“Do ponto de vista orçamental vivemos uma falácia insustentável”

Luís Cassiano Neves, presidente da Federação Portuguesa de Rugby, faz um balanço das principais medidas já implementadas pela sua direcção e admite um cenário de “falência iminente”.

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Rui Gaudêncio

No dia em que se cumprem dez anos sobre a única presença de Portugal num Campeonato do Mundo de râguebi, Luís Cassiano Neves, presidente da Federação Portuguesa de Rugby, traça um cenário sombrio sobre a realidade actual da modalidade no país. No cargo desde o final de 2015, o dirigente admite que, apesar de, do ponto de vista desportivo, os objectivos estarem a serem plenamente cumpridos, continua por resolver a questão essencial: conciliar as ambições competitivas internacionais com os parcos recursos financeiros do organismo.     

Assumiu a presidência da FPR há 16 meses, qual é o retrato actual que faz da federação?
Está ainda em fase de reestruturação, a todos os níveis. Queremos marcar presença no Mundial 2023, recolocar a selecção no top 22 do ranking da World Rugby o mais rapidamente possível, ter competições internas mais credíveis e competitivas, aumentar o número de praticantes e o número de árbitros, mas ainda não resolvemos a questão essencial: adequar as nossas ambições, a nossa estrutura orgânica, o nosso processo decisório, aos recursos financeiros e humanos que temos. O râguebi português pode e deve ter ambições competitivas internacionais, mas para tal teremos de deixar de fazer algumas coisas que temos feito, que as pessoas tomam por garantidas, e que nem sequer são valorizadas. Temos feito coisas no Alto Rendimento, no Desenvolvimento, na Comunicação. Faremos coisas a breve trecho nas competições, mas tudo será em vão se não equilibrarmos as contas.

Há um ano referiu que a FPR tinha andado a viver acima das suas posses e que chegou a uma situação financeira perto da falência técnica. Conseguiu resolver o problema?
Em 2016 reduzimos a folha salarial em cerca de 20% e reduzimos as despesas com actividade, sobretudo ao nível de selecções. Mas o problema está longe de estar resolvido. A situação de falência iminente é ainda real. Abril será o mês em que esta direcção apresentará um quadro fiel da nossa realidade financeira e apresentará propostas radicais para restabelecimento imediato do equilíbrio financeiro.

Quando assumiu o cargo, em Novembro de 2015, existia a ameaça da World Rugby de reduzir os apoios a Portugal devido aos maus resultados desportivos. Esses cortes concretizaram-se?
Contra o que nos foi prometido, concretizaram-se. A primeira coisa que esta direcção fez foi sentar-se à mesa com a World Rugby. Fomos alvo de avaliações negativas, sobretudo no que respeita ao Alto Rendimento. Tudo o que decidimos então, incluindo a definição de objectivos estratégicos que contemplavam a possibilidade de despromoção ao Trophy, teve o aval da World Rugby. Foi por isso com surpresa que recebemos, sem aviso prévio, a notícia que Portugal deixava de ser um país “Performance 1”, gozando dum subsídio anual em torno dos 140 mil euros, para passar a receber 50 mil em 2017. No Desenvolvimento as coisas foram semelhantes e recebemos a informação dum corte de cerca de 90 mil euros no subsídio anual. Estamos em negociações para repor o nível de financiamento anterior. 

Qual é o valor actual do passivo da federação? 
Um pouco mais de 600 mil euros.

Esse montante tem sido amortizado?
Em 2016 reduzimos residualmente o passivo, mas no contexto actual será impossível pensar-se em redução, a não ser que as nossas propostas sejam aprovadas e implementadas. Passámos de receitas totais anuais a rondar os 2,5 milhões de euros para cerca de 1,4 milhões. Temos que nos adaptar urgentemente.

