Dois funcionários da ONU mortos na República Democrática do Congo

A sueca Zaida Catalán, de 36 anos, e o norte-americano Michael Sharp, de 34, investigavam crimes e violações dos direitos humanos no país. Estavam desaparecido desde dia 13.

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Michael Sharp Reuters/HANDOUT

Os corpos de dois funcionários das Nações Unidas que estavam desaparecidos desde 13 de Março na República Democrática do Congo foram encontrados na noite de segunda para terça-feira na província de Kasai Central, palco de confrontos entre o exército de Kinshasa e uma milícia rebelde local. Um intérprete de nacionalidade congolesa também foi assassinado. A informação foi avançada pelas autoridades congolesas e confirmada num comunicado do secretário-geral da ONU, António Guterres.

A sueca Zaida Catalán, de 36 anos, e o norte-americano Michael Sharp, de 34, investigavam crimes e violações dos direitos humanos no país, tendo desparecido no início deste mês enquanto viajavam na região que tem sido centro da mais recente onda de violência.

Em comunicado, Guterres prometeu honrar a memória dos dois funcionários: “Michael e Zaida perderam as vidas procurando compreender as causas do conflito e insegurança na República Democrática do Congo para ajudar a trazer a paz para o país e para o seu povo. Nós vamos honrar a memória deles continuando a apoiar o trabalho inestimável do grupo de especialistas e de toda a família da ONU no Congo”.

O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, também reagiu à notícia através de uma nota escrita, citada pela imprensa deste país, afirmando que recebeu a informação com “tristeza e consternação”. Afirmando que Zaida trabalhou incansavelmente pela paz e justiça, o governante diz que a missão dos funcionários da ONU “deu esperança a um país há muito atormentado pela violência”. “Nós partilhamos o desespero dos seus entes queridos, enquanto sentimos uma profunda gratidão pela sua contribuição”, concluiu.

O pai de Michael Sharp, John, escreveu também uma nota no Facebook. “Esta é uma mensagem que nunca esperei escrever”, afirma. Na altura da publicação na rede social, ainda não existia a confirmação oficial da morte do filho, mas John escrevia que havia já alta probabilidade de que os corpos encontrados fossem de Michael e de Catalán.

Já na passada sexta-feira, também no Congo, uma milícia rebelde capturou e decapitou cerca de 40 agentes da polícia na mesma província de Kasai Central. A informação fora avançada à Reuters por François Madila Kalamba, líder da assembleia legislativa daquela província congolesa.

Estes episódios inserem-se numa vaga de violência com contornos étnicos que afecta cinco províncias congolesas desde a crise política de Dezembro, quando o Presidente Joseph Kabila recusou abandonar o poder no final do mandato. Apesar de, nas últimas semanas, centenas de rebeldes se terem entregado às autoridades, um grupo reunido sob o emblema do Kamuina Nsapu tem continuado a combater as forças de Kinshasa. Desconhece-se quem lidera esta milícia.

Mais de 400 pessoas morreram nesta onda de violência nos últimos meses, sendo que as Nações Unidas ainda estão a investigar e identificar o que poderão ser até 17 valas comuns com vítimas das acções do exército congolês e dos rebeldes.

As mortes de Michael e Zaida são apenas as mais recentes numa série de graves incidentes a atingir funcionários da ONU e de outras organizações internacionais no continente africano. No sábado, seis funcionários de organizações humanitárias foram também mortos numa emboscada no Sudão do Sul. O crime foi denunciado e condenado pelas Nações Unidas.

“Estou chocado e indignado pelo assassínio vil de seis corajosos humanitários no Sudão do Sul”, afirmou em comunicado o coordenador da ONU no país, Eugene Owusu.

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