“Todos contra Macron” é a próxima etapa das presidenciais francesas

A verdadeira campanha começa agora. O ex-ministro da Economia vai estar debaixo de fogo de todos os outros .

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Reuters/PASCAL ROSSIGNOL

O debate de segunda-feira não marcou decisivamente a competição eleitoral francesa. Os cinco "candidatos principais" foram prudentes e limitaram-se a marcar o terreno. Houve muitas "farpas" mas nenhuma "bomba". Observou-se um esboço da polarização fundamental entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen. François Fillon manifestou a vontade de recuperar o terreno perdido. Mas, a pouco mais de um mês da primeira volta, a 23 de Abril, a campanha vai agora entrar na fase decisiva — "a doer".

Para o socialista Benoît Hamon, que se arrasta na casa dos 12% das intenções de voto, e para François Fillon, candidato de Os Republicanos (direita), abaixo dos 20%, é uma questão de vida ou morte mudar o actual quadro das sondagens, que faz antecipar uma segunda volta entre Macron e Le Pen (a 7 de Maio). Hamon e Fillon, cada um na sua área, debatem-se com um problema de "credibilidade" quanto à possibilidade de passarem à segunda volta, o que estimula o "voto útil" em Macron para bater Le Pen.

Não se trata apenas dos candidatos. Uma vitória de Macron abalaria o actual sistema partidário, abrindo crises dramáticas na direita e na esquerda tradicionais.

A nova clivagem

A pré-campanha foi dominada pelo "fenómeno Macron" que propôs ao eleitorado um confronto para lá da esquerda e da direita tradicionais, assumindo uma outra clivagem: a dos "progressistas" contra os "conservadores" de esquerda e direita. Coloca a "separação das águas" entre "europeístas e soberanistas", com a visão optimista de uma França voltada para Europa, para o mundo e a fazer reformas. Designou como adversário principal o programa nacionalista, proteccionista e xenófobo de Marine Le Pen. Esta responde fazendo de Macron o adversário principal, apelandoao contraponto entre "patriotas e mundialistas".

Para realizar o seu programa, Emmanuel Macron dirige-se ao eleitorado da esquerda, do centro e da direita. É a chave do seu êxito mas também encerra uma fragilidade: a necessidade de agregar eleitores heteróclitos e vindos de contraditórias áreas políticas, obriga-o a um discurso relativamente genérico, observa o politólogo Jerôme Fourquet. Ontem, o secretário-geral dos Republicanos, Bernard Accoyer, acusou-o de "não dizer nada e de estar de acordo com toda a gente". Macron tem ainda um outro ponto fraco: o seu eleitorado virtual é menos fidelizado do que o de Fillon ou de Le Pen.

Desalojar Macron da vanguarda nas sondagens é vital para todos os outros, à excepção do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, cujo combate visa Hamon e os socialistas. A possibilidade de recuperação de Hamon é escassa, mas uma vitória de Macron seria fatal para o Partido Socialista que ele encarna. Fillon precisa de subir rapidamente nas sondagens para mostrar que pode vencer, começando por recuperar os apoios que perdeu na direita. Marine Le Pen tem o máximo interesse em afastar Macron da segunda volta: é o seu mais perigoso adversário. Teria toda a vantagem em defrontar o fragilizado Fillon.

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