Álvaro Almeida: o candidato fora da caixa

O independente que vai liderar a lista do PSD à Câmara do Porto afirma que chegou o momento de colocar o seu conhecimento e a sua experiência de gestão pública ao serviço da cidade e dos portuenses

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Adriano Muranda

Fala do Porto como sendo o seu porto, a sua casa e não se vê a viver noutra cidade. A relação que Álvaro Almeida tem com a cidade onde nasceu não é de agora, mas são poucos os que a conhecem. Quando vivia em Inglaterra, cidade que escolheu para fazer o doutoramento na London School of Economics, e as saudades batiam à porta, metia-se no avião e vinha ao Porto para estar com a família e com os amigos, o que acontecia várias vezes por ano.

Em finais da década de 1990, o professor associado da Faculdade de Economia do Porto (FEP) decide renunciar a uma carreira promissora em Washington, nos Estados Unidos, onde trabalhava no Fundo Monetário Internacional (FMI), porque queria que os seus filhos nascessem e crescessem no Porto. Um ano depois de ter terminado a missão do FMI e já como quadro do Fundo Monetário Internacional, decide abordar a namorada, que conheceu na faculdade e que tinha ido viver com ele para Washington para fazer um MBA em gestão, e pergunta-lhe:” “Onde é que nós queremos estar daqui a 20 anos?” “No Porto!” “Não nos víamos a constituir família fora do Porto e é nesse momento que decidimos regressar. Eu voltei à Faculdade de Economia, já doutorado. Era professor de Política Económica”, conta ao PÚBLICO, declarando que “viver em Washington foi uma experiência fantástica”.

O inesperado convite que o PSD lhe dirigiu para se candidatar à presidência da câmara, em Outubro, foi como que um novo sobressalto na vida deste académico porque o entusiasmo com que se lança neste novo desafio dá-lhe a oportunidade de “construir a cidade com os portuenses”. “Quero um Porto autêntico para as famílias. Um Porto economicamente forte e diversificado. Um Porto que seja o farol do Norte”. Esta é a sua mensagem para a cidade.

Aos 52 anos, o independente Álvaro Almeida decide ter uma acção política porque entende que a sua cidade “podia ser melhor”. Crítico do modelo de gestão de Rui Moreira, fala de uma cidade que “não está virada para as famílias”. “Dediquei mais de uma década à causa pública no sector da saúde ao serviço do meu país e da minha região. Sinto que chegou o momento de colocar o meu conhecimento e a minha experiência de gestão pública ao serviço da minha cidade e dos portuenses”, escreve na carta que dirigiu por estes dias os cidadãos do Porto.

Nascido na freguesia da Sé, no centro histórico, Álvaro Fernando Santos Almeida considera-se um candidato pouco convencional. E assume-se mesmo como “um candidato fora da caixa”. “Não sou militante e não tenho um histórico de actividade partidária. Não tenho as características de um candidato”, diz.

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"Não sou militante e não tenho um histórico de actividade partidária. Não tenho as características de um candidato", diz Adriano Miranda

Enquanto estudante do ensino secundário não se destacou, embora fosse bom aluno, não porque estudasse muito, isso não, diz, mas por ser assíduo e atento nas aulas. Mas quando chega à universidade há um virar de página e revela-se um “excelente aluno”, abrindo portas uma carreira profissional que é elogiada por muitos. O antigo ministro da Economia, Daniel Bessa, realça a inteligência do seu antigo aluno, o seu carácter e a sua integridade pessoal. ”Admiro o seu percurso profissional, onde cabem experiências que eu próprio não tenho, nem nunca terei (e gostaria de ter). Espero que, na política, os seus adversários respeitem a pessoa e o profissional”, apela o ex-presidente da Assembleia Municipal do Porto, eleito na lista de Rui Moreira, que se demitiu do cargo três meses depois de ter sido empossado.

Professores famosos

Segundo Daniel Bessa, “Álvaro Almeida chega à política impelido pelos sentidos da responsabilidade e do dever. Sempre com opinião, e interveniente, ao longo dos cinquenta anos que leva de vida, viu chegado o momento em que considerou necessário algo mais: ser consequente, crescer em responsabilidade, ir a jogo, expor-se – sabendo rigorosamente ao que vai”.

Se é certo que a ida para o FMI aconteceu por acaso, a razão pela qual decidiu estudar Economia não foi casual. “Fui para Economia porque achei que era aquilo que gostava de fazer: auxiliar países em dificuldades, ajudando-os a melhorar a vida das pessoas”, revela, elogiando a importância da intervenção da instituição internacional em Portugal.

