

Deram-nos dois para provar: eram suculentos e acidulados com uma pesseguidão transtornante. Eram salivantes e adstringentes, fazendo sedes e matando-as ao mesmo tempo.

É quando têm menos açúcar e menos envergadura que os pêssegos ganham em conhecer-se. Com mais duas ou três semanas de sol eles estarão (se não chover muito) ortodoxamente doces e esplêndidos de aspecto. Mas estes pesseguinhos temporões de Abril estão para os sensacionais pessegões do Verão como os vinhos verdes estão para os maduros. Não é preciso escolher entre eles. É como se fossem frutas diferentes. É impossível não romantizá-los. São de Abril. São tímidos. São passageiros. Os vendedores desaconselham-nos por causa da apetência nacional por orgias de açúcar com açúcar.

É como a vontade de chegar ao Verão: é tanta que não se repara na Primavera que nos levará até ela. É como não prestar atenção às maravilhas de uma viagem, só porque se está obcecado com o destino.

Os pêssegos de agora são os melhores de sempre. Por agora, que não é pouco.

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