Sócrates: “Podem pedir responsabilidades a Passos Coelho no negócio da PT com a Oi”

Ex-primeiro-ministro foi interrogado no DCIAP até às 21h e não se mostrou admirado quanto à possibilidade de haver um novo adiamento na conclusão da investigação.

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José Sócrates à chegada ao DCIAP Miguel Manso
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“Podem pedir responsabilidades ao dr. Passos Coelho no negócio da fusão da Portugal Telecom com a Oi”, declarou o ex-primeiro-ministro José Sócrates à saída do interrogatório no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). O antigo governante confirmou ter sido confrontado, durante as cerca de seis horas e meia que durou a diligência, com alegações do Ministério Público sobre aquele negócio, mas “tão estapafúrdias que não têm o mínimo de sustentação na realidade”.

“Como que o governo a que pertenci teria influenciado para a Oferta Pública de Aquisição da Sonae [sobre a Portugal Telecom] não ter sucesso.  Até eu sair do Governo, em 2010, a PT tinha vendido a Vivo mas mantido uma participação na Oi de 22%. O negócio de fusão com a Oi foi feito muito mais tarde, em 2013, quando o Estado já não tinha influência na PT. Podem pedir responsabilidades ao dr Passos Coelho, que tomou a decisão de abdicar da golden share metendo dinheiro no bolso dos accionistas até por uma questão ideológica, sem acautelar os interesses do Estado”, atacou o principal arguido da Operação Marquês, pouco depois das 21h. Para descrever em seguida como reagiu às perguntas dos procuradores: "Importa-se de justificar aquilo que afirmam? Faça o favor de provar aquilo que diz. Como é que o senhor procurador pode fazer afirmações, atribuir responsabilidades desta envergadura a um anterior governo sem fundamentar o que diz? Não pode".

"Dizem que o voto da Caixa Geral de Depósitos foi decisivo, porque votou contra o negócio. Mas se tivesse votado a favor o resultado teria sido exactamente o mesmo", argumentou o ex-governante. 

Tinha começado a ser ouvido pelas 14h30. "Fiquei espantadíssimo porque o Ministério Público não conseguiu apresentar nada. Só uma escuta ali e outra acolá. Fico espantado como é possível ao fim de três anos e meio de investigação", acrescentou o ex-governante que está indiciado na Operação Marquês por corrupção, braqueamento e fraude fiscal qualificada.

Questionado sobre o prazo previsto para terminar a investigação, esta sexta-feira, Sócrates não se mostrou admirado face a um possível adiamento. "Não me espanta nada que adiem outra vez. É absolutamente escandaloso que o Ministério Público ache que pode agir assim." O antigo governante diz ter saído do interrogatório com a convicção de que, 44 meses depois do início da investigação, "não há nenhuma prova" de que ele cometeu algum tipo de crime. 

"Nunca" recebeu "dinheiro de ninguém"

José Sócrates, tinha chegado ao DCIAP logo após o almoço e à entrada afirmou que ia responder “a todas as perguntas” dos procuradores do Ministério Público e garantiu igualmente que “nunca” recebeu “dinheiro de ninguém”.

À chegada ao DCIAP, o ex-primeiro-ministro voltou a lançar críticas aos investigadores, acusando-os de uma “campanha difamatória”, com acusações "delirantes" e "falsas".

"Os responsáveis deste inquérito parece que gostam de transformar qualquer diligência num espectáculo, numa encenação para as televisões e numa campanha de difamação maldosa nos jornais. Só utiliza estes métodos quem está inseguro. Quem está seguro ou acusa ou cala-se", criticou o antigo primeiro-ministro.

"Quem está seguro não coloca nos jornais delações anónimas para comprometer seja quem for. Venho aqui defender-me da campanha recente de insinuações absolutamente delirantes que pretendem apresentar-me como sendo próximo do dr. Ricardo Salgado", disse ainda Sócrates, exigindo que o Ministério Público apresente provas.

“Nunca recebi dinheiro de ninguém”, garantiu Sócrates, quando foi questionado sobre se recebeu 18 milhões de euros de Ricardo Salgado.

Ex-governante diz que só impediu venda da Vivo

O ex-primeiro-ministro argumentou ainda que a "única intervenção" do seu Governo na PT "foi impedir a venda da Vivo": "Quero recordar que a única intervenção que o Governo a que eu presidi teve foi, utilizando a golden share, impedir a venda da Vivo evitando que fossem distribuídos dividendos apenas aos seus accionistas. Fi-lo em nome do interesse nacional. Para que a PT tivesse uma estratégia de desenvolvimento internacional”, alegou Sócrates, defendendo que essa intervenção foi contra os desejos de Ricardo Salgado, do BES e da administração da PT.

José Sócrates, um dos 25 arguidos na Operação Marquês, é ouvido no início da semana em que termina o prazo dado pela Procuradora-Geral da República aos procuradores para emitirem o despacho de acusação. O jornal i escreve nesta segunda-feira que os procuradores vão precisar de mais um mês para efectuar a acusação, algo que a Procuradoria-Geral da República (PGR) recusa comentar. " 

"De momento, nada a acrescentar à informação já prestada", vincou fonte da PGR ao PÚBLICO. No início do mês, Joana Marques Vidal salientou que o prazo termina a 17 de Março (esta sexta-feira): "Logo que haja qualquer alteração ao que está decidido até agora, os senhores jornalistas serão imediatamente informados, todos por igual, por comunicado a emitir pela Procuradoria-Geral da República. Para já nada há a acrescentar àquilo que já sabem."

Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates, será ouvida na quarta-feira de manhã, assim como Diogo Gaspar Ferreira, presidente da empresa que gere o empreendimento de Vale do Lobo. Na quinta-feira será a vez de Joaquim Barroca Rodrigues, administrador do Grupo Lena, ir ao DCIAP.

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