Os árbitros recusaram-se a dirigir os jogos nas últimas semanas. É um problema financeiro ou de comunicação?
É um problema de vários anos. Os sucessivos atrasos nos pagamentos, a falta de aposta na formação inicial e contínua, a falta de apoio em termos condições de trabalho, conduziram a um sentimento de revolta na classe. Mas conduziram, é preciso admiti-lo, a uma falta de legitimidade para exigir da arbitragem coisas absolutamente necessárias, como condição física, avaliações técnicas exigentes e regulares, entrega de boletins de jogo em tempo útil e preenchidos de forma correcta. A questão é também, mas não apenas, financeira e resulta dum acumular de situações de vários anos. Aliás, infelizmente não existe no contexto financeiro actual nada de diferente do que se verificou no passado. Por isso, a mera questão financeira nunca justificaria sozinha esta greve. A direcção fez o que lhe competia: ouviu e respeitou os pedidos dos árbitros, e chegou a um acordo possível. Haverá um problema de comunicação, mas apenas porque a representação da classe parece-nos disfuncional. Temos tentado, desde o início do mandato, falar com os árbitros, mas a ANAR tem tido dificuldades em congregar a vontade da maioria da classe. Historicamente, o Conselho de Arbitragem tem desempenhado a função de representante da classe, o que é um contra-senso. O Conselho de Arbitragem nomeia os árbitros, deverá classificá-los, avaliá-los, definir conteúdos programáticos no seu currículo de formação. Como pode, nesta posição de supervisão, ser também o seu representante institucional? Isto é a mesma coisa que dizer que os trabalhadores da AutoEuropa são representados pelo conselho de administração. Este é um dos mais sérios equívocos na questão da arbitragem nacional, e torna impossível estabelecer um quadro formal de negociações e acordos.

Mas foram dados passos no sentido de uma aproximação de posições?
Quisemos, desde o início do mandato, celebrar um contrato de direitos e deveres com os árbitros, e não foi por nossa vontade que este contrato deixou de se realizar. Penso que temos desempenhado um papel importante na valorização da ANAR [Associação Nacional de Árbitros de Rugby] e da sua função representativa, e temos a certeza que esta aposta de ruptura trará benefícios à relação entre todas as partes. Mas todo o râguebi, incluindo federação, árbitros, conselho de arbitragem, clubes, quer conhecer uma classificação dos árbitros, a sua avaliação em função dos jogos, o processo e números de recrutamento de novos árbitros e sua formação, os critérios que orientam a actividade. Estas coisas não estão feitas ou não são visíveis para a comunidade e como tal não têm o necessário reconhecimento e impacto. Queremos aprovar mudanças neste âmbito, passando a vertente do recrutamento e formação inicial para a área do Desenvolvimento, delegando competências nas associações regionais. Queremos que exista meritocracia transparente na definição das categorias de árbitros e uma classificação pública.

Queremos que os árbitros tenham mais exigência. É um processo que tem de ser negociado e temos estado a trabalhar com o conselho de arbitragem neste sentido. Mas os árbitros, talvez por incompetência comunicacional nossa, encontraram na direcção da FPR o seu inimigo. Acho curioso. A este propósito, recorde-se que esta direcção aprovou medidas de ruptura de apoio à arbitragem, que resultaram na indicação pelos clubes de mais de 60 nomes para árbitros fiscais, colocando um ponto final numa queixa legítima dos clubes. Foram consagradas penalizações financeiras para quem não cumprisse. O que é que foi feito com esta iniciativa? Quem dos 60 foi nomeado para apitar? Nós não controlamos este tipo de situações. Em defesa do conselho de arbitragem, devemos assumir que pouco pode ser exigido a um sector que custa 150 mil euros por ano, dos quais cerca de 100 mil são consumidos por despesas e prémios nas competições. Esta direcção fará em Abril propostas que permitirão que a arbitragem tenha os recursos necessários para ser respeitada.

Pode referir quais são?
Posso adiantar genericamente algumas das principais áreas que serão alvo de propostas, porque devem ser os delegados da Assembleia Geral os primeiros a conhecer em detalhe quais são. Na génese do nosso pensamento estão duas ideias essenciais: primeiro, é para nós evidente que, com a actual estrutura de custos, a FPR fechará portas a muito breve prazo; em segundo, consideramos que existe um enorme desequilíbrio entre o esforço que a federação faz para a sustentabilidade financeira da modalidade e aquele que é protagonizado pela massa filiada, composta por clubes e praticantes. Naturalmente, conhecemos bem as dificuldades que afligem os nossos clubes e temos de ser cautelosos com as propostas que vamos apresentar. Sabemos que tudo começa com um emagrecimento radical dos custos internos, e temos de ser ainda mais agressivos neste aspecto, o que implica cortar inevitavelmente actividade. Mas o râguebi português tem de compreender que do ponto de vista orçamental vivemos uma falácia insustentável. O râguebi português tem um orçamento anual de cerca de 1,4 milhões, e apenas 20 mil euros resultam de contribuições de clubes ou praticantes. A Holanda, por exemplo, tem um orçamento de 1,2 milhões e 50% é resultado de contribuições directas de clubes e praticantes.

