Maduro quer apressar eleições regionais para "dar porrada" na oposição

Votação já deveria ter acontecido em Dezembro de 2016, mas foi adiada por decisão do conselho eleitoral, que acaba de inabilitar a candidatura do principal rival do Presidente.

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Presidente Nicolás Maduro foi a Cuba denunciar golpe de Estado da oposição Reuters/STRINGER

Com a oposição na rua contra todas as frentes do chavismo, e a polícia apetrechada com canhões de água e gás lacrimogéneo para reprimir os protestos, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu a convocação urgente das eleições regionais e municipais. Espera que lhe sirvam para afastar os principais críticos das estruturas do poder. “Estou ansioso que se convoque a votação, para darmos uma porrada nessa gente”, disse no seu programa televisivo semanal.

As eleições regionais, que já deveriam ter sido organizadas no ano passado, não são as que a coligação de partidos de oposição, reunidos na plataforma Mesa de Unidade Democrata (MUD), reclama há meses. Ao longo de 2016, milhões de assinaturas foram recolhidas, em várias etapas, para que pudesse avançar um referendo para a revogação do mandato do Presidente, que as autoridades eleitorais acabaram por inviabilizar.

O Conselho Nacional Eleitoral também decidiu adiar as eleições regionais de Dezembro de 2016 para uma data posterior, que nunca foi anunciada. Também nunca foi dada uma justificação para o adiamento: os comentadores políticos diziam que perante a enorme impopularidade do Presidente, o regime não queria arriscar uma derrota nas urnas.

A conjuntura continua desfavorável para Maduro e o seu partido, que actualmente controla 20 dos 24 governos estaduais. No entanto, o conselho eleitoral decidiu reavaliar os registos dos candidatos às eleições regionais e locais, e no final da semana passada ateou mais gasolina para a fogueira ao declarar a inabilitação de Henrique Capriles, o governador do estado de Miranda (e principal rival presidencial de Maduro), para qualquer cargo público durante um período de 15 anos. A decisão, prontamente denunciada como uma supressão dos direitos políticos da oposição, fez escalar os protestos de rua contra o chavismo.

A mobilização anti-Maduro mantém-se em alta: na segunda-feira, antes da grande acção planeada pela MUD para depois da Páscoa – “a mãe de todas as manifestações”, esperam os organizadores, que se realiza a 19 de Abril ­– a oposição fez nova prova de força, naquela que foi a quinta concentração no espapaço de dez dias. “Continuamos na luta contra as medidas deste Governo contra a Constituição e a democracia”, declarou o deputado do partido Vontade Popular, Juan Mejía. Os manifestantes cortaram temporariamente a circulação na principal auto-estrada que cruza a capital, e montaram outras barricadas queimando pneus e caixotes do lixo em vários pontos da cidade.

O protesto motivou a reacção mais dura até agora das forças do regime, que dispararam gás lacrimogéneo sobre a multidão a partir de helicópteros. Uma mulher de 80 anos morreu em casa por efeitos dos gases, e um bebé de um mês teve de ser retirado de urgência de um hospital atingido, com sintomas de asfixia. Segundo a Associated Press, o sistema de ar condicionado do hospital Las Mercedes teve de ser desligado para evitar a inalação do gás pelos doentes e o corpo clínico.

O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, exigiu esta terça-feira a abertura de uma investigação às acções que considerou “muito suspeitas” dos dirigentes da coligação opositora – que comparou com as manobras, realizadas em 2002, contra o então líder Hugo Chávez. As declarações de Cabello surgiram no dia em que se assinalava mais um aniversário do fracassado golpe de Estado: “Um guião violento que a oposição está a tentar reeditar, usando a sua gente como carne para canhão. São as mesmas personagens, gente sem escrúpulos”, acusou.

A partir de Cuba, onde assistiu ao encerramento da reunião do conselho político da Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA), Maduro denunciou um golpe de Estado dos partidos de oposição e da “direita oligárquica subordinada aos interesses dos Estados Unidos” para justificar a repressão contra os manifestantes em Caracas. Segundo o Presidente, o Governo está debaixo de ataque de “novas correntes extremistas”, apoiadas a partir de Washington pela Casa Branca e a Organização de Estados Americanos (OEA). Mas, garantiu, as forças governamentais já circunscreveram os “grupos violentos” a um único município de Caracas. “Serão derrotados pela nossa união cívico-militar”, prometeu,

Com Cuba à cabeça, os onze países do Caribe e América Latina que constituem o bloco ALBA rejeitaram “as agressões e manipulações concertadas” destinadas a desestabilizar a Venezuela, e censuraram particularmente o “comportamento intervencionista, ilegal e pró-imperialista” do secretário-geral da OEA, Luis Almagro – que Nicolás Maduro acusa de ser um fantoche dos Estados Unidos.

Depois de mais uma reunião em Washington com a crise venezuelana na agenda, Almagro voltou a defender a realização de eleições, sublinhando que o país “precisa de um Governo legítimo”. “Praticamente cada artigo da Carta Democrática Interamericana foi afectado pela situação na Venezuela e pela gestão política do Governo de Maduro”, afirmou, referindo-se à grave crise económica e humanitária, mas também às prisões políticas, repressão de manifestantes e desrespeito dos princípios de independência e separação dos poderes.

 

 

 

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