Francisco Sales: a milhas pelo mundo mas com a guitarra assente em Londres

Guitarrista e compositor português de 29 anos, membro dos britânicos Incognito, lança o seu segundo disco a solo, resultante de múltiplas viagens pelo mundo: Miles Away.

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Francisco Sales DR

Foi para Londres por impulso e lá encontrou um rumo para a sua guitarra e a sua música: gravou um primeiro disco, foi convidado a integrar a banda britânica Incognito (onde toca também outro jovem português, João Caetano) e lança agora o segundo disco a solo, Miles Away. Nascido em Penalva do Castelo em 1987, Francisco Sales teve “escola” musical em casa: “Tive a sorte de nascer com uma guitarra em casa, e uma bateria também. O meu pai e os meus tios estavam envolvidos em projectos musicais e isso facilitou-me imenso. E a música que se ouvia em casa também era bastante inspiradora. Tanto o meu pai como os meus tios eram, e continuam a ser, grandes fãs de Pink Floyd e foi esta banda que, desde novo, me influenciou.”

O gosto pela composição foi quase inato, diz ele. “Sempre gostei muito de compor, de escrever. Lembro-me de que quando o meu pai me ensinou os primeiros acordes, tinha eu uns sete anos, a primeira coisa que fiz com eles foi tentar escrever uma música, intuitivamente.” O primeiro instrumento que tocou foi bateria, mas foi a guitarra que o marcou. “Quando aprendi os primeiros acordes foi como uma descoberta de mim próprio, uma espécie de conexão aditiva que se criou ali e nunca cessou desde então. Tive a sorte de fazer umas escapadelas para o Porto, na minha adolescência, e o jazz apareceu nessa altura. Uns amigos meus levaram-me a uma jam session na ESMAE onde vi o Nuno Ferreira tocar e foi um guitarrista que abriu os meus horizontes.” Teve, depois, aulas com ele e com Luís Lapa. Ganhou prática, técnica e “vocabulário”. “Eles prepararam-me para entrar [em 2009] numa licenciatura em jazz na Escola Superior de Música de Lisboa, que apenas tinha duas vagas por ano. Havia muita gente a concorrer e eu estava a competir com pessoas que já tocavam jazz há 30 anos; foi um desafio enorme, mas consegui.”

O primeiro disco

Ao mesmo tempo, foi tocando em bares e a acompanhar outros músicos. Mas queria ir “mais longe”. E essa ambição levou-o até Londres, para onde se mudou em 2013, “em busca de novos desafios”. Não falava sequer muito bem inglês, diz, mas a vontade fez o resto. “Depois de muito suor e trabalho árduo, tive a sorte de ter, em 2015, um convite do Bluey [Jean-Paul Munick, líder e fundador do grupo britânico Incognito].” Mas esse convite tem uma história anterior. É que, primeiro, ele conheceu o percussionista dos Incognito, João Caetano, um músico português nascido em Macau e que em Dezembro de 2016 veio a Portugal apresentar o seu EP de estreia, na Fundação Oriente. Francisco Sales tocou com ele nessa gravação e co-produziu o disco.

Ora também Francisco Sales queria gravar o seu primeiro disco a solo (Valediction) e, como João Caetano já lhe havia apresentado o fundador dos Incognito, ele sentiu-se à-vontade para lhe perguntar se podia gravar no seu estúdio. Ele aceitou, mas não assistiu às gravações. “Quando o disco ficou pronto, convidei-o para ir ao estúdio ouvi-lo. Adorou.” A partir daí começam a surgir-lhe convites. “Graças ao Bluey eu pude apresentar o meu disco ao vivo no Reino Unido e no Japão. E depois ele convidou-me para fazer parte da banda.”

Isso foi em 2015, e permitiu-lhe viajar pelo mundo e actuar em palcos com que sempre sonhara. Tocou com Chaka Khan, por exemplo, no Java Jazz, em Jacarta, em 2016, e este ano voltou a actuar no mesmo festival. E foi dessas viagens que nasceu o seu segundo disco, que acaba de ser lançado em Portugal, simultaneamente em formato físico (CD) e digital, e que em breve será editado no Japão e no Reino Unido. Miles Away, assim se chama o disco, tem sete temas, todos instrumentais, com títulos motivados por situações e lugares apreendidos nessas viagens: Sky (já com vídeo no Youtube), Paris, St Moritz, Black yellow & green, Hungary, Tokyo e London. O muito que viajou, diz, marcou a sua vida. “E deu-me uma inspiração tremenda. De tal modo que, de cada vez que voltava a casa e pegava na guitarra, as músicas surgiam-me. Tinha a alma cheia de novos acontecimentos que me inspiravam. E passava-os automaticamente para a guitarra.”

Sozinho, como uma banda

O título do disco reflecte esse estado de espírito. “É estar a milhas, e não só fisicamente. Porque já estou em casa mas mentalmente ainda estou a milhas, nos sítios todos por onde viajei. Este álbum retrata não só esta fase nómada da minha vida como também essa sensação de estar a milhas, estando já de regresso.”

Miles Away vai ser apresentado nos próximos dias nas Fnac, primeiro na do Colombo (dia 12, às 21h30), depois na do Chiado (dia 13, às 18h30), Cascais (16), Gaia Shopping e Santa Catarina, no Porto (8 de Abril). E haverá concertos em Portugal, em locais e datas ainda a anunciar. Em palco, Francisco Sales apresenta-se a solo absoluto, mas como se tivesse uma banda. “Os meus concertos são um tanto ou quanto intimistas, combinando a guitarra acústica com pedais e loops, que me permitem trabalhar sozinho. Nada pré-gravado, estou a criar a música ao vivo, é no palco que tudo está a acontecer. E também toco com diferentes afinações, encontradas nos momentos de descoberta dos meus caminhos. O que exige grande preparação.”

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