Espanhóis dominam metade do olival e três quartos do amendoal do Alqueva

O regadio do Alqueva continua a ser dominado pelo olival, mas o amendoal é cada vez mais uma cultura emergente. No azeite ou nas amêndoas, a presença espanhola é decisiva

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Preço por hectare regado no Alentejo pode chegar a 20 mil euros RAQUEL ESPERANÇA

O regadio do Alqueva continua a dar boas notícias à agricultura nacional e uma boa parte do seu sucesso tem a marca do investimento dos espanhóis. No final do ano passado, de acordo com um relatório da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), os espanhóis eram donos de 46% da área de olival e controlavam 76% da nova cultura da moda na zona irrigada, o amendoal. Ao todo, e apenas nestas duas culturas, as explorações que estavam na posse das empresas do país vizinho ascendiam a cerca de 18 mil hectares.

As razões para o peso do investimento espanhol no regadio alentejano são muitas, mas, ao contrário do que acontecia nos primeiros passos do projecto, o preço da terra deixou de ser a principal. De acordo com Daniel Montes, agrónomo, agricultor e consultor da Trevo, em Beja, o preço por hectare regado no Alentejo pode chegar aos 20 mil euros, o que compara com os valores praticados nas melhores regiões da Espanha – como a zona de Lérida, na Catalunha. Para Daniel Montes, o que explica a persistência da aposta espanhola no Alqueva é essencialmente um maior número de horas de sol por ano, o custo da mão-de-obra e a disponibilidade de parcelas de terra com grandes extensões – um bem que, de acordo com o consultor, está a tornar-se cada vez mais raro.

Com os portugueses, sejam agricultores locais, agricultores do Ribatejo mais familiarizados com a tecnologia da rega, ou fundos de investimento a dominar o investimento no Alqueva, a presença de estrangeiros serve de complemento a uma dinâmica que nos dois últimos anos continuou a acelerar. O olival continua a ser a cultura por excelência da zona regada, registando um crescimento de mais de 100% nos últimos três anos (passou de 15 mil para 34 mil hectares). A maior fatia dos investimentos continua a dirigir-se para este sector, o que em parte se explica pelos preços do azeite no mercado.

Partindo de uma base menor, o amendoal tem registado nos últimos anos um crescimento ainda mais acentuado, passado de mil hectares em 2015 para 2900 no ano passado. E, de acordo com Daniel Montes, é expectável que se chegue a 2018 com o dobro da área actual. Na base da atracção pelo amendoal, processo no qual os espanhóis têm assumido a liderança, está uma conjuntura favorável nos mercados internacionais provocada pela crise da produção norte-americana – o vale de San Jose, na Califórnia, está afectado pela seca.

Mas há muito mais Alqueva para lá do olival e do amendoal. A rega está na base da multiplicação do milho, da vinha, dos hortícolas, da fruta ou dos cereais, com destaque para a presença do milho em terrenos desde sempre empregues na cultura do trigo de sequeiro. Para lá dos investidores espanhóis, o Alqueva tem merecido a atenção de investidores suíços ou franceses. Os escoceses da Macfarland investem na cultura de papoila para a produção de morfina. A sociedade luso-francesa Maltibérica, liderada pela Unicer, está a potenciar a cultura de malte. E os americanos e empresas do Médio Oriente, como a Aldahra Fagui estão interessadas na Luzerna para a produção de rações.

Preço da água baixou e agricultores estão satisfeitos

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou ontem ao Conselho para o Acompanhamento do Regadio de Alqueva (CAR Alqueva) uma redução no tarifário da água que varia entre os 20% e os 33%. Os descontos para as novas área regadas passam a ser de 60% no primeiro ano e de 40, e 20% no segundo e terceiro ano, respectivamente.

O objectivo que o Governo pretende atingir com esta medida, passa pelo “ aumento do rendimento dos agricultores reduzindo os custos de um dos mais importantes factores de produção, a água” referiu Capoulas Santos. Para o ministro, trata-se de “criar melhores condições de competitividade para as culturas de regadio no Alqueva, dando continuidade à trajectória ascendente das exportações, procurando reduzir importações e atingir o equilíbrio da balança comercial do sector, em valor, no horizonte de cinco anos”.

O presidente da Associação de Beneficiários do Roxo (Abroxo), António Parreira, expressou ao PÚBLICO a sua “satisfação”, frisando que uma baixa no preço da água para rega “é sempre bem-vinda”. Mas se o tarifário lhe merece aplauso, a redução de seis para três no período de descontos, suscita alguma contrariedade nos agricultores. Com Carlos Dias

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