Primeiro teste eleitoral ao “efeito Schulz” no Sarre

Sociais-democratas sobem nas sondagens para as eleições no pequeno estado federado e passam de 11 pontos percentuais de diferença da CDU para apenas um.

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Annegret Kramp-Karrenbauer e Angela Merkel em campanha no Sarre RONALD WITTEK/EPA

As eleições no Sarre, que se realizam no domingo, não despertariam grande atenção fora da Alemanha: o estado federado é um dos mais pequenos do país, é governado por uma grande coligação, e a candidata da CDU (democratas-cristãos) ia com mais de dez pontos percentuais de avanço sobre o rival mais próximo, do SPD (sociais-democratas).

Mas isto foi em meados de Janeiro. Desde então, os sociais-democratas têm ganho uma nova força e o chamado “efeito Schulz” (após a escolha do antigo presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, para candidato a chanceler) nota-se também no Sarre: a CDU tinha 38% das intenções de voto contra 26% do SPD, nas últimas projecções, a diferença passou para apenas um ponto percentual, de 35% para os conservadores contra 34% dos sociais-democratas.

A própria candidata da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, que é quem chefia o governo do estado, disse ao Financial Times que o resultado permitirá tirar conclusões a nível nacional: “Se os sociais-democratas tiverem sucesso, dirão que este é um sinal de grande mudança na Alemanha. Se a CDU ganhar, significa que o efeito se quebrou.”

"Primeiro erro"

As sondagens a nível nacional parecem apontar para um abrandamento deste efeito: o último inquérito do instituto Forsa dá 34% de intenções de voto para os conservadores e 31% para os sociais-democratas. O SPD tinha chegado a ultrapassar a CDU nas sondagens há algumas semanas, mas a sua subida não é feita à custa de potenciais eleitores da CDU mas sim de potenciais abstencionistas, de eleitores da esquerda ou até do partido xenófobo Alternativa para a Alemanha (AfD), que aparece em queda e mantém-se com apenas 9%.

Na imprensa, vêem-se as primeiras críticas a Schulz e à sua estratégia de campanha. No jornal Die Zeit, por exemplo, o jornalista Ferdinand Otto classificava a recusa do novo líder social-democrata em participar numa cimeira de líderes dos partidos da grande coligação como sinal do distanciamento que Schulz pretende ter em relação ao actual executivo.

Mas, argumenta o jornalista, este distanciamento, que lhe pode permitir apresentar-se como uma alternativa à chanceler, Angela Merkel, embora seja do mesmo partido que com ela governa há quatro anos, mostra outra face de Schulz – a do político que prefere ser contra e não assumir responsabilidade em compromissos dolorosos, “o primeiro erro” da sua campanha.

Coligação vermelho-vermelho-verde?

No Sarre, um estado que conseguiu não ser muito afectado pelo fim das indústrias-base da sua economia, o carvão e aço, a principal questão é se o SPD conseguirá votos suficientes para evitar entrar de novo numa grande coligação com a CDU e fazer um acordo com os Verdes e Die Linke (esquerda radical) na chamada "coligação vermelho-vermelho-verde", para governar.

Terra do líder histórico do partido de esquerda radical (e ex-social-democrata), Oskar Lafontaine, o Sarre poderia ser assim o primeiro da parte ocidental da Alemanha a ter uma coligação deste género.

A AfD deverá, por sua vez, entrar no parlamento do estado federado, cimentando a sua presença regional – será o seu 11.º estado federado entre os 16 Länder.

A nível nacional, o partido de extrema-direita está em queda, mas mantém-se como terceira força, acima dos Verdes e de Die Linke, que estão com cerca de 7%, enquanto os liberais do FDP, actualmente não representados no Parlamento, aparecem com 6%, pouco acima dos 5% necessários para eleger deputados.

A AfD vinha a beneficiar do grande consenso político do centro, apresentando-se como uma hipótese para quem discorda da política actual, o que foi de certo modo alterado com a entrada de Schulz.

AfD ainda sem candidatos

O partido tem, por outro lado, problemas de desunião e ainda não conseguiu, a seis meses da eleição, chegar a uma lista definitiva de candidatos, notava esta semana o diário Tagesspiegel. No entanto, como sublinha o professor de Ciência Política Carsten Koschmieder, da Universidade Livre de Berlim, à emissora alemã Deutsche Welle, os potenciais eleitores da AfD tendem a ser indiferentes às discussões intrapartidárias, já que não é a linha política exacta do partido que motiva o seu voto, e sim o facto de ser um protesto.

Merkel, que lidera o Governo desde Novembro de 2005, já se coligou com o SPD, na sequência da primeira votação em que o resultado foi muito próximo entre os dois partidos, com o FPD após as eleições de 2009, e novamente com o SPD em 2013, quando o FDP ficou fora do Parlamento.

A hipótese de coligação mais antecipada continua a ser uma nova grande coligação. Mas também cada vez mais é evocada a possibilidade de uma coligação de esquerda (vermelho-vermelho-verde), nunca tentada a nível federal sobretudo por causa das posições anti-NATO e antieuro da extrema-esquerda.

Por isso também é que as eleições no Sarre vão ser vistas com especial interesse: uma coligação incluindo o partido Die Linke num estado da parte ocidental da Alemanha em que a esquerda radical costuma ter piores resultados enviaria, sublinha o Financial Times, uma mensagem a Berlim.

 

 

 

 

 

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