Câmara de Lisboa só ia fazer obras no viaduto de Alcântara daqui a três anos

O estado de conservação da estrutura mereceu nota positiva num relatório de Fevereiro. E novas inspecções de rotina estavam marcadas só para 2022.

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Daniel Rocha

Só daqui a três anos é que a Câmara Municipal de Lisboa previa começar a fazer obras de reparação no viaduto de Alcântara. Os relatórios da última inspecção de rotina feita àquela estrutura, em Fevereiro, revelam que, caso não tivesse havido um incidente a 22 de Março, só em 2020 e 2022 é que o viaduto voltaria a ter intervenções.

Construído como “provisório” desde 1973, o viaduto de Alcântara teve as últimas grandes obras em 2005. A substituição da actual estrutura por uma definitiva está prevista formalmente desde 2014, mas ainda não há data concreta para se concretizar.

Nos relatórios da última inspecção rotineira, de 13 de Fevereiro, a empresa Betar fez uma listagem dos trabalhos de reparação necessários e orçou-os em pouco mais de 17 mil euros. Nesses documentos está escrito que o corpo principal do viaduto seria intervencionado em 2020 e os dois acessos – um para cada sentido de trânsito – em 2022.

Com o incidente no fim de Março, a situação mudou. A câmara teve de encomendar um projecto de reabilitação à construtora Teixeira Duarte e os trabalhos, a concluir no início de Maio, deverão custar perto de 300 mil euros, segundo o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.

Numa escala de 0 a 5, em que 0 é “óptimo” e 5 é “muito mau”, a Betar deu nota 2 ao estado de conservação dos três corpos do viaduto. E considerou “mau” o estado de manutenção da obra. Apesar disso, os relatórios não têm alertas muito sérios: apenas apontam a necessidade de fazer algumas limpezas, pinturas, pavimentações e reparações simples.

As próximas inspecções regulares ao viaduto estavam marcadas para daqui a cinco anos, em 2022, mas entretanto houve um problema num dos pilares, que fez com que duas partes do tabuleiro rodoviário se separassem. A Betar foi chamada a fazer uma “inspecção especial”, concluída a 10 de Abril, que não é conclusiva sobre os motivos do incidente e defende que “não era possível antever o ocorrido”.

Os engenheiros que assinam o relatório desta inspecção explicam que o pilar que cedeu funciona como uma espécie de pêndulo, uma vez que tem “elevada flexibilidade para movimentos de rotação” devido à forma como está cravado no terreno. Ora, por causa da diferença de inclinação das duas partes do tabuleiro que sustenta e pela variação de temperaturas, “o pilar esteve sujeito a esforços de flexão na sua base, que foram incrementando” com o passar dos anos, lê-se.

“Esses esforços cíclicos poderão ter estado na origem da rotura repentina de uma das barras verticais que fixam a base do pilar à fundação, eventualmente por fadiga do aço”, escrevem os técnicos. “Essa rotura terá provocado uma perda significativa de rigidez do pilar na sua base”, o que originou o problema de 22 de Março. “O deslocamento anormal do pilar”, concluem, “resulta de uma concepção estrutural deficiente ou de apenas esquecimento na colocação” de umas cavilhas por baixo do tabuleiro – o que teria evitado o incidente.

Tudo isto, escreve por sua vez a câmara num documento distribuído aos jornalistas na semana passada, terá “sido precipitado por uma acção brusca ao nível do tabuleiro, uma acção de travagem ou mesmo o embate de um veículo pesado na guarda de segurança”. Manuel Salgado lembrou, numa conferência de imprensa, que desde 2005 não é permitida a passagem de pesados pelo viaduto e anunciou que vão ser instalados pórticos para que essa proibição seja eficaz.

Segundo a calendarização prevista, os trabalhos de reparação do viaduto começaram na segunda-feira e terminam daqui a duas semanas e meia, a 5 de Maio.

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