Hospitais ligados a centros de saúde têm taxas de reinternamento mais baixas

Em causa estão as Unidades locais de Saúde que juntam os hospitais e os centros de saúde sob a mesma gestão. Estudo revela que têm menos 10% de doentes a voltar ao internamento.

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Rui Gaudêncio

As Unidades Locais de Saúde (ULS), que juntam hospitais e centros de saúde sob a mesma gestão, têm taxas de reinternamento mais baixas. Em comparação com os hospitais que funcionam separados dos cuidados primários, as ULS têm menos 10% de doentes a voltar ao internamento nos primeiros 30 dias após a alta. No entanto, há variações entre as ULS existentes em Portugal.

Os resultados deste estudo antecipados ao PÚBLICO vão ser publicados nesta terça-feira na revista norte-americana Medical Care. A investigadora principal do trabalho, Sílvia Lopes, destaca que a principal conclusão dos dados que analisaram aponta para que “em termos globais haja uma redução de 10% no risco de as pessoas serem readmitidas”. Para isso, foram analisados mais de dois milhões de internamentos, metade dos quais em ULS no período entre 2004 e 2013 e a outra metade em hospitais cuja gestão entre estas instituições e o centro de saúde não é partilhada.

De acordo com a professora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade Nova de Lisboa, este é um dos indicadores mais importantes da qualidade do serviço prestado nos hospitais, tendo até impacto na forma como são financiados, já que não é suposto que existam recaídas, com excepção de casos pontuais ou de doenças mais sensíveis como as oncológicas. O trabalho faz parte de um projecto mais alargado da ENSP, coordenado por Rui Santana, que avalia o impacto das ULS em várias vertentes.

Resultados positivos

Sílvia Lopes reforça que o resultado mais positivo foi encontrado nos doentes com diabetes com complicações. Estas pessoas tiveram uma taxa de reinternamento inferior em 30% por comparação com os resultados dos hospitais com gestão autónoma. As pneumonias e as infecções ligadas à aparelho urinário também registaram bons resultados. Já em doenças cardíacas ou em acidentes vasculares cerebrais os resultados não foram positivos. A investigadora diz que o estudo não permitiu explicar as diferenças, mas salienta que as características de cada doença ou até os profissionais envolvidos em cada área podem ditar resultados distintos.

Outros trabalhos publicados recentemente não apontavam para resultados tão positivos nas ULS. Por exemplo, em 2015 a Entidade Reguladora da Saúde alertava que as ULS não estavam a tirar partido da integração, tendo mais doentes internados desnecessariamente do que os hospitais tradicionais. Também em 2014, um trabalho da consultora espanhola multinacional Lasist avisava que a maior parte dos doentes internados nos hospitais continuam a dar entrada pelas urgências, sendo o valor ainda mais elevado nas ULS.

Sílvia Lopes reconhece que nem todos os indicadores têm tido os resultados desejados, mas contrapõe que os dados sobre os reinternamentos nunca tinham sido avaliados e, mesmo em termos internacionais, ainda não se conhecia bem o impacto do modelo da gestão das ULS no número de doentes que precisam de voltar ao hospital. “Conceptualmente é isso que se pensa, mas não quer dizer que seja assim. E aqui comprovámos que o acompanhamento dos doentes após a alta parece ser melhor, evitando readmissões”, acrescenta.

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