Da natureza da felicidade

A felicidade é algo que se quer encontrar a si mesma, é uma energia tal como um íman, ou seja, se há felicidade, esta irá atrair para si algo do mesmo pólo, que é mais felicidade

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Luca Upper/Unsplash

O que é a felicidade? Simples: um bem-estar profundo, enraizado no sentimento de esperança e harmonia, de completa ausência de ansiedade, discórdia, guerras; no fundo, um belo sol interno que brilha indefinidamente, sem nuvens a tapá-lo, sem que haja qualquer coisa a interrompê-lo de dar a si próprio a felicidade.

Mas, espera, espera! A felicidade gera felicidade? Exactamente! A felicidade é algo que se quer encontrar a si mesma, é uma energia tal como um íman, ou seja, se há felicidade, esta irá atrair para si algo do mesmo pólo, que é mais felicidade. Para ser-se feliz é necessário que a felicidade exista. A felicidade só pode existir onde há felicidade. É como que pedir para que haja sol num dia de chuva – não se vê o sol, mas ele está por detrás das nuvens de chuva.

Ou seja, a felicidade existe na infelicidade? Sim! A infelicidade não passa de felicidade mascarada, de um mero engodo, pois tudo é felicidade. Se uma pessoa não sabe que é feliz, basta pensar que é infeliz; pois ao realizar-se do que faz uma pessoa infeliz, apercebe-se também do que faz essa mesma pessoa feliz. A felicidade nasce da infelicidade, que no fundo é felicidade «no pólo oposto». A natureza distinta de «pólos opostos» não existe! Todos os pólos são os mesmos pólos. Se eu decidir viajar pelo mundo na direcção Oeste, sem parar, irei regressar na direcção Este (em relação ao ponto de partida); e portando, as diferenças entre Oeste e Este não existem. Quando uma pessoa se apercebe que não é feliz, depara-se com a existência de um vazio, e para esse vazio, para essa mesma escuridão e abismo negro, a pessoa projecta o que quer completar para que seja feliz – é nesse momento que nasce a hipótese de ser feliz.

A hipótese de ser feliz é o que gera felicidade? As pessoas irradiam mais com a hipótese de serem felizes do que com a própria felicidade – regra geral da condição humana. A hipótese, a mera brecha que conduz ao arco-íris que brilha no céu é mil vezes mais satisfatória do que a oportunidade sequer de ver o arco-íris. A felicidade constrói-se no momento em que as pessoas percebem que gostariam de ver esse arco-íris (o que gera felicidade), gerando então mais felicidade. Assim são as pessoas. A felicidade é tão aguardada na chance, como se um dado se tratasse. Podemos passar toda a vida a idealizar que calhe cinco, e mesmo que nunca saía cinco permanecemos felizes.

Isso parece conversa de frustrado que nunca atingiu os seus objectivos. E se quisermos realmente atingir a felicidade? Nesse caso há que vencer os inimigos da felicidade: a dúvida e o medo. A dúvida surge pois o mundo onde vivemos foca-se no ambíguo. No cinzento. Naquilo que ainda não é certo. Isso assusta as pessoas e da dúvida nasce o medo. O medo – esse grande inimigo da alma e coração – faz com que as pessoas se retenham de agir antes sequer de tentarem. O mundo de hoje tem a sua base no que pode dar para o errado, não há nenhum «passo de fé» em direcção ao destino que se anseia atingir, aos patamares do céu e paraíso que se aspira. As pessoas, se querem atingir a sua verdadeira felicidade, têm que ultrapassar em primeiro lugar os seus medos. Falar parece fácil, mas na realidade tudo no Universo indica que vai dar para o melhor. Tudo no Universo roda no sentido das coisas melhorar, roda no sentido de que o cinzento se torne na cor que pretendemos. Tudo no Universo está a melhorar-se a si próprio; a tarefa dos seres humanos é usar a «onda da sorte» para o momento em que querem que as coisas melhorem e avançar no mar do medo pelo barco da esperança.

