Santa Casa quer cobrar por terreno onde se realiza Senhor de Matosinhos

Autarquia diz que não cede a “chantagem”. Instituição diz querer rentabilizar os activos num período financeiro “menos bom”.

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Santa Casa quer cobrar por terreno onde onde nos últimos anos são montados os carrosséis Rita Franca

Metade das receitas é o que a Santa Casa da Misericórdia de Matosinhos pede, pela primeira vez, pela cedência de um terreno do qual é proprietária onde nos últimos anos são montados os carrosséis de maior dimensão da festa do Senhor de Matosinhos, que começa no início de Maio. A Câmara Municipal de Matosinhos (CMM) diz que não vai ceder ao que apelida de “chantagem” e garante que não vai pagar qualquer contrapartida financeira, nem que tenha que abdicar daquele sector. A Santa Casa afirma não existir qualquer chantagem, mas sim a necessidade de rentabilizar os activos da instituição, que diz estar a passar por um período financeiro menos bom.

De acordo com a CMM, o valor da receita angariado naquele sector da romaria ronda os 60 mil euros, a parte mais lucrativa de toda a festa, por ser onde são montados os divertimentos de maior dimensão e que por sua vez ocupam mais espaço. Parte desse valor é canalizado para despesas infra-estruturais associadas à utilização do espaço, como esgotos, limpeza, policiamento ou eletricidade, que são pagos pela ANCIMA — Associação para a Animação da Cidade de Matosinhos, responsável pela organização da festa. Esta é presidida a título individual por Fernando Rocha, que é actualmente vereador da cultura e vice-presidente do município que, com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira e com a Santa Casa da Misericórdia local, formam a direcção da associação.

O presidente da autarquia, Eduardo Pinheiro, quando nesta terça-feira se votava um ponto da agenda da reunião do executivo da câmara relativo à festa da cidade, deu a conhecer a vontade a Santa Casa cobrar uma contrapartida financeira para a cedência do terreno situado na rua da Misericórdia, algo que diz nunca ter acontecido. Segundo o autarca, só na quinta-feira da semana passada é que a instituição fez chegar esta informação à sede da ANCIMA, a “poucas semanas” de ser montada a festa. Esta posição, afirma, poderá “inviabilizar” a romaria. Por isso mesmo, diz que não cederá “à chantagem” e garante que a autarquia não pagará qualquer valor, decisão que afirma ser irredutível. Para isso, falará com o provedor para que “seja sensível a esta situação”. Caso não aconteça, serão encontradas “outras alternativas”. De resto, está agendada para esta quarta-feira uma reunião na sede da ANCIMA, que vai contar com todos os membros da direcção, na qual será discutida a questão.

Fernando Rocha, afirma que o motivo desta decisão prende-se com a recente mudança da mesa de administração da Santa Casa de Matosinhos, que tem actualmente como provedor Luís Branco, que assumiu funções em Dezembro do ano passado, depois de renunciar o lugar de deputado municipal eleito pelo PSD, onde esteve durante os últimos dois mandatos até à altura que assumiu funções na instituição.

Contactado pelo PÚBLICO, Luís Branco afirma que o facto de “sempre se ter mostrado crítico” em relação ao executivo que lidera a autarquia nada influencia na posição da instituição. O actual provedor, que durante 15 anos fez parte do conselho fiscal da Santa Casa, diz tratar-se apenas de uma questão pela qual tem lutado desde há alguns anos, que é “rentabilizar os activos da instituição que passa por um período financeiro menos bom”.      

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