Livro

A íntima Bruma de Amanda Baeza

Fotogaleria

"Amanda Baeza nasceu em 1990 e cresceu entre dois hemisférios. Talvez seja por isso que haja quem diga que os seus desenhos vêm de outro mundo." A biografia oficial da ilustradora e autora de banda desenhada começa assim e diz muito sobre o seu trabalho. Com menos de um ano de idade, deixou Lisboa e partiu para o Chile, de onde é natural o pai. Lá viveu até aos dez anos, altura em que voltou para Portugal. E fez o percurso óbvio — António Arroio no ensino secundário, Faculdade de Belas Artes no superior, em Design e Comunicação. E depois decidiu dedicar-se à BD e à ilustração. Todo este percurso está espelhado na sua obra, como é visível ao folhear Bruma, que ganha agora uma edição portuguesa à boleia da Chili Com Carne. É a primeiro livro que a autora lança em Portugal, depois de ter integrado muitas colectâneas por cá (lá fora, movimenta-se, e muito, entre Letónia, França, Inglaterra, Itália e, sobretudo, Espanha). Uma compilação de quase duas dezenas de histórias, grande parte inéditas em território nacional, muito "focadas em temas sociais", conta a jovem de 26 anos ao P3. E "muito íntimos" e biográficos. Como na história da imagem n.º 4 desta galeria, uma brevíssima BD em que Amanda fala da sua experiência ao chegar a Portugal e do "estigma" que enfrentou desde criança como imigrante. "Embora as ruas tenham um ambiente multicultural, é por trás de quatro paredes que as pessoas expressam todos os seus medos e preconceitos", lê-se, num dos balões. O traço tem sempre algo de mutante e alienígena, quebrando as barreiras tradicionais da BD ("Tenho muito a influência do design e, como não estudei banda desenhada, quebro muito a estrutura") e, hoje em dia, dando especial importância à cor ("Não é apena decorativo, é outra linguagem"). Bruma será apresentado oficialmente a 25 e 26 de Março na próxima Feira Morta, que se realiza na associação Estrela, em Lisboa, com uma pequena exposição dos trabalhos da autora. Entranto, o tarot de pessoas normais continua a crescer e, já agora, fica o aviso: há-de vir aí uma novela gráfica — "biográfica", claro, "mas não só".