ETA afirma-se “organização desarmada” após entrega de arsenais em França

O grupo cumpriu a promessa e entregou à Comissão de Verificação as últimas localizações de “ninhos” de armas em França. Um “momento histórico” sem a presença de autoridades espanholas ou francesas.

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O presidente da Câmara de Bayona (França) no acto privado que consuma a entrega dos arsenais da ETA Reuters/VINCENT WEST

A ETA cumpriu a promessa feita a 17 de Março e entregou, neste sábado, em França, informações sobre a localização dos arsenais, que ainda tinha escondidos neste país, à Comissão Internacional de Verificação (CIV) constituída em 2011 após o fim das actividades terroristas daquele grupo no País Basco, Espanha.

Foi um “momento histórico”, considerou o porta-voz da CIV, Ram Manikkalingam, numa conferência de imprensa em Baiona (Sudoeste de França), onde confirmou ter recebido dos mediadores civis – os autoproclamados “artesãos da paz” – a informação sobre os arsenais, que transmitiu às autoridades francesas. Manikkalingam não adiantou que armas e munições a ETA entregou, dizendo apenas tratar-se de uma dezena de locais identificados, segundo conta o Diario Vasco.

Fontes da luta antiterrorista já tinham indicado no início do dia que a ETA tinha entregado à polícia francesa as referências de geolocalização de depósitos secretos de armas que estão todos situados no departamento 64 de França, nos Pirenéus Atlânticos.

Ainda que os verificadores internacionais assumam a existência de alguns “ninhos” perdidos que podem ser identificados nos próximos dias, o porta-voz da CIV garante que o desarmamento da ETA é “total, completo, verificável e sem contrapartidas”. O arsenal agora entregue será, segundo o Diario Vasco, oito vezes superior ao encontrado a 16 de Dezembro em Luhuso, também nos Pirenéus Atlânticos, onde foram encontrados 100 quilos de explosivos, meia centena de armas e outro material.

De acordo com o Diario Vasco, de San Sebastian, e o diário de Madrid El Pais, os mediadores escolhidos pela ETA entregaram a geolocalização dos locais num acto privado realizado na câmara de Baiona, França, em que participaram o arcebispo católico da arquidiocese de Bolonha Mateo Zupi, o reverendo protestante Harold Good, que foi um dos supervisores do processo de desarmamento do IRA (Irlanda do Norte) e de Jean Noel Etcheverry, um dos "artesãos da paz", além do presidente da câmara local.

Um comunicado da ETA difundido pela BBC na madrugada de sexta-feira, em que o grupo terrorista se definia como “organização desarmada”, tinha posto em marcha o último capítulo do desarmamento, ao oficializar a entrega de todo o arsenal à CIV.

A ETA tinha anunciado, a 17 de Março, que até este sábado 8 de Abril iria cumprir o seu “desarmamento unilateral e incondicional”, mas as três semanas de intervalo não foram isentas de tensões, conta o Diario Vasco, dadas as condições colocadas pelos “artesãos da paz” e pelas autoridades francesas. Mas tudo correu bem. Um grupo de voluntários civis testemunhou a entrega dos esconderijos sem interferir com o trabalho da polícia e as autoridades garantiram que não haveria qualquer consequência penal para os cidadãos implicados no processo, nem para os donos das casas onde fosse encontrado armamento.

Segundo o El Pais, grande parte das suas armas foram encontradas pelas forças de segurança ao longo destes últimos cinco anos após o fim das actividades terroristas do grupo, enquanto outra parte estará deteriorada pelo tempo.

A comissão de Fiscalização da Audiência Nacional de Madrid pretende agora investigar o arsenal entregue em França, pois o Ministério Público quer averiguar se essas armas foram usadas nos mais de 300 assassinatos ainda por resolver.

Mediadores contabilizam armas

Os autodenominados “mediadores” do desarmamento da ETA afirmaram entretanto ter entregue as “coordenadas de oito lugares” onde se encontram 120 armas de fogo, três toneladas de explosivos e vários milhares de munições e detonadores.

Os “mediadores” deram essas localizações ao Comité Internacional de Verificação (CIV), segundo informaram Mixel Behorcoirigoin e Michel Tubiana numa conferência de imprensa citada pela agência EFE.

Tubiana indicou que “não se limitaram a levar a cabo esse procedimento”, mas também enviaram a 172 “observadores” aos lugares onde estão os depósitos da ETA para “comprovar que são as autoridades francesas que irão tomar posse” dos arsenais.

O ministro francês da Administração Interna, Matthias Fekl, considerou também este sábado, em declarações à imprensa em Paris, que a entrega “unilateral” da localização de oito depósitos de armas por parte da ETA é “um grande passo”.

O responsável governamental francês revelou que elementos das forças de segurança francesas, seguindo a orientação da Justiça, trabalham desde as 9h (8h de Lisboa) nessas oito localizações na região dos Pirenéus Atlânticos.

A ETA, que lutou durante décadas pela independência do País Basco (Espanha), anunciou a 20 de Outubro de 2011 o fim definitivo das suas acções violentas, com as quais se estima tenha morto nos últimos 50 anos cerca de 850 pessoas. O desarmamento do grupo esteve paralisado durante algum tempo porque os Governos espanhol e francês recusavam participar no mesmo.

Notícia actualizada às 11h50, acrescentando informações da Agência EFE

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