O clube e a cerveja que os sócios escolheram

Fartos de não terem voz e serem tratados como clientes pelo emblema que idolatravam, decidiram criar o próprio clube

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O Atlético Club de Socios disputa o primeiro escalão regional de Madrid Atlético Club de Socios
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O emblema vai completar dez anos e foi fundado por um grupo de sócios e adeptos do Atlético de Madrid descontentes com o rumo do clube Atlético Club de Socios
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“Aconteça o que acontecer, o desporto popular deve continuar a existir, não pode ser tudo negócio e mercantilismo”, defende o Atlético Club de Socios Atlético Club de Socios
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A cerveja “La Socia”, lançada pelo clube, foi um êxito imediato Atlético Club de Socios
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O espírito do clube é inabalável: “Houve altos e baixos, sofremos derrotas e vivemos grandes vitórias, subimos e descemos de divisão, mas sempre juntos e sem medos” Atlético Club de Socios

O lema que os guia não podia ser mais simples: “O nosso clube, as nossas regras”. Em poucas palavras, está explicada a razão que levou um grupo de sócios e adeptos do Atlético de Madrid a criar, há dez anos, o Atlético Club de Socios. O nome reflecte o descontentamento com o rumo que o emblema do coração estava a seguir e a crescente alienação a que sentiam estar votados pelos responsáveis da SAD “colchonera”. Decidiram dar o passo porque não queriam ser meros “clientes”, que pagam quotas e bilhetes cada vez mais caros e não têm voz activa. O décimo aniversário será só em Outubro, mas as celebrações já começaram: ontem foi apresentada a cerveja artesanal que assinala a data.

Chama-se “La Socia”, em homenagem às adeptas do clube, e o nome foi escolhido “de forma democrática, num processo em que todos participaram, porque é assim que se faz tudo neste clube. Os sócios decidem o que querem. Todos votamos e damos a nossa opinião”, explicou ao PÚBLICO, por e-mail, a direcção do Atlético Club de Socios. “A partir de agora podemos brindar com a nossa própria cerveja, algo que nos deixa loucos de alegria”, confessou.

Um longo caminho foi percorrido pelo Socios, como é carinhosamente tratado. “Em 2007 ninguém imaginava o que este clube significaria para as nossas vidas. Sabíamos que era uma loucura, que o mais lógico era que não conseguíssemos, mas mesmo assim avançámos. Começou como um sonho de uns poucos e transformou-se numa forma de viver o desporto perfeitamente sã e limpa. Houve altos e baixos, sofremos derrotas e vivemos grandes vitórias, subimos e descemos de divisão, mas sempre juntos e sem medos”, recordaram os responsáveis do clube.

A equipa começou no terceiro escalão regional de Madrid e actualmente compete no primeiro (para além de futebol, o clube tem também râguebi, basquetebol e equipas de formação). Jogam em Getafe, nos arredores da capital espanhola, e orgulham-se da ligação à comunidade local: “Enquanto aqui estivermos vamos representar uma ideia do desporto que não se deve perder. Aconteça o que acontecer, o desporto popular deve continuar a existir, não pode ser tudo negócio e mercantilismo. Recusamo-nos a ir nessa onda”, vincaram.

Foi isso que os levou à dissidência do Atlético de Madrid. O exemplo do FC United of Manchester, fundado em 2005 por adeptos do Manchester United como forma de protesto contra a tomada de poder por parte dos Glazer, inspirou-os: “O clube foi fundado para dar resposta à situação que o Atlético de Madrid vivia. É muito duro ver o que estão a fazer ao clube dos nossos pais e dos nossos avós. São momentos duros para os adeptos de um dos grandes clubes da Europa”, lamentou a direcção do Socios. “Muitos dos sócios fundadores eram seguidores de toda a vida do Atleti, e como não gostamos da forma como o clube é dirigido, decidimos mostrar que há outra forma de fazê-lo. Continuamos a ser profundamente atléticos, mas cada dia sentimo-nos mais empurrados para fora do nosso amado clube.”

As semelhanças entre o símbolo do Socios e o primeiro emblema do Atlético de Madrid são evidentes, mas as relações com o clube “colchonero” são inexistentes. “Houve uma aproximação da nossa parte quando criámos a secção de râguebi, mas não tivemos qualquer apoio ou resposta. Por isso, não insistimos e não insistiremos. Os nossos caminhos são paralelos, mas o conceito de clube que a SAD defende faz com que se separem cada dia mais”, contaram. Aliás, esse afastamento começou desde a primeira hora: “O clube foi fundado como Athletic de Madrid, mas coincidia com a SAD por esse ser um dos nomes históricos do Atlético de Madrid. Mudámos para o nome actual e tivemos alguns problemas, devido a denúncias da SAD, mas conseguimos registá-lo e temos muito orgulho nele”.

E assim continuará a ser. Com uma “La Socia” na mão, num qualquer campo longe dos holofotes e do futebol-negócio, eles não querem ser clientes de um clube.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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