Correr maratonas com o personal trainer no pulso

O primeiro relógio capaz de medir o ritmo cardíaco surgiu na década de 1980. Nos últimos anos, o conceito tornou-se muito popular entre atletas amadores.

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Relógios e pulseiras desportivas monitorizam a actividade do utilizador Reuters/FABRIZIO BENSCH

“Além dos ténis e do equipamento, levo sempre o relógio”, diz Bruno Claro, 36 anos, que se prepara para correr a EDP Meia Maratona de Lisboa este domingo. Não é um atleta profissional – embora escreva frequentemente sobre o assunto no seu site sobre desporto –, mas está confiante que consegue completar 21 quilómetros sem parar desde o início da Ponte 25 de Abril, ainda na Margem Sul, até ao Mosteiro dos Jerónimos.

O relógio monitoriza a actividade física e funciona como um personal trainer digital. Dá para ouvir música, enquanto mede o número de calorias gastas, a distância percorrida, a velocidade e o batimento cardíaco. Este tipo de aparelho ocupa a primeira posição no pódio das maiores tendências fitness globais desde 2016, segundo os relatórios do Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM).

O sector dos aparelhos tecnológicos com que nos podemos equipar (conhecidos em inglês como wearables) deve ultrapassar os 25 mil milhões de dólares (cerca de 23 mil milhões de euros) até 2019 segundo valores do analista de mercado CCS Insight. Só os dispositivos que monitorizam a actividade física de desporto, foram responsáveis por mais de metade das vendas de wearables em 2015.

"Dão uma enorme liberdade e permitem que o telemóvel fique em casa. Gosto de correr com o menor número de acessórios possível,” explica Claro, assessor na câmara de Lisboa e autor do blogue Correr Lisboa. “A tecnologia permite que as pessoas comuns, que não são atletas de alta competição, possam trabalhar sozinhas ao tornarem-se os seus próprios treinadores.”

 Cada vez mais atletas (amadores e profissionais) utilizam aquele tipo de aparelhos no dia-a-dia e para grandes eventos desportivos. Em Maio do ano passado, 73% dos participantes da maratona de Trollinger, na Alemanha, disseram utilizar um assistente tecnológico digital (no pulso, na forma de relógio, ou no bolso, via aplicação para smartphone). O valor consta de um estudo feito por uma equipa de investigadores da Universidade de Heilbronn. 

 “A grande conclusão é que as pessoas estão cada vez mais interessadas em registar o progresso dos seus treinos. Muitas motivam-se ao ver os parâmetros vitais apresentados nos aparelhos que têm ao pulso”, explicou a investigadora Monika Pobiruchin, ao PÚBLICO.

Os treinadores pessoais digitais começaram a popularizar-se em 2009, com a comercialização da primeira pulseira de desportiva destinada a amadores, a Fitbit. Porém, a tecnologia que torna isto possível antecede a Segunda Guerra Mundial e vem do polígrafo (mais conhecido como “detector de mentiras”). Inventado por John Larson em 1921, o aparelho viria a ser a primeira máquina a incluir sensores para medir o batimento cardíaco. Só seis décadas depois, em 1984, é que chegou o primeiro relógio desportivo – reservado aos atletas de alta competição – que tinha um electrocardiograma básico.

Agora, estes aparelhos existem como t-shirts ou sapatilhas. Em Dezembro de 2016, a empresa americana de calçado desportivo Under Armour lançou um par de sapatilhas com um microchip embutido na sola que detecta quando o utilizador começa a mover-se mais rapidamente que oito quilómetros por hora e começa a medir a viagem através de um acelerómetro.

Há ainda a empresa canadiana Hexoskin, que desenvolve camisas capazes de medir o batimento cardíaco, o ritmo respiratório, e a intensidade da actividade com o tecido. Porém, o modelo mais barato destas t-shirts custa cerca de 371 euros. Em 2012, a Universidade do Minho desenvolveu um projecto para nadadores de alta competição: um fato que permitia avaliar, em tempo real, o desempenho dos atletas graças a cerca de vinte sensores electrónicos integrados no tecido.

“Muitos atletas medem o seu desempenho através das distâncias que percorrem. Contudo, isto ignora uma informação vital: a intensidade,” explica o professor responsável pela investigação departamento de fisiologia da Universidade de Sheffield Hallam, no Reino Unido. “A percepção de como  uma pessoa normal deve treinar mudou pouco desde o começo dos anos 1990. Isso quer dizer que um atleta amador não se deve preocupar com aplicações e aparelhos que prometam melhorias na ordem dos 1%. Antes disso é importante ter atenção à qualidade de sono, treinos e nutrição. Por vezes são elementos ignorados a favor de objectos novos e brilhantes com bom marketing.”

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