Em Lisboa há quem faça rappel para roubar os ovos de ave protegida

Numa zona que consideravam segura, um casal de falcões-peregrinos fez o seu ninho. Ano após ano, o tráfico leva-lhes os ovos. Recentemente, uma dessas tentativas saiu gorada.

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O falcão-peregrino (Falco peregrinus) “não está em bom estado de conservação” em Portugal Victor Fraile/Reuters

Estavam equipados com cordas, arneses, mosquetões, lanternas, capacete. Todo o equipamento para fazer rappel por uma parede de 50 metros de altura, no Areeiro, em Lisboa, e roubar os ovos de um ninho de falcão-peregrino (Falco peregrinus), uma espécie protegida. Quatro homens foram apanhados em flagrante e detidos pelas autoridades. O episódio aconteceu no passado dia 22, resultado de uma detenção conjunta entre a Brigada de Protecção Ambiental da PSP de Lisboa e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Os suspeitos, com idades entre os 35 e os 51 anos, foram detidos por danos contra a natureza antes de conseguirem chegar ao aeroporto. Para além do roubo, incorrem numa acusação por “destruição de exemplares de espécies protegidas de fauna”, uma vez que um dos ovos se partiu.

Se os suspeitos tivessem seguido viagem como planeavam, para o Brasil, “muito provavelmente perder-se-ia o rasto dos ovos”, acredita João Loureiro, coordenador da unidade de comércio e detenção de espécies ameaçadas de extinção (CITES) do ICNF. O destino dado aos ovos era “certamente o tráfico ilegal”, um “negócio milionário” em países da América do Sul e África.

O valor dos ovos desta espécie, que actualmente “não está em bom estado de conservação” no país, pode chegar aos seis mil euros. Em Portugal, é considerada “uma espécie vulnerável”.

Enquanto dois dos detidos desciam a parede de betão armado, os restantes apoiavam-nos e vigiavam o local. Quando foram abordados pelas autoridades, já tinham na sua posse três ovos. À excepção do ovo que tinha “sido irremediavelmente danificado”, os ovos foram entregues à equipa no ICNG que os voltou a colocar no ninho.

Nunca antes alguém tinha sido apanhado em flagrante, mas as autoridades sabem que o ninho já tinha sido pilhado em anos anteriores. Fonte da PSP nota que o Areeiro não é uma zona de particular predominância desta espécie. O CITES tem aí referenciado apenas “dois ou três casais de falcão-peregrino”.

A existência de alimento é uma das questões mais preponderantes na hora destes animais escolherem o local onde fazer o ninho. A disponibilidade alimentar nesta zona da cidade “é evidente”, diz João Loureiro. “Estes animais consideraram-se seguros e fizeram o seu ninho”, afirma.

Nas buscas feitas à casa de um dos detidos foram encontrados cinco espécimes de falcão-peregrino. As autoridades têm “suspeitas quanto à sua proveniência e legalização”. De acordo com o coordenador do CITES, estas aves de rapina podem valer de 20 a 70 mil num país árabe, onde a espécie é particularmente popular.

Os detidos foram presentes na Instância Local – Secção de Pequena Criminalidade do Ministério Público de Lisboa, tendo sido aplicada a medida de Suspensão Provisória do Processo – processo ficou suspenso por um determinado período mediante pagamento de uma injunção.

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