Um ano depois, que ambição terá Cristas?

Na entrevista ao PÚBLICO, a líder do CDS é comedida na ambição. Mas a indefinição do PSD pode dar-lhe uma oportunidade única para mudar a direita.

Paulo Portas, desta vez, ajudou: o presidente mais duradouro do CDS decidiu sair, sem deixar uma sombra — como tinha acontecido há dez anos, noutra etapa da vida do partido.

Assunção Cristas foi eleita há um ano. E o que se pode dizer é que, passado este tempo, o CDS sobreviveu à mudança. Nas sondagens o partido não sobe, mas também não cai, como era tradição nas fases baixas do ciclo político. Na tribuna o partido não surpreende, mas também não desapareceu — como se podia temer com a saída do seu líder carismático.

Há um ano, no congresso, Cristas prometeu um CDS pragmático, mostrando trabalho de casa no Parlamento. Assim o fez, sem mudar praticamente nada ao espaço político onde Portas o deixou: no centro-direita, europeísta, urbano, cada vez menos ideológico e mais terra a terra. 

Na táctica, também aí, o CDS não se mexeu muito: Cristas testou o diálogo com o PS de Costa, mas rapidamente marcou o seu espaço ao lado do PSD. Ainda refém do que se passou no Governo passado, talvez o maior problema da nova liderança seja outro: o de seguir muito o discurso económico de Passos Coelho, às vezes com o mesmo tom de confrontação (pouco em linha com os cartazes que anunciam uma “política positiva”). Nessa linha, pode dizer-se que este CDS mantém coerência, mas perde diferenciação. O CDS conserva o programa, mas perde a flexibilidade que poderia procurar num novo espaço parlamentar em que importa menos quem ganha a eleição e muito mais o peso relativo que cada partido tem no respectivo campo político (à direita, no caso do CDS).

Olhando para o ano que passou, onde Assunção Cristas mais ganhou espaço foi na sua candidatura à Câmara de Lisboa. Avançando antes do PSD e com tempo para ir para as ruas, a líder apostou forte, ganhou espaço e visibilidade. Avançando no meio da indecisão do PSD, pode até ter ganho uma oportunidade. É que, há seis meses, se fosse contra Medina e Santana Lopes, bastava a Cristas chegar aos 7% de Paulo Portas (no distante ano de 2001) para afirmar a sua liderança. Mas agora, se o PSD não encontrar um nome com peso, pode ambicionar mais: apresentar-se como o principal rosto da oposição ao candidato socialista.

Não sabemos se esta será ambição a mais para um partido que já foi grande na capital — e há muito não o é. Não sabemos se Assunção Cristas sairá da sua zona de conforto, assumindo um objectivo maior (que na entrevista ao PÚBLICO preferiu não assumir). Mas sabemos que essa oportunidade está à vista, como há muito o CDS não a tinha: abrir uma nova etapa na vida da direita.

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