Em Portugal, realizámos uma consulta a federações de modalidades amadoras com realidades orçamentais semelhantes à nossa e apercebemo-nos que a contribuição da massa filiada cifra-se em valores muito superiores aos nossos. Para nós, é incompreensível que um jogador federado não pague qualquer valor de inscrição à federação; que um clube da principal divisão pague 400 euros de taxa de inscrição; que a federação pague cerca de 60 mil euros em seguros desportivos de jovens que, muitas vezes, pagam valores anuais aos clubes para a prática da modalidade; que a FPR pague cerca de 100 mil euros pela actividade dos árbitros nas competições nacionais. Nada disto faz muito sentido e teremos de começar a mudar este paradigma. Como pode a federação ter recursos para regular as competições, para decidir bem e atempadamente, para investir em marketing e comunicação, para investir em programas de alto rendimento com os melhores jogadores nacionais? É compreensível que as pessoas queiram tudo, com o mínimo custo associado. Mas a nós compete-nos dizer a verdade e implementar políticas sustentáveis.

Carlos Amado da Silva, o seu antecessor, afirmou antes das últimas eleições que os resultados desportivos das selecções seniores eram o calcanhar de Aquiles da direcção que liderava. Consegue identificar qual tem sido o seu?
Tornou-se evidente que as eleições, muito disputadas, partiram a comunidade ao meio. Mas sinto que os clubes querem mudar, que estão empenhados em construir um râguebi mais coeso, mais solidário. Por isso, penso que o nosso calcanhar de Aquiles tem sido uma percepção generalizada de que as coisas não estão a mudar com a velocidade necessária. E eu não vou fazer uma defesa do nosso trabalho, por duas razões: por um lado, porque temos a certeza que os frutos serão evidentes a breve trecho; por outro, porque devemos ter a humildade de aceitar que errámos algumas vezes e poderíamos ter sido melhores noutras. Só com uma federação melhor conseguiremos juntar toda a comunidade em torno do nosso objectivo comum: ter um râguebi melhor.

Quais foram as principais medidas implementadas pela sua direcção nestes 16 meses?
Aprovámos um novo organigrama para todas as áreas e aprovámos o correspondente descritivo funcional, que tem sido essencial para termos uma organização mais competente e responsável. Temos vindo a reduzir os custos, e implementámos uma nova forma de reporte das contas, que aproxima as pessoas da nossa realidade financeira. No Alto Rendimento, temos uma equipa renovada e estamos a estudar de que forma podemos ter um programa que possa dar condições aos jogadores para serem verdadeiros praticantes de alto rendimento, com uma visão que não cede perante resultados pontuais. A aposta na juventude, que deverá ser sempre complementada com a participação dos melhores jogadores, tem sido evidente. O que nos preocupa é assegurar que estes jovens de 20 ou 21 anos possam continuar a fazer do râguebi uma prioridade durante os próximos cinco ou seis anos. Por outro lado, devemos compreender que existe um trajecto competitivo que leva um jovem de 14 anos a ser internacional. Devemos procurar condições para permitir que as nossas equipas de Sub-17, Sub-18 e Sub-20 tenham quatro a seis jogos internacionais por ano de bom nível competitivo. Infelizmente, esta é uma realidade ainda muito distante.

