Agora, Lisboa já não é só umas imagens na televisão

Alguns transmontanos que nunca tinham visitado Lisboa estiveram na capital e arredores nos últimos três dias. A longa viagem serviu para verem ao vivo o que eram apenas postais ilustrados.

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Margarida Basto
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Por estes dias, Rio de Onor é uma terra deserta. Pudera, 42 dos seus habitantes vieram passar três dias a Lisboa e arredores. “Ficou lá meia dúzia de pessoas”, brinca o presidente da junta da pitoresca aldeia transmontana, José Carlos Fernandes Valente, ainda a lamber os cantos da boca depois de ter comido um pastel de nata. Ao segundo dia de viagem desde Bragança até à capital, o grupo ocupa-se das maravilhas de Belém e torna-se obrigatório parar na casa de pastéis mais emblemática da cidade.

Este rectângulo a que chamamos país tem pouco mais de 200 quilómetros de largura e 500 de comprimento. Ainda assim, por motivos às vezes misteriosos, a geografia humana portuguesa tende a restringir-se a um espaço limitado do qual nem sempre é fácil sair. Que o digam alguns membros desta expedição, apadrinhada pela Fundação Inatel, que com a iniciativa “Aldeia dos Sonhos” quer tornar reais os desejos dos moradores de pequenas aldeias.

Manuel, de 80 anos, nunca tinha vindo a Lisboa. “Nem nunca fui ao Porto, só a Bragança”, conta, entredentes, pastel de Belém e café com leite no bucho. Quando a Junta de Freguesia de Rio de Onor se candidatou a ser a “Aldeia dos Sonhos” deste ano, algumas pessoas torceram o nariz. “Achei estranho. Achava que não valia a pena vir, porque já conhecia da televisão”, diz Fernanda, 74 anos, que já viveu em Madrid mas nunca tinha posto pé na capital portuguesa.

A ida aos Pastéis de Belém foi a segunda paragem de um dia longo. O grupo excursionista já tinha parado brevemente em frente à Torre de Belém e, lanche comido, seguiu para o Mosteiro dos Jerónimos, que muitos só conheciam de postais e fotografias ou da televisão. O mesmo com a Basílica da Estrela, visitada no fim da missa do meio-dia, e com o Parlamento, que todos vêem a entrar-lhes pela casa diariamente.

“Gostei muito da Assembleia”, diz Fernanda à porta do Estádio da Luz, penúltima paragem do dia. Tal como a quase todos, é difícil arrancar-lhe mais do que duas ou três frases e é tarefa hercúlea querer saber a opinião do que tem visto. “Estou a achar tudo muito bonito. Gostei de tudo”, afirma Fernanda – mas é sentença generalizada a todo o grupo.

Os lisboetas de todas as origens estão habituados a ignorar milhentas coisas que fazem parte do quotidiano da cidade. Escadas rolantes, por exemplo, para as quais alguns apontam com espanto ao entrar no Museu do Benfica. Ou a Ponte 25 de Abril, que leva Manuel a juntar os dedos de uma mão como quem diz que tem “cagufa”, mesmo que só lhe passe por baixo.

O presidente da junta explica que todo o programa foi construído pelos habitantes de Rio de Onor, mais habituados a conviver com os vizinhos espanhóis do que a pensar nas atracções das margens do Tejo. Era ponto assente que teriam de ir ao Oceanário, mas tudo o resto era à vontade dos fregueses. “As pessoas foram dizendo uma série de monumentos” e, explica José Carlos, chegou-se a “uma agenda bastante preenchida” que deu para três dias. Para este sábado, além da visita ao Parque das Nações, ficou reservada a ida ao Jardim Zoológico e ao Aqueduto das Águas Livres.

São “pessoas que conhecem este Portugal só pela televisão”, sublinha Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, que com esta iniciativa crê estar “a contribuir para divulgar e promover as características emblemáticas do país”. Além disso, uma das missões da fundação é “dar igualdade de oportunidades no lazer e no turismo a todos os portugueses”, acrescenta.

A todos, mesmo que o entusiasmo destes seja contidíssimo. Veja-se Manuel, por exemplo. Olha espantado para todo o lado, dá pequenos passos, mãos entrelaçadas em frente à barriga, observa o alto das torres da Basílica da Estrela e sorri timidamente. Está a gostar de tudo, sim. Mas lá desabafa, o mais puro dos comentários: “A outra igreja era mais bonita.”

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