Feito o primeiro transplante de retina com células reprogramadas de outra pessoa

Equipa japonesa usou células de um dador para tratar um homem de 60 anos com degeneração macular relacionada com a idade. Esta cirurgia pode impulsionar a criação de bancos de células estaminais pluripotentes induzidas.

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A degeneração macular relacionada com a idade provoca perda progressiva da visão e pode levar à cegueira LUÍS EFIGÉNIO/NFactos

Uma equipa de cirurgiões do Centro Médico do Hospital Central da Cidade de Kobe, no Japão, realizou esta terça-feira o primeiro transplante de células da retina que foram produzidas a partir de células estaminais pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês) de um dador. Numa conferência de imprensa após a cirurgia, os médicos confirmaram que a operação correu bem mas sublinharam que será preciso esperar algum tempo para anunciar o sucesso da intervenção, já que existe algum risco de rejeição. Ainda assim, a equipa está preparada para repetir o procedimento em mais quatro doentes, conforme foi autorizado pelo ministro da Saúde japonês.

É como se o tempo voltasse para trás e tomasse um caminho diferente para um grupo de células. O que os cientistas fazem é pegar em células adultas e diferenciadas – da pele, por exemplo – e reprogramam-nas para que voltem a um estado embrionário, indiferenciado ou plutipotente. Depois, mudam-lhes o destino e fazem com que se tornem o tipo de célula necessária para tratar uma doença.

Neste caso, os cientistas usaram células da pele de um dador anónimo que, no laboratório, foram reprogramadas e transformadas num tipo de célula da retina. Estas células foram depois transplantadas para a retina de um japonês de 60 anos que sofre de degeneração macular relacionada com a idade, uma doença da retina que provoca uma perda progressiva da visão, que pode levar à cegueira, e que é apontada como a causa mais comum de perda de visão nas pessoas com mais de 55 anos.

Segundo a notícia publicada no site da revista Nature, esta cirurgia pode abrir caminho para mais aplicações das células iPS e impulsionar a criação de bancos de células de diversos dadores.

A mesma equipa de cirurgiões, chefiada por Yasuo Kurimoto, realizou no mesmo hospital, em Setembro de 2014, um outro transplante de células da retina derivadas de células iPS (também recolhidas da pele), mas que pertenciam à mulher que foi operada. Segundo a equipa médica, a cirurgia correu bem, as células permaneceram intactas e a visão da mulher japonesa não diminuiu com a doença. Porém, quando as células desta doente estavam a ser preparadas para ser usadas noutra pessoa os cientistas verificaram que tinham anomalias genéticas.

O estudo acabou por ser remodelado e, em Fevereiro de 2017, os investigadores receberam aprovação do Governo para avançar com uma experiência em cinco doentes, recorrendo a células de dador. O maior risco será a rejeição das células que são geneticamente diferentes.

O recurso a um dador permite reduzir os custos e tempos de espera associados às células iPS. Se os bancos de células iPS crescerem será mesmo possível ter células “pré-fabricadas” disponíveis imediatamente para os doentes. 

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