Vucic mantém-se o homem forte da Sérvia, agora na Presidência

Críticos temem que Aleksandar Vucic concentre o poder na presidência e se aproxime de Moscovo numa altura em que a Rússia aumenta a influência nos Balcãs.

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Aleksandar Vucic venceu as presidenciais com 55% dos votos logo à primeiro volta ANDREJ CUKIC/Epa

Mudando de cargo, o primeiro-ministro da Sérvia, o conservador Aleksandar Vucic, venceu a primeira volta das presidenciais tornando-se o próximo chefe de Estado do país, no que muitos temem que seja um desenvolvimento de chefes de Governo que pretendem manter o poder tornando-se presidentes como já fizeram Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan – quando a Rússia está, cada vez mais, a olhar para os Balcãs perante o desinteresse europeu e americano.

Vucic, um político de 47 anos que já fez uma grande transformação de extremista nacionalista aliado do antigo líder sérvio Slobodan Milosevic para moderado empenhado na aproximação à Europa conseguiu 55% dos votos – mais do que os seus opositores todos juntos; os seus rivais mais próximos foram o advogado defensor de direitos humanos Sasa Jankovic, com 16%, e o humorista Luka Maksimovic, que concorreu como um personagem de político corrupto, 9%.

“Quando se tem resultados como este, não há instabilidade”, disse Vucic, na primeira reacção à vitória. “A Sérvia é forte e continuará ainda mais forte.” Quanto ao caminho a seguir, declarou: “Para mim, é importante que esta eleição tenha mostrado que uma grande maioria de cidadãos sérvios seja a favor da continuação do caminho europeu e ao mesmo tempo da manutenção de laços de proximidade com a China e a Rússia”.

A primeira grande crítica que lhe é feita é num país com instituições fracas, querer agarrar e centralizar o poder. “Vucic vai criar uma superpresidência”, disse o professor de ciência política da Universidade de Belgrado Boban Stojanovic ao jornal Politico. O responsável negou já ter planos para alterar os poderes presidenciais.

A segunda é a proximidade à Rússia, que tem aproveitado um vazio deixado pela falta de empenho da União Europeia nos países dos Balcãs. Vucic viajou até à Alemanha, onde se reuniu com a chanceler, Angela Merkel, e à Rússia, onde se reuniu com Vladimir Putin, durante a campanha. Em Moscovo, recebeu apoio directo à sua candidatura.

A actual conjuntura nos Balcãs faz com que muitos temam esta proximidade. A directora do Centro para os Estudos Euro-Atlânticos (em Belgrado) Jelena Milic comentava ao diário norte-americano The New York Times que na região a estabilidade tem sido o valor mais alto: responsáveis europeus preferem lidar com líderes fortes do que ajudar a fortalecer as instituições democráticas.

O diário britânico Financial Times chamava ainda a atenção, num editorial recente, para o facto de dois dos pilares de estabilidade nos Balcãs estarem ameaçados: uma possível integração europeia e uma segurança ligada aos Estados Unidos e à NATO. Com a crise do euro a tornar um novo alargamento uma miragem e o Presidente norte-americano Donald Trump a ser uma incógnita, há alguém que tem aproveitado o afastamento da UE e EUA.

Lembrando um alegado golpe em Outubro no Montenegro, o impasse político na Macedónia ou os apelos a um referendo para a independência da entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina, a Republika Srpska, o jornal nota algo em comum: “Onde há turbulência nos Balcãs, a mão da Rússia não está longe.”

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