Aliados de Assad ameaçam responder, se EUA atacarem de novo

Rússia, Irão e Hezbollah dizem que Washington ultrapassou "linha vermelha". EUA repetem que não vêem futuro para o país com Assad.

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Assad e Putin em 2015: os aliados do regime avisam os Estados Unidos contra mais acções no país Reuters

Aliados do regime sírio de Bashar al-Assad acusaram neste domingo os Estados Unidos de “agressão” contra a Síria e de ter “ultrapassado uma linha vermelha” com o ataque de sexta-feira a uma base aérea em Homs.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, ordenou o bombardeamento depois de ter acusado o regime sírio de ter passado "vários limites" no ataque com armas químicas numa localidade localidade da província de Idlib, que provocou pelo menos 84 mortos. 

Agora são os principais aliados de Assad – Rússia e Irão e a milícia xiita libanesa Hezbollah – que ameaçam responder, se os Estados Unidos voltarem atacar de modo que classificam como “ilegal”. Prometem também “redobrar” o apoio ao Exército sírio na sequência do ataque norte-americano – os EUA estão envolvidos em ataques contra o Daesh na Síria (assim como no Iraque), mas o bombardeamento de sexta-feira foi a primeira vez, em seis anos de guerra, que atingiram o regime de Assad.

Os norte-americanos já disseram que se tratou de um aviso de que não tolerariam o uso de armas químicas, mas que esperavam não ser necessário repeti-lo.

O ataque marcou uma viragem na posição dos EUA na Síria, embora não seja ainda claro se haverá mais consequências. A embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, confirmou este domingo que retirar o líder do regime sírio, Bashar al-Assad, do poder, era uma entre várias prioridades dos EUA no país – ainda há dez dias tinha afirmado o contrário.

“[Em primeiro lugar,] o que estamos a tentar fazer é obviamente derrotar o Daesh”, disse Haley. “Em segundo lugar, não vemos que seja possível uma Síria em paz com Assad no poder. Terceiro, queremos retirar a influência iraniana. E, finalmente, ir em direcção a uma solução política”, declarou, numa entrevista à CNN. Mas, repetiu, sem o actual Presidente: “Se virem as suas acções, será difícil um governo estável e em paz com Assad.”

O ministro da Defesa britânico, Michael Fallon, escreveu também um artigo no jornal Sunday Times, acusando a Rússia de ser cúmplice do ataque. “Os russos têm influência na região. Este último crime de guerra aconteceu sob a sua presença. Nos últimos anos, tiveram muitas oportunidades para parar a guerra civil”, escreveu. “A Rússia é responsável, por procuração, por cada uma das mortes civis da semana passada.”

Na véspera, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, cancelou, pela segunda vez, uma visita à Rússia, enquanto o seu homólogo americano, Rex Tillerson, a manteve na sequência do ataque. 

Por seu lado, Moqtada al-Sadr, o líder religioso xiita iraquiano, declarou que Assad deveria “tomar a decisão histórica e heróica de se afastar”. Foi primeira vez que um responsável xiita pediu o afastamento de Bashar al-Assad; Sadr é, no entanto, uma excepção entre os xiitas iraquianos pela sua distância em relação ao Irão, apoiante do regime de Damasco. E Sadr não deixou de lançar uma forte crítica ao ataque dos EUA, que apenas “faz alastrar a guerra” na região.

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