É um cantautor, é um explorador, é Ryley Walker (e nós ali, boca aberta de espanto)

O música norte-americano, autor em 2016 do extraordinário Golden Sings That Have Been Sung, regressa a Portugal para dois concertos. Esta quarta-feira na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Quinta-feira no GNRation, em Braga.

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Ryley Walker apresentará em Portugal o seu álbum mais recente, Golden Sings That Have Been Sung DR

Quem o ouviu em Primrose Green (2015) descobriu alguém que perseguia, livre, essa livre linguagem que foi, por exemplo, a de John Martyn nos anos 1970, quando a folk e o jazz se estreitaram num abraço quente. Quem o ouviu aí percebeu que aquilo que nele fervilhava ainda não se revelara totalmente – de Martyn a Tim Hardin, do obrigatório John Fahey ao Van Morrison de Astral Weeks, os heróis estavam ainda a pairar demasiado próximos. Mas a promessa, isso era notório, era imensa. Na noite desta quarta-feira, na Galeria Zé dos Bois, e na de quinta-feira no GNRation, em Braga, já não ouviremos a promessa. Ouviremos Ryley Walker, a certeza, o do Golden Sings That Have Been Sung, o guitarrista aventureiro e cantautor inspirado. Ryley Walker em dose dupla na ZDB, a partir das 22h (bilhetes a oito euros). Ryley Walker subindo a Norte, ao GNRation, na quinta, às 22h30 (sete euros).

Quem o ouviu depois de Primrose Green, quem o ouviu em Land of Plenty, álbum instrumental gravado com Bill Mackay, ou, principalmente, no Golden Sings That Have Been Sung que apresentará na sala lisboeta, compreendeu o que mudou. Quando, no último Verão, o vimos subir a palco acompanhado do baterista Gabriel Ferrandini, nome indispensável no cenário jazz português de vistas amplas (e além dele), para actuar sem rede no palco principal do festival de Paredes de Coura, a boca a abriu-se de espanto. Escrevemos então: “Acompanhado por um baixista norueguês [Julius Lind] e por Gabriel Ferrandini – um ensaio prévio e vamos a isto –, Riley Walker transformou canções de Primrose Green, o álbum que o revelou, e do recentíssimo Golden Sings That Have Been Sung em ponto de partida para viagens instrumentais que se elevavam em dimensões cósmicas, bateria em rodopio, guitarra espiralando em volta do ritmo, antes de aterrarem novamente no alpendre com vista para a planície que sugere esta música onde convivem, à uma, John Martyn, o Tim Hardin dos desvios jazz, Alice Coltrane ou Ben Chasny."

Na primeira parte do concerto na ZDB, iremos ouvi-lo novamente sem rede. Improvisação total com Ferrandini, novamente, com o saxofonista Pedro Sousa, e o seu baterista de digressão, Ryan Jewell. Na segunda, acompanhado de Jewell e de Julius Lind, vamos ouvi-lo a viajar no som que faz Golden Sings That Have Been Sung, passando por canções como a do tocante trovadorismo folk de I will ask twice ou a do aventureirismo delicado de The roundabout. Iremos ver como a influência do experimentalismo sem fronteiras da Chicago em que cresceu nos anos 1990, quando ali reinavam os Tortoise ou os Gastr Del Sol, transborda para um mesmo prazer na descoberta. Onde nos poderão levar estas canções? E que faremos com este som? Ryley Walker tem por hábito perguntar e tratar de logo encontrar resposta. E nós ali, boca aberta de espanto, deliciados. Habitualmente é assim. Investiguemos se assim será nestas duas noites que se anunciam.

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