Oriundo do centro-direita, o professor associado na FEP, onde é director do Mestrado em Gestão e Economia de Serviços de Saúde, Álvaro Almeida não tem “medalhas” políticas, mas o seu percurso está carregado de distinções. Enquanto estudante recebeu o Prémio Fundação Eng. António de Almeida, concedido pela Universidade do Porto por ser considerado o melhor aluno de Economia em 1986/87. Os cargos públicos na área da saúde valeram-lhe a atribuição da Medalha de Serviços Distintos Grau Ouro do Ministério da Saúde pela prestação de serviços relevantes à saúde pública, por iniciativa de Paulo Macedo, antigo ministro da Saúde.

No ano em que conclui o curso (1987) com média de 16 valores, o agora candidato à Câmara do Porto inicia funções docentes na FEP, sendo professor associado do grupo de Economia da faculdade. Nesse mesmo ano torna-se economista no Departamento de Estudos e Planeamento (DEP) do Banco Português do Atlântico (BPA) e a partir de 1989 colabora com a Soserfin - Sociedade de Investimentos onde foi director até 1993 (na altura já convertida em Banco Português de Negócios). No DEP reencontra Fernando Freire de Sousa, actual presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte, que foi seu professor na faculdade, tal como Daniel Bessa e Augusto Santos Silva. Já o antigo ministro das Finanças de José Sócrates, Teixeira dos Santos, foi o seu orientador da tese de mestrado.

Pai de dois filhos e irmão do presidente da comissão executiva da operadora NOS, Miguel Almeida, com quem tem uma relação não muito próxima, candidatou-se na década de 90 a um lugar no FMI, onde foi economista no Policy Development and Review Department. Conta que o processo de recrutamento foi difícil e que as provas de selecção foram prestadas em Paris. O esforço compensa e acaba por ser escolhido de entre um grupo de jovens economistas do qual fazia parte o actual presidente do Banco Central Alemão, Jens Weidmann, de quem se tornou amigo. Record ainda que os dois costumavam encontrar-se ao fim-de-semana para procurar casa e comprar móveis para se instalarem em Washington e a estratégia passava por alugar um carro porque ficava mais barato.

No âmbito do FMI, participou em missões na Venezuela, México, Equador e na Arménia no quadro de monitorização de programas de financiamento.

Os “difíceis” cinco anos à frente da ERS

Ao currículo académico, somou cargos públicos na área da saúde: foi presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), entre 2005 e 2010, e em 2015 assumiu a liderança da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).

Os cinco anos à frente da ERS foram complicados. Na altura, diz, “havia muita pressão para acabar com a entidade reguladora” e uma permanente “intromissão por parte dos prestadores de cuidados de saúde em geral”. O convite para dirigir a ERS partiu do então ministro da Saúde, Correia de Campos, e quando o seu nome foi tornado público não faltou quem lhe perguntasse se ia presidir à “comissão liquidatária” da ERS, uma vez que “havia muita pressão para acabar” com a entidade reguladora.

Em Janeiro de 2015, Paulo Macedo, então ministro da Saúde, nomeia-o presidência da ARS-Norte, cargo que coloca à disposição de Adalberto Campos Fernandes, mas o ministro mantêm-mo. Porém, no início de 2016 demite-se por entender que não tinha condições políticas para permanecer no cargo.

O convite de Paulo Macedo para a ARS-N acontece numa altura em que o nome de Álvaro Almeida era apontado para ser candidato a director da Faculdade de Economia do Porto, onde é considerado um professor “competente, sério e rigoroso”.

Portista ferrenho, o candidato ao Porto é um apaixonado pelo futebol e assiste, com frequência aos jogos da sua equipa, o FCP, e também aos da selecção nacional. A forma efusiva com que assiste aos jogos contrasta com a imagem reservada e, aparentemente, distante que exibe. “O futebol é das poucas coisas que o modifica”, justifica um amigo, que o descreve como “um intelectual com uma grande dose de pragmatismo, que lê tudo até à vírgula”.

Álvaro Almeida, que é comentador no programa da Rádio Renascença Conversas Cruzadas, assume que tem “várias facetas” e admite que no futebol se porta como um qualquer outro adepto. Irrita-se, enerva-se e… zanga-se. “Tenho várias facetas”, assume, abrindo portas a um Álvaro Almeida “fora da caixa” durante a campanha das autárquicas.

O independente que vai a votos dentro de se seis meses é um desconhecido na política nacional. Mas a falta de notoriedade pública, que o próprio reconhece que tem, não lhe tolhe o entusiasmo com que se lança neste novo desafio.

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