O álbum dos Gorillaz não é sobre Trump, é sobre o mundo em que Trump é possível

Damon Albarn disse aos músicos que iriam fazer um "álbum festivo sobre o mundo ter ensandecido". Humanz é editado a 28 de Abril.

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Damon Albarn está a trabalhar em 40 a 45 canções que sobraram das gravações de Humanz Enric Vives-Rubio

Não é um manifesto sobre Donald Trump, como foi defendido assim que o primeiro vídeo, o de Hallelujah money, foi divulgado antecipadamente para coincidir com a tomada de posse do novo presidente americano. É uma reflexão sobre “um mundo em que ele pôde ser eleito”, explicaram os fundadores dos Gorillaz, Damon Albarn e Jamie Hewlett, em entrevista à Q. Não é explicitamente sobre Trump, mas Trump, de uma forma ou de outra, é presença constante em Humanz, o álbum que os Gorillaz editarão a 28 de Abril. Para definir o tom das gravações, Albarn pediu aos músicos que imaginassem estar nos Estados Unidos após a tomada de posse de Trump, deparando-se depois com o pior cenário possível: “Como se sentiriam nessa noite? Vamos fazer um álbum festivo sobre o mundo ter ensandecido”.

O primeiro álbum dos Gorillaz desde The Fall, editado em 2011, conta como habitualmente com vários colaboradores, como Benjamin Clementine, que canta em Hallelujah money, Grace Jones, De La Soul, Carly Simon, Noel Gallagher ou Mavis Staples. É um álbum, define Albarn na entrevista supracitada, fundado em “dor, alegria e urgência”.

Humanz surge depois de um período de afastamento entre Albarn e Hewlett, que criaram a banda representada por personagens virtuais em 1998. Após dez anos de intensa colaboração contínua, explicaram, a saturação deu lugar ao conflito. Hewlett afastou-se e mudou-se para Paris, Damon Albarn ficou a ruminar no que correu mal entre os dois. “Vivemos um em cima do outro durante dez anos”, explicou Hewlett, designer e autor da BD Tank Girl, o responsável por toda a arte gráfica dos Gorillaz. “O Damon é um artista. É um dos poucos artistas verdadeiros que conheço, mas isso significa que pode ser um pouco louco e um pouco difícil e o mesmo se passa comigo”, disse. Ultrapassados os problemas entre os dois, a faúlha criativa acendeu-se novamente – e de que maneira.

Em entrevista recente à BBC, Damon Albarn revelou que de todo o processo de gravação sobraram 40 a 45 canções não incluídas em Humanz, em que o também vocalista dos Blur trabalha neste momento. Além disso, os Gorillaz estão ocupados na organização do seu próprio festival, o Demon Dayz, que acontecerá em Junho, em Margate, no Kent, e que a banda planeia levar também para Chicago.

Paralelamente, Hewlett trabalha numa série televisiva de dez episódios centrada nos Gorillaz. E Damon Albarn revelou que, no meio de tudo isto, ainda encontra espaço para começar a dar os primeiros passos num novo álbum dos The Good, The Bad & The Queen, o grupo que mantém com o baterista Tony Allen, com Paul Simonon, ex-baixista dos Clash, e Simon Tong, dos Verve e, durante um período, dos Blur. “Como é óbvio, o Brexit deu-nos um maravilhoso ponto de partida”, comentou Albarn sobre o álbum em gestação.

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