Na Comunicação, temos feito um enorme investimento nas redes sociais, o que tem sido testemunhado pelos números de crescimento e exposição no Facebook e Instagram. Temos comunicado com maior regularidade, temos procurado produzir conteúdos modernos e que promovam uma aproximação entre os jogadores e competições, e a comunidade. Ainda neste âmbito, vamos introduzir boletins de jogo electrónicos e a gestão de informação de jogos e jogadores online. Isto não só nos permitirá uma maior certeza na gestão das competições, como nos permitirá resolver um tema crítico e para o qual não temos tido resposta, que é o da actualização dos resultados em tempo real. No Desenvolvimento, mantivemos a nossa aposta no Desporto Escolar, onde somos uma das modalidades de referência. Os convívios organizados antes dos jogos internacionais são evidência da excelente ligação que temos ao meio escolar. Celebrámos contratos-programa com todas as associações regionais, que consideramos serem a base fundamental no crescimento dos clubes e da formação dos jogadores, e ajudámos à reactivação da AR Norte. Ainda nesta área, protocolámos com o Cascais a integração do programa “Oh Gui” na federação, o que permitirá que os clubes que trabalham com pessoas com incapacidade física e cerebral possam fazê-lo dentro dum quadro regulamentar aprovado pela FPR.

Estamos também a ultimar a integração do “Touch Rugby”, respeitando a sua autonomia e o trabalho fantástico que tem sido feito até ao momento. Encaramos o “Touch” como uma ferramenta essencial para a divulgação da nossa modalidade. Por fim, passámos a colaborar de forma regular com o programa de râguebi nas prisões, liderado pela Associação Rugby para Todos, reforçando o papel de integração social que o râguebi deve desempenhar. Outra novidade é que este será o ano em que voltaremos a organizar um circuito nacional de Beach Rugby, desta feita sob a égide da federação. Por fim, não posso deixar de me referir ao râguebi feminino. Estamos preocupados porque os números de praticantes são ainda residuais, e esta realidade acaba por prejudicar as nossas ambições internacionais. Temos tido resultados quase inexplicáveis se considerarmos a realidade subjacente. Temos tentado perceber de que forma poderemos transformar o râguebi feminino numa realidade de um milhar de jogadores a médio prazo, mas precisaremos de financiamento para crescer exponencialmente. Vamos promover algumas alterações nos modelos competitivos, e não descartamos exigir do ponto de vista regulamentar um envolvimento dos melhores clubes nacionais no râguebi feminino, num prazo de dois a três anos.

Ainda não foram anunciados os modelos competitivos para 2017-18…
Nos termos dos estatutos, temos até 30 de Abril para o fazer e existem considerações legais que devem ser acauteladas. Queremos assegurar-nos que a transição é feita de forma compatível com os regulamentos e leis aplicáveis. No entanto, após um processo de consulta muito aceso, em que ficaram bem vincadas as enormes distâncias entre clubes quanto a expectativas e desejos, comunicámos a nossa ideia base para o futuro das competições em Portugal, assente numa oferta que respeite a capacidade competitiva das equipas. Vamos ter no futuro oito clubes no primeiro escalão e dez no segundo. Depois teremos uma competição regional, que será composta por três ou quatro séries, e que dará acesso a uma fase final nacional de apuramento. Procuramos, com esta ideia-base, respeitar diferenças competitivas, oferecer competição regular a todos, e permitir que a selecção tenha períodos de acesso exclusivo aos atletas. Paralelamente, vamos pegar na excelente ideia que o Comité Regional de Rugby do Centro tem fomentado nos últimos anos, a do circuito de sevens para clubes emergentes, e nacionalizá-la. Passaremos a ter um circuito anual, que se disputa em paralelo com os campeonatos, com etapas regionais e nacionais. A grande novidade será a inclusão de equipas universitárias, que beneficiarão de um regime de dupla inscrição e que poderão assim apresentar jogadores inscritos por clubes. Estamos a ultimar as negociações com a FADU para tornar este desígnio realidade.

Quando assumiu o cargo, a sua primeira opção para seleccionador era Martim Aguiar, mas a contratação apenas foi concretizada um ano mais tarde. Foi uma escolha acertada?
A nossa primeira opção passou sempre pelo Ian Smith, o Martim Aguiar e o João Pedro Varela. O Ian Smith entrou como treinador e passou para director de Alto Rendimento com a entrada do Martim. Com os cortes da World Rugby, fomos forçados a antecipar o final da nossa relação com o Ian, que estava previsto para o final de 2017. Temos agora, como sempre quisemos, o Martim e o João Pedro, e juntámos o David Penalva, que tem tido um impacto tremendo junto do grupo. Vamos sentar-nos com os três para assegurarmos a sua permanência connosco até ao final do mandato. Todos reconhecemos melhorias, mas todos sabemos que temos um longo caminho a percorrer se queremos trabalhar a um nível comparável ao que fazem a Espanha ou a Alemanha, para não falar das melhores selecções do mundo. As pessoas não se apercebem, mas estamos muito longe das realidades dos países que disputam o Rugby Europe Championship. E nem tudo se resume a falta de dinheiro.

