Por aqui, andorinhas

Chega de gostarmos das andorinhas sem fazermos nada por isso.

Ao ver como os japoneses celebram o florir das cerejeiras ocorre pensar na maneira como os portugueses reagem à chegada da Primavera. A Primavera, entre nós, é confidencial. Cada um festeja-a quando e como quiser. Para muitos é apenas a antecâmara do Verão.

As andorinhas já voltaram mas é como se ninguém as quisesse cá. Falamos delas e pintamo-las em cartazes mas são cada vez mais raros os lugares onde as deixamos fazer e guardar os ninhos.

Não basta serem protegidas por lei. Deveriam ser protegidas por nós. Há uma diferença entre encolher os ombros e não fazer-lhes mal, indiferente à sorte delas, e esforçarmo-nos um bocadinho para ajudar a protegê-las, tomando conta dos ninhos ou encorajando-os, garantindo-lhes acesso às áreas onde não incomodam ninguém.

É uma questão de atitude. As andorinhas que nos visitam alegram-nos os corações, a troco da nossa indiferença. Porque não sermos um pouco mais agradecidos? Que tal pensar nos milhões de mosquitos que comem todos os anos e reduzirmos drasticamente o nosso abuso de pesticidas? Porque não anunciar e festejar o regresso das andorinhas, tornando-as parte da experiência portuguesa da Primavera, como é o caso das cerejeiras e do Japão?

Não poderíamos facilmente tornarmo-nos num país que sabe acolher as andorinhas - e todas as outras aves que nos visitam - e aprendermos a confundir o nosso país com elas?

Chega de gostarmos das andorinhas sem fazermos nada por isso. Uma acção de amor vale mil declarações. Que podemos fazer?

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