DGS alerta para surto de hepatite A: mais de 100 casos na região de Lisboa

Mais de cem casos diagnosticados na região de Lisboa e Vale do Tejo desde Janeiro. Surto estará relacionado com "chemsex", "actividade sexual potenciada por substâncias químicas", diz a DGS.

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Francisco George, director-geral da Saúde Enric Vives Rubio

Há um surto de hepatite A em Portugal e noutros países europeus que está a ser relacionado pelas autoridades de saúde com o chamado "chemsex" ("actividade sexual potenciada por substâncias químicas", segundo a definição da Direcção-Geral de Saúde). Desde Janeiro, mais de 100 pessoas foram diagnosticadas com esta doença na região de Lisboa e Vale do Tejo, um número que suplanta os casos contabilizados nos últimos 40 anos no país, noticiou a SIC.

Francisco George, director-geral da Saúde, diz que este problema foi identificado não só em Portugal, mas também num conjunto de outros países europeus. O surto terá começado durante um festival de Verão em Amesterdão, Holanda. Em Portugal, a maior parte dos doentes diagnosticados são da região de Lisboa e Vale do Tejo e muitos estão internados em vários hospitais, adiantou o director-geral ao PÚBLICO. Houve uma avaliação de risco emitida pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, em inglês) e a DGS identificou 105 casos novos desde Janeiro, precisou Francisco George.

A maior parte dos diagnósticos foram feitos na comunidade dos homens que fazem sexo com homens. O principal modo de transmissão desta doença é por via fecal-oral e as autoridades europeias estão mesmo a aconselhar à vacinação entre os membros da comunidade gay. No documento da DGS explica-se que a actividade epidémica recente tem sido relacionada com comportamentos associados ao agora designado "chemsex", ou seja, "actividade sexual potenciada por substâncias químicas, podendo envolver múltiplos parceiros". Neste tipo de prática, os homens tomam substâncias químicas para que as erecções se mantenham por muito tempo e têm relações com uma série parceiros ao longo de vários dias.

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) divulgou já um documento com orientações clínicas para que os médicos e enfermeiros possam lidar com o surto. "Não existe tratamento específico para a infecção por hepatite A. A ingestão de álcool é totalmente desaconselhada e os fármacos com metabolização hepática ou que possam ser hepatotóxicos devem ser utilizados com precaução", aconselha a DGS. "Medidas de controlo estritas, como a higiene pessoal, familiar e doméstica, com particular ênfase na lavagem das mãos mostraram-se altamente efectivas no controlo da transmissão", acrescenta.

A hepatite A é uma infecção aguda causada por um vírus. É uma doença curável, raramente fatal, mas pode ser perigosa para pessoas com doenças crónicas do fígado. Além da via fecal-oral, a transmissão também se faz pessoa a pessoa e por ingestão de água e alimentos contaminados.

"A situação epidemiológica em Portugal modificou-se, sobretudo, a partir de 1980, altura em que grandes obras públicas de saneamento tiveram lugar", o que conduziu a uma redução progressiva da incidência da doença e do risco de a adquirir, sublinha a DGS no documento com as orientações clínicas.

Portugal é actualmente considerado uma área de baixa endemicidade, à semelhança dos outros países da Europa Ocidental. Mas, "à medida que se reduz a endemicidade da doença, aumenta o número de crianças mais velhas, adolescentes e adultos susceptíveis que, geralmente, apresentam sintomas quando adquirem a doença", o que faz com que, "paradoxalmente, o número de casos notificados" possa aumentar, explica ainda a DGS.

A infecção pode ser assintomática, ou provocar uma doença aguda associada a sintomas como febre, mal-estar, icterícia, anorexia, náuseas, vómitos e dor abdominal.

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