Partido anti-imigração alemão reuniu-se para se inclinar ainda mais para a direita

Frauke Petry viu a sua moção, que propunha um esforço para negociar acordos com os outro partidos, largamente rejeitada. Antes, entre dez a 15 mil manifestantes de esquerda entraram em confrontos com a polícia.

Frauke Petry durante o congresso da AfD em Colónia
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Frauke Petry durante o congresso da AfD em Colónia Reuters/WOLFGANG RATTAY
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Um forte dispositvo policia foi mobilizado para assegurar segurança LUSA/JOERG SCHUELER
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Registou-se a detenção de pelo menos uma pessoa na manifestação contra o partido de extrema-direita Reuters/THILO SCHMUELGEN
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Entre dez a 15 mil pessoas participaram nos protestos Reuters/THILO SCHMUELGEN

Quatro mil agentes da polícia foram mobilizados para Colónia neste sábado. A razão era o congresso pré-eleitoral que se iniciava nesta cidade alemã do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). O objectivo da reunião era discutir e decidir a estratégia do partido para as próximas legislativas, em Setembro, para chegar ao Parlamento federal pela primeira vez nos seus quatro anos de história. Mas entre protestos da esquerda, que mobilizou entre dez a 15 mil pessoas durante o dia, bem abaixo das previsões iniciais que apontavam para os 50 mil, e confrontos com a polícia, a líder de facto da AfD, Frauke Petry, saiu fragilizada e o partido ainda não tem candidato para enfrentar Angela Merkel e Martin Schulz.

Dois polícias feridos, pelo menos um manifestante detido, um carro da polícia em chamas, e os delegados da AfD a serem obrigados a enfrentar os manifestantes para poderem entrar na reunião do partido. Este era o cenário que envolvia o início dos trabalhos do partido da extrema-direita alemã.

Mas, dentro da sala de conferências de um hotel de Colónia, rapidamente se percebeu que este não iria ser um dia fácil para Frauke Petry, que tinha recusado esta semana liderar a campanha do partido às eleições gerais de Setembro. A moção onde propunha um esforço adicional para no futuro formar alianças com outro partidos, e dessa maneira viabilizar uma possível integração num Governo em 2021, sofreu grande contestação de uma ala mais extremista e foi largamente rejeitada pelos cerca de 600 elementos partidários presentes no congresso, levando o partido a inclinar-se ainda mais para a direita.

“Penso que o partido está a cometer um erro aqui”, afirmou Petry, que está grávida do seu quinto filho, aos jornalistas depois da votação.

Por outro lado, outro dos altos dirigentes, Joerg Meuthen, foi ovacionado ao afirmar que a AfD nunca se iria aliar com os democratas-cristãos de Merkel ou com os sociais-democratas de Schulz que estão, defendeu, a destruir a Alemanha com políticas pró-imigração.

“A falta de estratégia levou aos conflitos”

Fundado em 2013, a AfD posicionou-se como uma organização eurocéptica e iniciou uma feroz oposição à política de portas abertas de Merkel em relação à vaga de refugiados que chega à Alemanha desde 2015. Os primeiros testes eleitorais foram positivos, com o partido a conseguir fazer-se representar em 11 dos 16 estados alemães, provocando até derrotas históricas ao partido da chanceler, a União Democrata-Cristã (CDU), nos sufrágios regionais. 

Porém, a retórica da AfD tem vindo a esgotar-se à medida que o número de chegadas de refugiados tem diminuído e ao mesmo tempo que os restantes partidos rejeitam qualquer possibilidade de um acordo parlamentar. E esse facto verificou-se na evolução das sondagens: se no final do ano passado, a AfD recolhia 15% das intenções de voto, actualmente as projecções situam o apoio entre os sete e os 11%.

Neste cenário, as divisões no seio do partido são cada vez mais profundas. E o anúncio de Petry, na passada quarta-feira, de que não iria encabeçar a campanha, não ajudou a unir as facções.

“Toda a gente que conhece este partido desde o seu início e tem observado os últimos dois anos sabe que é exactamente a falta desta estratégia que levou a numerosos conflitos e disputas”, afirmou Petry, citada pelo jornal Die Welt. Agora, a possibilidade que é apontada como a mais provável pela imprensa alemã é a constituição de uma liderança eleitoral tripartida de candidatos nacionais para seguir com a oposição a Merkel e conquistar representação parlamentar. Quem irá constituir este triunvirato é algo que ficou ainda por decidir.

“Enquanto o partido não indiciar a direcção que quer realmente seguir, os protagonistas podem viver com esta não-decisão muito melhor do que eu para liderar esta campanha eleitoral”, declarou Petry.

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