Futuro de Dijsselbloem no Eurogrupo cada vez mais incerto

Só o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, assumiu a defesa do ministro das Finanças holandês.

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Reuters/STRINGER

O futuro político de Jeroen Dijsselbloem à frente do Eurogrupo está a ser cada vez mais contestado em Bruxelas e nas capitais dos Estados-membros, após as declarações sobre os países do Sul gastarem dinheiro “em copos e mulheres”. O ministro das Finanças da Holanda, em funções, recebeu esta quarta-feira um coro de críticas muito duras de representantes de várias instituições europeias e famílias políticas. Dijsselbloem lamentou se alguém se sentiu ofendido, mas recusou demitir-se.

Jeroen Dijsselbloem já se encontrava numa situação de enorme fragilidade após as eleições na Holanda, onde o seu Partido do Trabalho sofreu uma pesada derrota na semana passada. Mas as reacções em catadupa desencadeadas em Bruxelas e outras capitais após as polémicas declarações tornaram mais vulnerável a situação do holandês. Várias vozes pedem agora abertamente a sua demissão como presidente do fórum dos ministros das Finanças da zona euro.

Dijsselbloem conseguiu provocar até o repúdio dos parceiros da própria família política europeia a que o seu Partido do Trabalho pertence. O presidente do Partido Socialista Europeu considerou as declarações “simplesmente inaceitáveis”. “É realmente uma vergonha que um representante da nossa família política contradiga a essência dos valores da unidade, respeito e solidariedade”, sublinhou em comunicado Sergei Stanishev.

Também o líder da bancada socialista no Parlamento Europeu, Gianni Pittella, classificou as palavras de Dijsselbloem como “vergonhosas e chocantes” e questionou se alguém que pensa assim pode ser apto para presidir ao Eurogrupo.

Em declarações ao PÚBLICO, o vice-presidente do PPE Paulo Rangel afirmou que o político holandês “deve renunciar imediatamente ao cargo” de presidente do Eurogrupo, devido “ao lado discriminatório e sexista de declarações condenáveis”.

"Ninguém tem o direito de ofender qualquer nação ou povo com comentários racistas ou sexistas, os comentários do presidente do Eurogrupo são inaceitáveis", afirmou o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, no final de um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa.

“Eu não o teria dito e creio que é um erro”, afirmou por seu turno a comissária dinamarquesa responsável pela Concorrência, Margrethe Vestager, questionada em conferência de imprensa sobre os comentários do holandês. Já o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, pôs água na fervura: “Acredito que aquilo que o senhor Dijsselbloem parece ter dito – conhecendo-o - não reflecte o que ele pensa no fundo”.

O futuro de Jeroen Dijsselbloem à frente do Eurogrupo já tinha suscitado dúvidas no seguimento das eleições holandesas, ainda antes da actual polémica. O Partido do Trabalho elegeu apenas nove deputados - perdeu 29 -, e a participação desta força política ou do próprio Dijsselbloem na futura coligação governamental parece muito improvável.

Esta segunda-feira, na primeira reunião do Eurogrupo após as eleições, Dijsselbloem reconheceu que “as probabilidades de integrar o próximo Governo são extremamente magras”. Mas também deixou claro que, enquanto não houver uma nova coligação governamental em Haia, ele é ministro das Finanças em funções e mantém-se como líder do Eurogrupo. O holandês recebeu aliás rasgados elogios e o apoio de vários pesos-pesados do Eurogrupo como a Alemanha e a França.

O mandato de presidente do Eurogrupo é de dois anos e meio e Dijsselbloem termina o seu segundo termo em Janeiro de 2018. As regras internas são suficientemente vagas referindo apenas que o candidato a presidente deve ter o cargo de ministro das Finanças. Mas esse não é o estatuto actual de Dijsselbloem que foi candidato em 2015, vencendo o homólogo espanhol Luis de Guindos.

Um cenário que pode surgir é o processo de negociações para formação de um Governo na Holanda se arrastar. Nesse caso, Dijsselbloem poderia manter-se no cargo de ministro das Finanças quase até ao termo do seu mandato no Eurogrupo, tornando-se entretanto inútil o seu afastamento antes de Janeiro. Mas outro cenário possível, e até mais provável, é que haja um novo Governo, sem o Partido Trabalhista, muito antes do final do ano.

Na segunda-feira, Dijsselbloem garantiu que vai discutir o assunto com os seus colegas da zona euro para estudar as diferentes soluções. Mas era sem contar com a tempestade que entretanto provocou com as declarações sobre os países do sul e do norte. Agora tem a contestação aberta de um país – Portugal – que pede o seu afastamento e oposição crescente em Bruxelas e na sua família política.

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