As histórias das mulheres na clandestinidade vão ser contadas até Maio

Durante dois meses, o site Esquerda.net vai contar a vida das portuguesas que, durante a ditadura, viveram na clandestinidade.

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Daniel Rocha
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Mariana Carneiro, editora do site Esquerda.net, tinha em casa uma história de clandestinidade. Na verdade, tinha várias, a da mãe, a da tia e a da avó. No entanto, esta não foi a única razão por que decidiu dar voz às mulheres que, durante os anos de Salazar, lutaram contra o regime e entraram na clandestinidade.

"A ideia foi contar o lado feminino da luta contra o fascismo. Achei que era preciso – como dizia a historiadora feminista Fina d'Armada – colocar os quotidianos na História e quem melhor do que as mulheres para o fazerem", diz Mariana Carneiro ao PÚBLICO.

O primeiro testemunho, publicado neste domingo no site Esquerda.net, um meio de comunicação do Bloco de Esquerda, é o da mãe. Esta terça-feira será o da médica Isabel do Carmo, e na quinta-feira é a vez da blogger Joana Lopes. Todas as semanas, de Abril a Maio, sairão três testemunhos. E tanto podem ser mulheres mais comprometidas politicamente, com consciência política, como outras mais anónimas, continua Mariana Carneiro.

"Há muitas histórias desconhecidas, e a ideia é contar a história da resistência antifascista no feminino", informa a socióloga, lembrando que os rostos masculinos já são conhecidos. "É importante ter o conhecimento dos acontecimentos históricos da forma como as pessoas o viveram, porque estas mulheres não saíram formatadas para serem revolucionárias", acrescenta.

O primeiro testemunho é o da mãe, Maria da Graça Marques Pinto, que teve a primeira filha na clandestinidade. Uma parte dos testemunhos é escrita pelas próprias mulheres, na primeira pessoa, mas também há outros que resultam de entrevistas. É nessas conversas que Mariana Carneiro descobre outras mulheres sobre as quais quer saber mais. Mas também há situações em que é complicado descobrir porque são conhecidas pelos seus nomes falsos, os da clandestinidade.

As mulheres podem ser de várias gerações e de vários quadrantes políticos. Tem sido mais difícil encontrar mulheres mais velhas – "mas tenho uma de 92 anos", diz. Por exemplo, Mariana Carneiro falou com uma antiga operária da indústria conserveira que não tinha propriamente consciência política, mas que lutava contra a "opressão e os abusos do patronato".

Estas histórias, concluída a sua publicação, podem dar origem a um livro? Mariana Carneiro não põe a ideia de parte, mas só a concretizará se as mulheres que derem o seu testemunho concordarem e se houver alguma editora interessada. Este projecto pretende "dar voz a quem não aparece nos livros de História. São experiências que humanizam a luta contra a ditadura", termina

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