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The Dictators viajam numa cápsula do tempo que baralha as datas

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O Cave 45 não é o CBGB e o Porto não é Nova Iorque. Também não estamos nos anos 70, altura em que os The Dictators eram banda assídua do bar nova-iorquino onde com os Television, Ramones, Blondie ou Patti Smith construiram os alicerces daquilo que mais tarde se veio a chamar de punk rock. Estamos em 2017, num domingo, dia de Páscoa e noite de rock, no bar da rua da Conceição. 

 

Ouve-se o riff de entrada de Master Race Rock. No palco estão Ross "The Boss", que gravou Go Girl Crazy!, o primeiro álbum de 1975, e Daniel Rey, na guitarra, Dean "The Dream" Rispler, no baixo, e J.P. Patterson na bateria.Handsome dick Manitoba, que também gravou o primeiro álbum, entra em último para atirar os primeiros versos da música de um dos álbuns mais icónicos de punk, lançado antes mesmo de existir o género. Gorro na cabeça, casaco de cabedal, com o nome da banda gravado nas costas, não esconde a idade que tem. Está na casa dos 60, mas não deixa que isso comprometa a performance, nem a dele nem a dos colegas de banda, na mesma faixa etária.

 

Os Dictators são antigos, mas não estão velhos. Manitoba faz parecer fácil ser frontman de uma banda. Transforma o concerto numa reunião de amigos, mesmo quando a maior parte dos que lá estão possam estar a vê-los pela primeira vez. Mistura-se com o público, partilha o microfone e chega a travar um diálogo entre músicas com alguém que diz ter visto a banda noutro país. São mais de 40 anos de banda e quem ao fim deste tempo todo continua a tocar em salas onde o público não chega a uma centena de pessoas só o pode estar a fazer em nome do rock and roll.

 

A the next big thing, talvez nunca o tenham sido, nem nunca o chegarão a ser, mas é um dos temas que atiram. A dada altura já ninguém se lembra em que ano estamos ou que idade têm estes ditadores que, ao contrário de todos os outros, são amistosos. Manitoba, está longe de casa, mas aproveita para falar da realidade política do país, que diz estar entregue a “gente perigosa”.

 

Aproveita a deixa e dedica Pussy and Money a Donald Trump. Tudo funciona bem em cima do palco e na interacção com o público. Ross the Boss, também conhecido por ter fundado os Manowar, volta e meia arrisca num solo, mas sem entrar na onda virtuosa que caracteriza o género da banda que posteriormente formou. J.P. Patterson não precisa de timbalões na bateria para assegurar a secção rítmica com Andy Shernoff.

 

Tudo simples, eficaz, num ambiente aquecido por um dos frontmans mais cool do rock and roll. Antes de irem embora ouviu-se Kick Out the Jams. Uma homenagem aos MC5, que, sendo os Dictators considerados uns dos pais do punk, serão seguramente, estes, os avós do género. A fazer a primeira parte estiveram os Vürmo. Punk da casa, directo e duro, comandado por duas vozes, com membros conhecidos de outras bandas do género da cena do Porto e Norte.