Madrid diz a Londres para não perder a calma em relação a Gibraltar

Dirigente do Partido Conservador lembrou que há 35 anos Thatcher enviou uma expedição militar às Malvinas para proteger a população britânica.

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Jon Nazca/Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, lamentou o tom inflamado das reacções britânicas à proposta europeia para permitir que Madrid possa vetar a aplicação a Gibraltar de um futuro acordo comercial com o Reino Unido. Isto depois de um antigo líder do Partido Conservador britânico ter dito que, se necessário for, o país poderia defender o rochedo como fez, em 1982, com as Malvinas (Falklands).

“Acho que alguém no Reino Unido está a perder a calma e não há nenhuma razão para isso”, disse o chefe da diplomacia espanhola, o mesmo que numa entrevista, sábado ao jornal El País, enviou outra farpa a Londres, ao afirmar que Espanha não vetaria o processo de adesão à UE da Escócia se esta se tornar independente. “O Governo espanhol está um pouco surpreendido pelo tom dos comentários vindos do Reino Unido, um país conhecido pela sua compostura”, acrescentou.

Espanha – que até à semana passada tinha sido um dos principais destinatários da atenção da diplomacia britânica – convenceu o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a incluir na sua proposta de orientações para as negociações do “Brexit” uma cláusula atestando que “nenhum acordo entre a UE e o Reino Unido pode aplicar-se ao território de Gibraltar sem o acordo bilateral entre Espanha e o Reino Unido”. Se esta cláusula for mantida na versão final do texto, que será aprovado a 29 de Abril pelos restantes 27 Estados-membros, Madrid obteria um direito de veto sobre o futuro económico de Gibraltar, território britânico desde 1713, mas que Espanha continua a reclamar.

Para evitar a sua exclusão de um acordo económico, Londres teria de aceitar negociações bilaterais com Madrid sobre o estatuto do território, apesar de a Constituição local sustentar que esse estatuto só pode ser alterado por consentimento da população – e num referendo realizado em 2002 99% da população manifestou-se contra o princípio da soberania partilhada.

Michael Howard, líder dos tories entre 2002 e 2005, decidiu optar por uma metáfora bélica para reagir a este revés diplomático. “Faz esta semana 35 anos que uma outra primeira-ministra enviou uma expedição militar através do globo para defender a liberdade de outro pequeno grupo de britânicos contra outro país de língua espanhola”, afirmou, numa alusão à reacção de Margaret Thatcher à invasão do Exército argentino das ilhas Malvinas, um dos territórios ultramarinos britânicos cuja soberania Buenos Aires reivindica.

“Estou absolutamente certo que a nossa actual primeira-ministra iria demonstrar a mesma resolução na defesa do povo de Gibraltar”, afirmou Howard, rapidamente criticado pela oposição trabalhista e liberal-democrata. Theresa May falou domingo ao telefone com o primeiro-ministro de Gibraltar, assegurando que Londres não aceitará que o estatuto de Gibraltar seja incluído nas negociações do “Brexit” e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, voltou nesta segunda-feira a garantir que “a soberania de Gibraltar não mudou nem vai mudar”. Já o ministro da Defesa, Michael Fallon, adoptou um tom mais duro, assegurando que o “Gibraltar será protegido até às últimas consequências”. 

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