Casar com uma muçulmana

A mulher que se não detiver perante semelhante violação pode ser apanhado nas teias do crime de apostasia cuja cominação prevê a morte como pena máxima.

Na Arábia Saudita, nos países do Golfo e um pouco por todo o mundo muçulmano, uma mulher não se pode casar com um não muçulmano. Só pode fazer se o não muçulmano se converter à fé islâmica. Trata-se de uma violação extremamente grave da Declaração Universal dos Direitos do Homem, nomeadamente do nº 1 do artigo 16 que estabelece …”A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm direito a casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião”… o que significa que dois seres podem casar entre si independentemente da religião de cada um deles.

No plano dos direitos humanos trata-se de uma grosseira violação dos mais elementares direitos cívicos, que faz essa parte da Humanidade viver num clima medieval. Porém as autoridades políticas dos países árabes e muçulmanos não o consentem, o que cria um muro a separar os que são de uma fé e os de outras.

E não se percebe a não ser à luz da mesquinhez de elites governantes que têm medo da contaminação do vírus das liberdades individuais e sociais. Obrigar um crente de outra fé à conversão da fé islâmica para se poder casar com uma crente daquela fé revela o totalitarismo da crença ou, melhor, do seu exercício colocando fora do quadro de relacionamento comum cidadãos de todo o mundo, salvo os daquela crença.

O problema para os dirigentes muçulmanos é os homens terem de ser os chefes de família e assim sendo não pode haver na comunidade um não muçulmano como chefe de família, mesmo que tenha todas as condições para tal. Por outro lado, uma mulher, mesmo muçulmana, nunca pode ser chefe de um homem…

A mulher que se não detiver perante semelhante violação pode ser apanhado nas teias do crime de apostasia cuja cominação prevê a morte como pena máxima.Se para os muçulmanos tudo o que existe na terra foi criado por Alá todos os seres emanam do mesmo ser criador. Tal equivale a dizer como o fez Paulo de Tarso, conhecido pelos cristãos como São Paulo, que não há gregos, nem romanos, nem judeus, são todos irmãos no mesmo deus.

O mesmo se poderá dizer para os crentes de Alá. Se ele os criou a todos, todos são irmãos porque filhos, em última instância, da mesma fonte geradora. No plano religioso é em todos os domínios algo indefensável face as bases em que assenta a alegada criação divina.

Para quem acredita um único deus criador dos seres humanos constitui uma aberração considerar que alguém cristão não pode casar com uma muçulmana sem se converter à religião da noiva ou vice-versa. É algo que se pode equacionar deste modo: a fé islâmica (é dela que se trata) quer impor a religião a todos os não muçulmanos que queiram viver na comunidade muçulmana e aí constituir família.

Como pode entre um homem e uma mulher que querem casar alguém interpor-se e impor a um deles a religião do outro?

E se continuassem cada um com a sua religião o que aconteceria? Viveriam em comunhão de vida como todos os outros. Um rezaria a um deus, o outro a outro, salvo se fosse não crente. E quando morressem? Cada um iria para o céu próprio de cada religião, no caso de haver um paraíso por religião. É isso que autoridades muçulmanas querem impedir obrigando para além do destino comum, a morte, a haver (se houver) um céu idêntico, pois como se sabe para além da vida não há poder terreno que se abata sobre o ou a falecido(a). Ou esta imposição visa garantir o domínio do homem face à misoginia dominante?

Imaginemos, em termos religiosos, que um crente estava errado quanto ao deus verdadeiro e quando morresse fosse parar ao paraíso de outras crenças, qual era o mal? Que os países mais retrógrados partilhassem este princípio chocava e choca, mas que essa espécie de norma vigore ainda hoje na Tunísia onde as mulheres são mais respeitadas que em todo o mundo muçulmano choca mais.

Cento e cinquenta associações tunisinas estão a movimentar-se para que seja revogada esta norma que interdita o casamento entre muçulmanas e não muçulmanos, sem que o noivo se converta ao islão. É estranho que a Tunísia não tenha revogado esta norma que continua a vigorar nos países muçulmanos.

Se o deus criador, segundo a fé dos crentes, fez um céu, como podem os homens, que criaram os vários deuses, dado haver diferentes deuses para as diferentes crenças, impedir que dois seres se casem, seja qual for a religião de cada um?

 

               

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