Estudantes voltam às casas da Baixa de Coimbra e põem em prática o que aprenderam

Colectivo de alunos de arquitectura apresentou as intervenções da segunda edição da iniciativa, que irá chamar outros cursos, como história, antropologia e sociologia, para enriquecer os projectos.

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nelson garrido

Depois de no ano passado a intervenção ter incidido em dois espaços comerciais, numa habitação e na cozinha económica, este ano os estudantes do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra voltam à Baixa da cidade para continuar a ligar a teoria à prática, a fazer a ponte entre as salas de aula e a vida das pessoas.

No decorrer das primeiras intervenções o colectivo deparou-se com várias características específicas daquela zona da cidade: a habitação é precária, há uma apropriação incorrecta do espaço público e há uma pressão imobiliária crescente. “Há uma série de pessoas que investem sem a melhor noção das dinâmicas que fazem a cidade mexer”, afirmou o estudante de arquitectura Francisco Paixão, na sessão de apresentação do plano de actividades da segunda edição do Há Baixa, nesta terça-feira.

Assim, as intervenções físicas de maior dimensão fazem-se em habitações. “Vamos percebendo melhor que existem problemas que são muito complicados, as pessoas vivem muito mal”, afirma João Peralta, também do colectivo.

Está programada a intervenção em dois apartamentos t0, em que o objectivo é reorganizar os espaços, sendo que nenhuma das habitações tem cozinha. Os estudantes chegaram a um dos casos através da cozinha económica, tal como já tinha acontecido no ano passado com a casa do sr. Jorge, e o outro t0 é para um artesão que vive e trabalha na Baixa e ia ficar sem habitação.

A Casa Medieval, na rua do Sargento Mor, é outro dos espaços a intervir. A casa é sede de uma associação de carácter essencialmente turístico, mas é também habitada. O espaço “precisa de obras”, sublinha João Peralta, que esclarece que é preciso também ter “uma interpretação geral do que isto vai ser” e compreender o edifício, “percebendo como vai ser [daqui] para a frente”.

É neste campo que podem entrar os alunos de outros cursos. Se a primeira edição teve só estudantes de arquitectura e de design e multimédia, estudantes de história, antropologia e sociologia podem ajudar a enriquecer os projectos e a discussão, entendem os elementos do Há Baixa.

Uma das novidades em relação à primeira edição é a ocupação temporária, num tema que aborda a questão da desocupação dos pisos térreos. O colectivo encontrou um espaço livre na Baixa para “projectos de quem não tem dinheiro para pagar o aluguer”. João Peralta explica que, depois de ouvir alguns nãos, houve um proprietário que se predispôs a ceder o seu espaço comercial desocupado “durante uns meses”. Esta loja vai também sofrer uma remodelação.

Este ano, o palco do Largo do Romal regressa, mas não obrigatoriamente nos mesmos termos. “Podemos repensar o que já temos”, refere João Peralta, para afirmar que o palco pode assumir a mesma forma, mas também pode ser alterado. As oficinas teórico-práticas, tendo também uma componente de reforço de comunidade, são também para manter, refere o estudante. As inscrições para integrar as equipas do Há Baixa vão até dia 28 deste mês e os trabalhos de construção decorrem entre 1 e 16 de Julho.

Mas as alterações em relação à primeira edição não se ficam pela abertura de um espaço de ocupação temporário. Destinado aos alunos que não têm disponibilidade para trabalhar a tempo inteiro no projecto mas querem participar, o colectivo lançou um concurso.

Com o objectivo de “pensar em novas oportunidades para a promoção e vivência do espaço público”, enuncia Carlos Fraga, os estudantes candidatam um projecto que estará num largo da Baixa e que “fará a alteração na forma como aquele largo é usado e apropriado pelas pessoas”.

O projecto não tem configuração definida. Pode ser uma estrutura, uma escultura, uma programação cultural ou assumir outra forma para dinamizar o Largo da Fornalhinha, o Largo do Paço do Conde ou o Largo do Adro de Baixo, ou nos três em simultâneo. O projecto vencedor também entrará na edição Sons da Cidade 2017, à semelhança do que aconteceu no ano passado com o palco do Largo do Romal.

Carlos Fraga sublinhou a interacção com a população da Baixa como um dos princípios da iniciativa. O projecto tem como premissas servir de complemento ao estudo universitário e uma participação dinâmica com a comunidade. 

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