Então, porque existem pessoas infelizes? A infelicidade nessas pessoas é ditada pelo desconforto perante o real. No momento em que se habituam que o que querem é o que já têm, a infelicidade desaparece. Ou seja, um homem torna-se feliz exactamente quando quiser! A infelicidade gera-se, nesse aspecto, pelo facto de que a pessoa está a desviar os olhos do momento para um futuro longínquo e focam-se neste com tal intensidade que não se apercebe que o que querem é o que já têm. No momento em que isso acontece, as pessoas tornam-se as mais felizes do mundo, pois apercebem-se que o amanhã é hoje e que podem conquistar o que quiserem desde que mantenham os olhos situados no presente. O futuro é sempre alvo de descontentamento. O agora é o único momento que interessa.

E quanto à natureza da felicidade? Esta dura para sempre? A felicidade, acima de tudo é um estado, um sentimento, que deve ser experimentado e nunca racionalizado. Tentar racionalizar a felicidade é impossível, pois esta apenas existe como um conceito abstracto. As pessoas têm que ter noção dos seus limites, dos seus eus, dos seus complexos, bem como das suas capacidades, direitos, e afins… E ter absolutamente claro, na sua mente, o que querem para serem felizes. Assim irão atrair a brecha que permite ver o arco-íris, a sua possível felicidade. Assim que a atingirem, e se conseguirem, ao usar o barco da esperança, chegar ao fim do arco-íris, terão que sentir com toda a força o que lá estava. No momento em que uma pessoa se apercebe que é feliz, deixa de o ser, pelo que, tem-se que ter a felicidade como um sentimento indefinível, um estado emocional que não se pode transmitir para o papel. Senti-la com todas as forças. Mas quanto à natureza da felicidade, se for verdadeira felicidade então esta não desaparece tão cedo. O problema é que as pessoas focam-se na falsa felicidade, naquilo que lhes aparenta dar um mínimo prazer, quando na realidade não lhes dá prazer nenhum. Por outro lado, a felicidade, mesmo que verdadeira, não é eterna, porque toda a gente perdeu uma ideia sagrada, uma ideia que corrompe a ideia que cada ser humano tem da vida. A ideia sagrada que perdemos é a ideia de amor eterno, levando à falsa ideia que estamos todos abandonados e que todos nós estamos sozinhos, deixados ao nosso mero destino. Tendes ter muito que sofrer, isso é verdade, que a felicidade é esse sofrimento transformado; catalisado pela enzima da esperança. Mas a vida, regida pela rainha Hécuba, tem os seus altos e baixos. Os seus movimentos de avanços e retrocessos. O que importa é que não se deve nunca remar contra a maré, mas sempre a favor dela, mesmo que leve a condições difíceis. Pois será dessas mesmas condições que as pessoas se erguem das cinzas — como se de uma Fénix se tratasse.

Qual é o caminho para a felicidade? O único caminho para a felicidade é a própria felicidade. Todos os sofrimentos, todos os males, todas as desgraças, todos os infortúnios, tudo, tudo, tudo isso tem como objecto a felicidade. É possível sentir-se prazer nesses momentos, sendo este um prazer duradouro – o prazer do sofrimento. O prazer do sofrimento, como já foi dito acima, não passa de uma ideia que corresponde à felicidade mascarada e que o que é mau é na realidade bom, o que é adverso é na realidade algo que nos leva a subir mais alto! Na vida toda a gente tem que experimentar por esses malefícios, pois sem o sofrimento não se poderia sentir prazer, e sem o prazer, não seria possível alcançar a felicidade. Por isso, vós que sofrerdes, aguentai-vos pois a bênção da felicidade será em breve incumbida na vossa vida. Basta um minuto, um mero minuto do acaso determinado pelo destino, que pode mudar a vida de alguém. Mesmo nos abismos da depressão, nos âmagos do desespero, da agonia de viver há sempre uma saída desse sofrimento! O que importa é acreditar que a porta se abrirá, que tudo se transformará, que tudo se catalisará, e dessa tempestade de tumulto, desse reino sombrio que envolve a escuridão, os relâmpagos, a chuva, o granizo, a pedra, tudo isso reagirá com o sol que (atenção, já, e repito, já brilha por detrás) e se dissipará num brilhante arco-íris.

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