Açores e Madeira reforçam lobby em Bruxelas

Regiões autónomas abriram um gabinete conjunto na União Europeia, e não escondem que o objectivo é reforçar o trabalho desenvolvido pela REPER e defender os interesses de ambos os arquipélagos.

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Aeroporto Internacional da Madeira HOMEM DE GOUVEIA

A ideia nasceu em Fevereiro do ano passado, durante a X Cimeira Atlântica entre as duas regiões autónomas, e foi agora materializada. Açores e Madeira criaram, no final de Março, um gabinete conjunto em Bruxelas. O objectivo, dizem os presidentes dos governos açoriano, Vasco Cordeiro, e madeirense, Miguel Albuquerque, não é “concorrer” com a Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (REPER), mas sim fazer daquele espaço um “instrumento complementar”.

Na inauguração do Gabinete de Representação das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira em Bruxelas, tanto Cordeiro como Albuquerque insistiram na importância de uma representação conjunta para a defesa dos interesses dos dois arquipélagos. Não é, sublinhou o chefe do executivo açoriano, “nem concorrente, nem alternativo” à REPER.

“É mais um instrumento a juntar ao trabalho desenvolvido pela Representação Permanente, pelos eurodeputados e por um conjunto muito variado de instituições da União”, explicou, colocando a promoção e a defesa dos interesses insulares acima de ambos os governos.

Porque, no entender de Vasco Cordeiro, o novo gabinete, localizado na Praça Schuman, junto ao edifício da Comissão Europeia, é mais do que a representação dos dois governos. “Este é um espaço – na nossa perspectiva e acredito que também no caso da Madeira – não de representação do governo, mas da representação da região”, defendeu, desafiando a sociedade açoriana e madeirense a fazer daquele gabinete um posto de trabalho.

A ideia é partilhada por Albuquerque. O presidente madeirense lembrou que o gabinete é a concretização de um compromisso dos executivos das duas regiões, salientando que apesar da diferença da cor política – os Açores têm um governo socialista e a Madeira é liderada pelo PSD –, Funchal e Ponta Delgada têm de concertar posições, “no contexto nacional e europeu”, na defesa dos interesses comuns.

“É importantíssimo, numa altura em que a União Europeia vive momentos de reconfiguração geopolítica, em que se acentuam as interrogações e as incógnitas relativamente ao futuro desta instituição fundamental, que a Madeira e os Açores tenham uma posição física reforçada aqui em Bruxelas”, vincou Albuquerque durante a inauguração, que coincidiu com o último dia do 4.º Fórum das Regiões Ultraperiféricas (RUP).

Uma ocasião feliz, apontou a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, lembrando que há muitos anos que existia a ambição de inaugurar aquele espaço.

“Tanto quanto sei somos as últimas regiões ultraperiféricas que aqui inauguram um gabinete”, disse aos jornalistas, destacando que a abertura da representação insular acontece num dia de grande “valor simbólico” para as RUP, que entregaram à Comissão Europeia um memorando com as necessidades e desafios das regiões europeias.

Mas, alertou Margarida Marques, não basta apresentar um memorando. “É preciso um acompanhamento sistemático para que as políticas tenham efeito e o impacto pretendido”, avisou a secretária de Estado, enquanto Miguel Albuquerque destacava a importância das regiões ultraperiféricas como “afirmação geostratégica” da União Europeia no mundo.

Os Açores e a Madeira estavam representados na REPER através de conselheiros regionais. Com a abertura deste gabinete as duas regiões vêem reforçada a capacidade de intervenção, ao mesmo tempo que asseguram uma maior racionalidade de recursos.

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