Em cada dez gravidezes afectadas pelo Zika nasce um bebé com malformações

Equipa de cientistas alerta que os números podem ser maiores, uma vez que há condicionantes que não permitem diagnosticar todos os bebés nascidos com problemas relacionados com o vírus Zika.

Foto
O mosquito Aedes aegypti que transmite o vírus Zika Jeff Miller/UW-Madison

Cerca de uma em cada dez mulheres grávidas infectadas pelo vírus Zika tiveram um feto ou um bebé que apresentava malformações congénitas. Para os investigadores norte-americanos responsáveis pelo estudo, divulgado esta terça-feira, estes números são uma das representações mais elucidativas do perigo causado pela infecção do vírus durante a gravidez.

Este relatório dos Centros para o Controlo e a Prevenção das Doenças (CDC) dos Estados Unidos foi o primeiro a analisar um grupo de mulheres norte-americanas infectadas pelo vírus Zika.

Em 2015, o grande surto do vírus que teve origem no Brasil e se expandiu ao resto do continente americano, evidenciou que – nos casos em que as mulheres eram expostas ao vírus durante a gravidez – os bebés poderiam nascer com microcefalia ou danos cerebrais graves.

A equipa de investigação estudou 250 casos de gravidez em que a mãe tinha sido diagnosticada com o vírus Zika e apurou que um em cada dez bebés nasciam com deformações congénitas. O risco era maior entre as mulheres que foram afectadas pelo vírus no primeiro trimestre de gravidez: 15% destas gravidezes culminavam no nascimento de um bebé com malformações.  

“O Zika continua a ser uma ameaça para as mulheres grávidas nos Estados Unidos”, disse, em comunicado, a directora dos CDC, Anne Schuchat. “Com o tempo quente e com a chegada da época dos mosquitos, a prevenção é essencial para proteger a saúde das mães e dos bebés”, acrescentou.

Os bebés afectados pelo vírus Zika – que também pode ser transmitido de mães para filhos – podem desenvolver a síndrome congénita do Zika, que se traduz em deformações cerebrais, problemas de visão, perda de audição e problemas na locomoção dos membros.

O estudo dos CDC tem por base o registo de casos de Zika, que inclui dados dos Estados Unidos e de todos os territórios pertencentes aos EUA, à excepção de Porto Rico. Foram ainda analisados dados que diziam respeito a cerca de mil gravidezes completas, ocorridas em 2016, em mulheres que tenham tido indícios de terem sido infectadas pelo vírus Zika. A maior parte destas infecções tinha acontecido em viagens a regiões onde o vírus teve uma propagação activa.

Dos mil nascimentos, houve 51 casos (ou seja, 5%) em que os bebés apresentavam um ou mais defeitos congénitos relacionados com o vírus Zika. Devido a restrições nas análises, só os testes feitos nas primeiras semanas de infecção podem diagnosticar, em específico, o vírus Zika.

A investigação revelou ainda que três em cada dez bebés expostos ao vírus Zika não tinham sido alvo de testes de imagiologia cerebral para diagnosticar malformações mentais após o nascimento.

“Sabemos que alguns bebés têm danos cerebrais que não são evidentes no parto. Como não temos registo de imagiologia cerebral para a maior parte das crianças, os nossos dados actuais podem subestimar sobremaneira o impacto do vírus Zika”, disse, em conferência de imprensa, Peggy Honein, também investigadora dos CDC. 

Sugerir correcção
Comentar