À espera de um desafio de Kim, China acena com sanções drásticas

Teme-se que Kim Jong-un aproveite celebração nacional para responder a Trump e fazer novo ensaio nuclear ou balístico. Jornal chinês avisa que Pequim poderia aceitar restringir venda de petróleo ao país

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Pyongyang celebrou com pompa a abertura de uma nova avenida, na presença do próprio Kim-Jong un Damir Sagolj/Reuters

Sábado é o “dia do Sol” no calendário do regime norte-coreano, a data em que celebra o aniversário do nascimento de Kim Il-sung, o primeiro da dinastia Kim, e por toda a Ásia teme-se uma provocação de Pyongyang – um novo ensaio nuclear ou mais um teste na corrida para se dotar de um míssil de longo alcance. Seria a última de muitas, mas depois das ameaças nada veladas feitas pela Administração Trump, ainda encorajada pela retaliação militar contra a Síria, as declarações feitas em Tóquio, Seul ou Pequim denunciam alarme.

“A força militar não pode resolver esta questão”, repetiu o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, avisando – tanto Washington como Pyongyang – que “quem provocar a situação ou continuar a arranjar problemas nesta região, terá de assumir a responsabilidade histórica”.

Coincidindo com esta declaração, o 38 North, think-tank americano especializado na Coreia do Norte, divulgava imagens de satélite do complexo militar Punggye-ri, no noroeste do país, indicando que a actividade no local indicia que está tudo “pronto e preparado” para aquele que seria o sexto ensaio nuclear norte-coreano – o primeiro da era Trump. A Coreia do Sul assegurou não ter detectado “qualquer actividade fora do normal” na base norte-coreana, admitindo, no entanto, que Pyongyang aparenta estar preparado para realizar um novo teste nuclear a qualquer momento. E um jornal japonês noticiou também que o Pentágono enviou já para o país um avião a fim de detectar radiação libertada por um eventual ensaio.

Alguns observadores dizem que para o líder norte-coreano, Kim Jong-un, seria irresistível responder ao desafio do Presidente norte-americano – que no último fim-de-semana ordenou o envio de um porta-aviões para as águas próximas da península coreana. Isto porque, afirmam, está convencido de que Donald Trump não cumprirá a ameaça, várias vezes repetida nos últimos dias, de “agir sozinho” se a China, principal aliado de Pyongyang, nada fizer para travar o programa nuclear norte-coreano.

O 105.º aniversário do nascimento do seu avô seria o momento ideal para isso – em 2012, a data foi assinalada com o lançamento de um foguetão que tentou, sem sucesso, colocar um satélite em órbita; no ano passado foi testado um novo míssil de médio alcance. Desta vez, 200 jornalistas estrangeiros foram convidados a visitar Pyongyang e os rumores dispararam quando foram convocados para assistir a um “grande acontecimento” nesta quinta-feira – acabariam por descobrir que se tratava da abertura de uma nova avenida na capital, inaugurada com enorme pompa e na presença do próprio Kim Jong-un.

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A China não parece estar tão certa de que Trump estará a fazer bluff. “A península coreana nunca esteve tão perto de um confronto militar desde que o Norte realizou o seu primeiro teste nuclear”, admitia quarta-feira um editorial do Global Times, jornal ligado ao Partido Comunista Chinês (PCC), acrescentando que, no caso de um sexto ensaio nuclear, “a possibilidade de uma acção militar americana é mais elevada do que nunca”.

E o mesmo texto abria uma porta que Pequim até agora recusou franquear, sugerindo que o regime chinês, entre a pressão de Washington e o cansaço com a imprevisibilidade de Pyongyang, está disponível a aumentar a pressão sobre Kim Jong-un. “Se a Coreia do Norte fizer outra provocação este mês, a sociedade chinesa estará disposta a que o Conselho de Segurança da ONU adopte medidas restritivas de uma dureza nunca antes vista, tal como restringir as importações de petróleo” do país.

Trump, que falou quarta-feira ao telefone com Xi Jiping, dias depois de o ter recebido na Florida, disse “estar muito confiante de que a China vai lidar de forma apropriada com a Coreia do Norte” e elogiou Pequim por ter suspendido, já em Fevereiro, as importações de carvão norte-coreano, uma das principais fontes de rendimento do país.

Mas cortar o abastecimento de petróleo a Pyongyang seria um gesto muito mais dramático para Pequim, que é o fornecedor quase exclusivo do país. “A Coreia do Norte não se aguentaria sozinha nem três meses, o país iria paralisar”, disse à Reuters o economista sul-coreano Cho Bong-hyu, sublinhando que a China não arriscaria uma tal desestabilização do país aliado, mas poderia limitar o fornecimento ou suspendê-lo durante um período mais curto, como fez durante três dias em 2003, em resposta ao disparo de um míssil. “O objectivo de uma declaração deste tipo não é levar por diante a ameaça”, disse à mesma agência Stephan Gahhard, especialista em economia sul-coreana. “O objectivo é enviar um sinal credível que faça a liderança norte-coreana pensar duas vezes”.   

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