Um espólio à espera de ser estudado

A Câmara de Amarante quer criar um "centro interpretativo" na casa onde o poeta nasceu.

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Objectos pessoais do poeta na exposição Pascoaes: de Amarante (Solar de Gatão) ao Universo, que estará na Biblioteca Nacional até 6 de Maio DR

Teixeira de Pascoaes morreu há 65 anos, mas só agora estão a ser criadas condições para que o seu espólio possa ser tratado e investigado. E se não estaremos perante uma arca inesgotável como a de Pessoa, até porque o poeta de Amarante publicou muito mais em vida, o estudo do seu arquivo e biblioteca poderá contribuir, nos próximos anos, para uma significativa reavaliação do lugar de Pascoaes na literatura portuguesa do século XX.

A Câmara de Amarante adquiriu em 2013, por 420 mil euros, todo o espólio de Pascoaes, incluindo livros, manuscritos, correspondência, desenhos, objectos de uso pessoal, e até algum mobiliário desenhado pelo próprio poeta. A mobília ficou por enquanto na casa, mas tudo o resto foi acondicionado no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, onde se encontra desde então. Com a excepção de uma volumosa agenda que o então presidente da Câmara, Armindo Abreu, mandou entregar a uma afilhada do poeta, e que inclui várias versões do livro inédito Cartas a Uma Poetisa e um manuscrito da novela O Empecido, num total de mais de mil páginas manuscritas. O autarca alegou estar a cumprir as disposições testamentárias de Pascoaes, mas a sua decisão deu origem a um processo judicial ainda em curso.

O actual presidente da Câmara, o social-democrata José Luís Gaspar, afirmou já à imprensa que a autarquia tem a intenção de vir a instalar um “centro interpretativo” da obra de Pascoaes na casa onde o poeta nasceu, no centro de Amarante, mas neste momento não existe sequer uma relação minuciosa de todos os papéis do espólio.

Entre outras virtudes, o Triénio Pascoalino, que este congresso veio agora fechar, contribuiu também para mostrar que é urgente disponibilizar o arquivo aos investigadores. E é provável que, numa espécie de círculo virtuoso, as descobertas a ser feitas no espólio ajudem a alimentar, nos próximos anos, este novo fôlego dos estudos pascoalinos.

Sofia Carvalho, que idealizou o projecto do Triénio, prepara-se agora para passar a biblioteca de Pascoaes a pente fino para a sua tese de doutoramento. “Nunca foi estudada por ninguém”, diz. E Jerónimo Pizarro já sonha em encontrar “o exemplar de Orpheu que Pessoa enviou a Pascoaes, se calhar anotado por ele”. 

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