“O aeroporto no Montijo desenvolve mais a região do que em Alcochete”

Nuno Canta, autarca socialista do Montijo, defende que o aeroporto complementar na BA6 fica mais integrado no Arco Ribeirinho Sul e permite potenciar o turismo porque os visitantes chegam a Portugal a ver Lisboa a partir do Tejo.

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Enric Vives-Rubio
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No Montijo, tanto a maioria dos autarcas como a quase totalidade da população, quer o aeroporto. Nuno Canta não tem dúvidas. Apresenta uma pequena lista de obras como “contrapartidas” para a cidade e já imagina a Soflusa e a Transtejo a operarem com barcos novos e panorâmicos. Diz que Alcochete é mais periférico e implica que terrenos florestais passem a urbanos e que a localização no Montijo é também um regresso moderno à histórica Aldeia Galega, local de passagem para Lisboa que tinha os melhores hotéis do reino na Idade Média.

Porque é que o aeroporto no Montijo é melhor para a região do que o novo aeroporto, em Alcochete, como preferem os autarcas comunistas?
Houve uma mudança de estratégia na questão aeroportuária, nos últimos anos, que influenciou o meu posicionamento. O governo anterior abandonou as grandes infra-estruturas nacionais. Com essa decisão, a estratégia passou a ser a manutenção do Aeroporto da Portela, depois foram estudadas várias bases aéreas desta região, e, nesse momento, a nossa posição foi a de defender a opção Montijo.

Mas quando a estratégia nacional começou a mudar, o senhor dizia que a nova proposta era uma falácia porque um aeroporto é sempre uma obra cara.

Na altura a situação era diferente, estávamos perante a possibilidade de construir um grande aeroporto na região.

E agora construir um aeroporto já não é assim tão caro?
Temos de reconhecer que as condições que o país tem hoje são diferentes e este aeroporto tem duas vantagens importantíssimas: É mais barato e, ao mesmo tempo, mais célere. E nós temos de acomodar o crescimento turístico e o movimento de passageiros do aeroporto de Lisboa.

O primeiro-ministro diz que é uma emergência nacional mas, ao mesmo tempo, pede uma maioria de dois terços.
O primeiro-ministro está a ser totalmente coerente com o que propôs nas legislativas, em que colocou a questão de as grandes infra-estruturas nacionais, a partir do próximo ciclo de investimentos, terem dois terços de aprovação da Assembleia da República. Agora, que é uma emergência nacional, é.

Por isso mesmo, considera oportuna essa exigência numa matéria urgente?
Era mais criticável abandonar, por causa da urgência, uma ideia política e filosófica. O primeiro-ministro, apesar das dificuldades que vai ter, está a ser totalmente coerente. Desde o início deste processo, existe um consenso sobre a localização do aeroporto aqui na Base Aérea nº 6 (BA6) entre os grandes partidos, PSD, PS e CDS-PP. Até à manifestação tardia dos municípios [comunistas], praticamente a três dias da assinatura do memorando para o arranque dos estudos definitivos da localização Montijo, existia um grande consenso nacional nesta matéria.

Esta opção permitirá desenvolver uma infra-estrutura com as tais duas condições prévias: Ser rapidamente executada permitindo uma ampliação imediata da capacidade aeroportuária da região de Lisboa, e ter um menor investimento, totalmente privado sem a participação dos contribuintes.

Mas ainda não respondeu à primeira pergunta: Porque é que a localização Montijo é melhor para a região?
Um aeroporto no coração da Área Metropolitana de Lisboa (AML), como é o caso do Montijo, é mais potenciador de actividades económicas, da produção de riqueza e criação de emprego nesta região. O Montijo é verdadeiramente central na AML. É uma pista que ficará a 10 quilómetros da margem norte e que tem a vantagem de ser paralela à do Aeroporto da Portela — também por isso esta opção teve mais sucesso nos estudos comparativos —, o que permite uma operação conjunta e complementar das duas pistas.

A BA6 tem um efeito na potenciação da economia desta região do Arco Ribeirinho Sul que Alcochete não tinha, porque era mais periférico e exigia uma grande transformação de terrenos florestais em terrenos urbanos.

Esta opção, pela proximidade às cidades do Montijo, Alcochete, Moita, Barreiro, Seixal e até Almada e mesmo Palmela e Setúbal, é um investimento, que vai permitir o desenvolvimento e a criação de emprego para os nossos filhos e netos.

Precisamente por estar mais em cima das populações, suscita outras preocupações. Porque é que está convencido que os montijenses querem o aeroporto?
Esta quase unanimidade tem uma razão histórica. Nós somos a Aldeia Galega do Ribatejo, a localidade mais importante dos transportes do país durante cinco séculos. Nós tínhamos, entre meados e finais do século XVIII, as nove melhores estalagens de todo o reino. Os nove melhores hotéis da Idade Média eram aqui no Montijo. As populações estão culturalmente habituadas a ter uma grande infra-estrutura de transporte, de chegada e partida de pessoas.

O aeroporto vai transformar o Montijo na “Aldeia Galega do século XXI”?
Com a implementação do aeroporto nesta localidade, regressamos à história de sempre desta terra. Por isso é que tenho dito que quem está contra isto, do ponto de vista político, está do lado errado da história.

O senhor recusou assinar um memorando com o governo PSD, na véspera das legislativas, e aplaudiu o que foi assinado agora pelo Governo PS, em ano de autárquicas. Porquê?

Isso está explícito numa carta que enviei ao então secretário de Estado dos transportes.

Foi acusado de eleitoralismo.
Esse foi o argumento da oposição, não foi o meu. Eu disse na primeira parte da carta que “nós estamos em acordo e em plena consonância com o Governo, no sentido da localização do novo aeroporto” e expliquei ao senhor secretário de Estado que não podia assinar esse memorando porque nada referia sobre as infra-estruturas de ligação da cidade do Montijo com o aeroporto. Referia apenas a conexão do aeroporto com a cidade de Lisboa.

