Seis jovens, uma Lisboa distópica e a necessidade de viver uma "Segunda Vez"

As aventuras de seis jovens numa Lisboa distópica fazem a série "Segunda Vez". A história é contada por Gaspar Trevo e o primeiro episódio sai a 24 de Março

Uma Lisboa diferente onde “o sol é um perigo”, mas onde é possível “voltar atrás, corrigir erros, viver as coisas segunda vez”. Falamos de Segunda Vez, a história que Gaspar Trevo vai contar a partir de 24 de Março. As aventuras de seis jovens, nesta Lisboa distópica, vão chegar em formato de série com o lançamento de um episódio por semana.

“O livro baseia-se numa pergunta que me parece actual: como viver experiências verdadeiras num mundo falso? Esse é o ponto de partida”, explica o autor, Gaspar Trevo, que acrescenta que estamos perante um história “sobre o desejo de recomeçar”.

A ideia de escrever Segunda Vez já tinha passado pela cabeça de Gaspar Trevo em 2010, mas apenas quatro anos mais tarde é que começou a escrever. Primeiro nasceu um livro (ebook gratuito) e só depois a ideia de o transformar em série.

Cada episódio consiste num texto de Gaspar, acompanhado por uma ilustração de Rui Lacas. A escolha do formato de série é justificada por Gaspar por ser o que mais se ajusta ao ficcional e por facilitar o acompanhamento da evolução de personagens na transição para a idade adulta. O escritor acrescenta que a série também privilegia o “lado lúdico de ir acompanhando uma história, sem dar para saltar páginas e descobrir o que vai acontecer.”

Porquê uma distopia?

As personagens têm 17 anos, “uma idade em que", segundo Gaspar, "tudo está em aberto, mas também tudo toma proporções enormes: o mínimo erro parece gigantesco e vive-se de forma intensa um sentimento de irreversibilidade.”

Para o autor, os anos da adolescência são recheados de “um desejo de voltar atrás e corrigir o irreparável”. Assim, escrever as aventuras de seis jovens sob o imaginário da distopia, é para Gaspar uma escolha lógica porque a distopia “num certo sentido, a distopia é sempre pós-apocalíptica – implica recomeçar depois de uma catástrofe.”

Contudo, o imaginário da distopia de Segunda Vez não se restringe à realidade pós-apocalíptica individual, é também uma espécie de realidade pós apocalíptica geracional: “os adolescentes dos anos 90 viviam num ambiente marcado por um optimismo cego”, diz Gaspar, que acrescenta que “depois, o mundo acelerou, houve uma espécie de despertar abrupto: a catástrofe tornou-se visível.”

Gaspar retoma a ideia de irreversibilidade e brinca com a noção de tempo, explicando que quando damos conta “já há uma terra que perdemos, e que gostaríamos de restaurar, mas sentimos que isso deixou de ser possível”.

“O livro é para jovens adultos” confessa o autor, mas adianta que pessoas mais velhas também podem “compreender essa sensação de pós-apocalipse.” Além do cenário distópico, Segunda Vez aborda temas transversais a todos os contos juvenis: diferenças sociais, a relação com o virtual, a construção ideológica, a dependência e a identidade sexual. Gaspar explica que “são temas actuais, mas apresentados num cenário alternativo.”

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