Tillerson pôs em causa acordo nuclear, Irão diz que são "acusações gastas"

Decisão americana de reavaliar texto assinado em 2015 faz renascer receio de que Trump rasgue um dos marcos da presidência Obama.

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Morteza Nikoubazl/Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano lamentou que os Estados Unidos estejam a desenterrar “acusações gastas” para minar o acordo nuclear de 2015, de que foi um dos artesãos. Mohammad Zarif reagia às declarações do secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, para quem aquele pacto não pôs fim às ambições nucleares de Teerão e nada fez para travar as “provocações” do país na região.

O discurso do chefe da diplomacia norte-americano – numa altura em que Washington flecte os músculos na direcção da Coreia do Norte – fez ressurgir os receios de que Donald Trump poderia cumprir a promessa de se desfazer de mais um dos marcos da Administração de Barack Obama e que ele, enquanto candidato, descreveu como “o acordo mais incompetente alguma vez negociado”.

Uma possibilidade reforçada pela decisão, anunciada terça-feira pelo Departamento de Estado, de fazer uma reavaliação global do acordo, ao abrigo do qual o Irão aceitou reduzir as suas actividades nucleares. Em particular, a actual Administração pretende saber se o levantamento das sanções a Teerão é “vital para os interesses de segurança nacional dos EUA”. Isto apesar de, no mesmo dia, a Casa Branca ter informado o Congresso de que o regime iraniano está a cumprir aquilo a que se comprometeu.

“Este acordo representa a mesma abordagem falhada do passado que nos trouxe até à ameaça que enfrentamos actualmente com a Coreia do Norte”, afirmou Tillerson, ficando muito perto de dizer que não vale a pena manter o tratado, mesmo que ele esteja a funcionar, notou a BBC. Para o secretário de Estado norte-americano, a anterior Administração optou “por comprar os iranianos durante um curto período de tempo”, ignorando “as provocações alarmantes e contínuas de exportação do terror e da violência” – e entre estas incluiu o envolvimento iraniano nas guerras do Iémen e da Síria, o apoio ao Hezbollah libanês, o “assédio” aos navios americanos no Golfo ou as detenções extrajudiciais de cidadãos americanos. “A Administração Trump não tem intenção de passar o fardo do Irão à próxima Administração. As provas são claras: as acções provocatórias do Irão ameaçam os EUA, a região e o mundo”, sublinhou.

Numa primeira reacção iraniana, Zarif escreveu no Twitter que “as gastas acusações americanas não podem mascarar a admissão de que o Irão está a cumprir” o acordo e Washington faria melhor em “cumprir as suas próprias obrigações”, desbloqueando o dinheiro que ainda mantém cativo.

Apesar do tom crispado, vários analistas consideram improvável que Trump se desfaça do acordo internacional, arriscando enfurecer a Rússia e a China (que com a UE são também signatários do texto) e agravar a tensão na região. Em Março, recorda a Reuters, a chefe da diplomacia europeia, Frederica Mogherini, encontrou-se com responsáveis da Administração americana e disse ter ficado convencida de que os EUA estão empenhados em cumprir na totalidade o acordo. Um primeiro sinal deverá chegar em meados do próximo mês, altura em que o Presidente norte-americano terá de decidir se mantém a suspensão das sanções americanas decretada por Obama. 

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