Portugal já garantiu a participação no play-off de apuramento para o Rugby Europe Championship, no qual vai defrontar a Bélgica, e a entrada no processo de qualificação para o Mundial 2019, onde pode defrontar a Espanha dentro de um ano. É possível atingir esses dois objectivos?
Tem sido muito interessante ver o grupo estabelecer os seus objectivos. Que ninguém duvide, eles querem regressar já ao Championship e querem vencer os play-offs de acesso ao Mundial. Da nossa parte, é importante reconhecer que qualquer um dos dois objectivos será sempre extraordinário, porque estamos longe destas realidades. A Bélgica joga com uma mão-cheia de profissionais. Nós, este ano, jogámos apenas com dois. A Espanha, então, vive uma realidade completamente distinta, já que dos habituais 23 convocados, 17 ou 18 jogam em competições profissionais. Por isso, estamos numa situação em que a ambição de todos nós é alimentada por um grupo fantástico de jogadores que não aceita a limitação da sua ambição em função de condicionalismos que não dominam nem controlam. Estes jogadores não têm exigido nada, mas nós sentimos que temos de entregar muito mais, para que eventuais resultados positivos deixem de ser milagres para passarem a ser resultados do processo e da visão. Mas, repito: nada disto será possível sem resolver a questão financeira primeiro.

A ausência dos jogadores que alinham em França nas convocatórias da selecção nacional continua a gerar polémica. Qual é a origem desse problema e como é que ele pode ser resolvido?
Fizemos viagens a França, falámos com dezenas de jogadores e normalizámos, do ponto de vista pessoal, as nossas relações. A federação não tem qualquer problema com qualquer jogador. O que sucede é que o que se passa em Portugal está a anos-luz do que eles vivem diariamente nos seus clubes e nós não temos tido capacidade para os atrair para o nosso projecto. É, infelizmente, esta a realidade. Não aceito que se diga que não fizemos nada para os ter connosco e recuso-me a culpar eventos passados pela situação actual. Limito-me a reconhecer o contexto. E também não aceito que julguem jogadores profissionais por falta de patriotismo ou o que seja, porque esse não é o caso. Estamos a falar de pessoas que têm, regra geral, contratos de curta duração, que têm de justificar diariamente o salário que recebem e que correm o risco de perder o seu vínculo laboral. Cabe à federação ajudá-los a resolver esta questão, de uma de duas formas: ou com condições de trabalho, que não temos presentemente; ou com um projecto desportivo apaixonante e promissor, que estamos a construir. Continuamos a contar com eles e acredito que veremos mais e mais jogadores profissionais a integrar os nossos trabalhos. Entretanto, vamos contando com os nossos Lobos, que têm sido inexcedíveis, que nos enchem de ambição para o futuro.

Cumprem-se nesta sexta-feira dez anos que Portugal garantiu o apuramento para o Mundial 2007. O que é que o râguebi português ganhou e perdeu com a presença em França?
Ganhámos um lugar no imaginário dos portugueses, e um potencial para ser uma das três principais modalidades amadoras no país. Ganhámos níveis de financiamento improváveis e, por essa via, formámos pessoas válidas e vimos crescer novos clubes, que são tão importantes para nós. Contudo, tornámo-nos reféns inadvertidos de uma realidade semiprofissional. E quando o dinheiro desapareceu, o edifício começou a ruir. No meio desta tempestade, voltámos a ver o voluntariado, o espírito de paixão que liga tantos a esta modalidade. O râguebi deve continuar a ser essencialmente amador, sendo a selecção nacional o único pólo de realidade profissionalizante viável. O que o râguebi português ganhou em França excede largamente as dificuldades que depois sentiu, que são fruto de alguns equívocos de gestão. Saberemos repor a sustentabilidade financeira, para que o legado de 2007 possa continuar a mostrar a sua força. 

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