Um mapa para encontrar a arte em cada bairro. E um obrigado a quem cuida dele

Colocar num mapa quem faz cultura em Lisboa é, neste projecto, uma forma de libertação. O projecto "Modo portátil: Cidadania em Acção" quer dar ferramentas para que artistas, promotores e moradores se conheçam e trabalhem em conjunto.

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Nelson Garrido

No seu bairro, há uma pessoa que se oferece para passear o cão ou regar as plantas quando está fora. Que lhe vigia os filhos no parque. Que cuida dos doentes, que olha pelas crianças. Como a D. Elvira que Mayra Andrade conheceu. Não há-de haver sempre uma D. Elvira em cada bairro, quantas vezes em cada rua? “Há sempre herói ou heroína anónimo a quem a comunidade não agradece”. Está na hora de o fazer, diz Carlos Martins.

Carlos é o director artístico da Sons da Lusofonia, uma associação cultural que, em parceria com o pelouro dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, lançou esta quarta-feira o projecto “Modo portátil: Cidadania em Acção” que “dá instrumentos” à comunidade para trabalhar a arte em conjunto e agradecer a pessoas como Elvira. Como? Estabelecendo o contactos entre associações, projectos culturais isolados, juntas de freguesia e outras instituições para que criem projectos entre si. O dos agradecimentos é uma ideia matutada por Mayra Andrade, cantora cabo-verdiana e agente (como quem diz, madrinha) do projecto.

“Queremos que uma pessoa como essa tenha a oportunidade de ter uma Mayra Andrade, um Carlos Martins, um Jacinto Lucas Pires ou alguém que lhe faça uma homenagem, um agradecimento”, explica Carlos Martins, também saxofonista, compositor e professor de Jazz.

A criação destas redes de proximidade, em que vários actores sociais e culturais de uma comunidade trabalham em conjunto, é o momento mais ambicioso do projecto. Num primeiro momento, pretende-se apenas de se conheçam uns aos outros. Para isso, estão a ser identificados num mapa digital os actores culturais “que realmente fazem coisas”. O mapa estará em breve disponível no site do projecto, a ser trabalhado por Ana Teresa Ascensão e António Brito Guterres, da Fundação Aga Khan.

Nesta primeira fase, o projecto vai mapear cinco zonas de Lisboa: eixo da Avenida Almirante Reis, Marvila, Lumiar, São Domingos de Benfica e Alcântara/Ajuda. Os mapas vão incluir todos os projectos criativos que “possam estimular a participação da comunidade em todos os aspectos da cidadania”. A intenção é, depois, estender a outras áreas da cidade.

O projecto assenta na premissa de que se podem (e devem) podem partilhar ideias e necessidades entre os residentes de determinada zona da cidade e na cidade como um todo. “Com uma visão mais livre da cidade podemos ser mais ambiciosos” em projectos futuros, frisou o vereador dos Direitos Sociais, João Afonso.

Carlos Martins não pôde deixar de notar que, durante os dois meses de trabalho que o projecto leva, em Alcântara e no Lumiar “as pessoas não se conhecem, mas os seus projectos são muito parecidos”. Para o músico, este projecto é um exercício de liberdade, por “dar ferramentas às pessoas para que se possam juntar”.

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