Mas neste novo memorando continua a não existir nada relativamente às infra-estruturas.
Certo. Mas está no memorando que a situação das infra-estruturas tem que ser obrigatoriamente incluída no processo de desenvolvimento do aeroporto, incluindo as que a Câmara do Montijo tinha apresentado como caderno de encargos.

As infra-estruturas que identifica são a Circular Externa do Montijo, a Avenida do Seixalinho e um novo acesso à Ponte Vasco da Gama. Porquê essas e não outras? Por exemplo, os ambientalistas falam na extensão do Metro Sul do Tejo, na extensão do comboio do Pinhal Novo até ao Montijo...
Porque estas são as infra-estruturas exigidas na primeira fase de instalação do novo aeroporto, exigidas para transporte público e privado, que será essencialmente rodoviário, e porque este projecto prevê o transporte fluvial, através do Seixalinho. O tão maltratado Cais do Seixalinho será uma plataforma importantíssima de ligação a Lisboa. A potenciação do uso do transporte fluvial, além de extremamente importante, ainda nos aproxima mais da ideia de Aldeia Galega com os seus antigos barcos à vela. Por outro lado, é uma oportunidade de criar uma maior capacidade financeira da Transtejo e resolver um problema que temos há muitos anos no país. 

O facto de a ligação fluvial ser tão problemática, nos últimos anos, não o deixa preocupado?
São coisas completamente diferentes. Na situação actual não temos aeroporto. No futuro terá de haver investimentos significativos na Soflusa e Transtejo, tendo em conta o transporte dos passageiros do aeroporto. Tem que haver é investimento, não pode ser a Transtejo de hoje a fazer os transportes dos novos passageiros do aeroporto do Montijo. O cais deverá ser renovado e ampliado. Os navios têm de ser novos e panorâmicos para que se veja Lisboa, a partir do Tejo. Isso permitirá a alavancagem do turismo no estuário do Tejo. Os municípios do Montijo, Moita, Barreiro, Seixal, Almada e Alcochete só conseguirão ser protagonistas no turismo se houver estas condições fluviais em complemento com o aeroporto. Com o aeroporto e uma boa estrutura fluvial de ligação entre as duas margens, vamos conseguir trazer turistas aos restaurantes e hotéis da Margem Sul.

É outra vantagem da opção Montijo?
Sim, o desenvolvimento económico desta região. Qu e também passa pelas infra-estruturas, que são rodoviárias nesta primeira fase. Mas para uma segunda fase, nós já colocámos, quer a este, quer ao anterior Governo e à ANA, a possibilidade de termos alguma infra-estrutura de metro de superfície e eventualmente podemos chegar à ferrovia. Mas isso já são situações mais pesadas e que se terão de pensar quando voltarmos a equacionar o comboio de alta velocidade. Nós estamos abertos a tudo isso e a própria revisão do Plano Director Municipal (PDM) prevê. Nós pensámos em corredores, permitindo uma ligação nestas diferentes plataformas ao novo aeroporto do Montijo.

Como é que avalia a forma como o Governo está a conduzir o dossier do aeroporto?
O calendário está estabelecido no memorando, que aponta a decisão do novo aeroporto para o final do ano. A localização no Montijo está decidida e parece haver um consenso entre o PSD e o PS e, espero eu, o CDS.

Falta o estudo de impacte ambiental, que a Câmara do Montijo exigiu desde o início, mas achamos que, para esta localização, com uma infra-estrutura já em funcionamento, como é a BA6, há uma vantagem significativa em relação a construir um novo aeroporto na floresta de Benavente. Acreditamos que os estudos vão concluir pela necessidade de mitigar ou compensar alguma coisa dos impactes ambientais, como aconteceu, por exemplo, com a Ponte Vasco da Gama. Até a questão da migração das aves seria mais problemática no Campo de Tiro de Alcochete.

E a questão levantada pelo Conselho Metropolitano de que a pista do Montijo não tem comprimento para aviões de grande porte?
É sempre possível ampliar a pista, há espaço para isso. Mas o que foi sempre estudado para esta pista foi a operação de aviões de menor porte, particularmente os low-cost e eventualmente os de carga.

Como vê então esta observação do Conselho Metropolitano?
Tem uma conotação política, obviamente, com o PCP. Não foi uma posição formal do conselho. Os estudos, da ANAC e outros, pedidos pelo Governo e que envolvem a Força Aérea Portuguesa, concluem que a pista é capaz de acolher o tráfego que estava projectado.

Não tem dúvidas de que o Governo quer mesmo o aeroporto no Montijo?
Sim. Assim que o Governo entrou em funções, eu fui falar com ministro e foi-me dito que não poderiam tomar uma decisão sem haver estudos. O Governo tem de ter estudos que o habilitem a uma decisão ponderada e fundamentada, capaz de garantir os tais 50 anos de capacidade aeroportuária da região de Lisboa. Foram feitos três estudos que comprovam isso, que com os dois aeroportos passam a ser possíveis 72 movimentos por hora, como a ANA almeja, que permitem aumentar dos 22,5 milhões de passageiros que foram transportados no final do ano passado para quase 50 milhões.

Mas haverá uma decisão antes das autárquicas?
Penso que não. O que temos é um memorando que diz para a ANA e os municípios de Lisboa e Montijo estudarem isso a sério, porque aqui é a localização. Senão voltamos ao processo em que estávamos há 60 anos na questão aeroportuária, que é fazer estudos, estudos e depois nada. Nesta fase, a região não pode esperar mais por estudos que não concluam qual a localização do aeroporto.

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