Marcelo quer as pessoas perto, “mas depois ocupa o espaço mediático todo”

O primeiro ano do primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa já originou estudos, como o de Felisbela Lopes, e as conclusões vão todas dar ao mesmo: é um político que ocupa o espaço mediático “quase na totalidade”.

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Marcelo a tirar selfies com jovens Rui Gaudencio

Marcelo Rebelo de Sousa, Marcelo Rebelo de Sousa, Marcelo Rebelo de Sousa. Se a pergunta for qual o primeiro nome de um político em funções que lhe vem à cabeça, poucas hesitações há: Marcelo Rebelo de Sousa. Quase só Portelo Constantino, 79 anos, antigo cantoneiro na autarquia de Lisboa, destoa. Está sentado sozinho, num banco no Largo do Intendente, em Lisboa, a apanhar sol. De boné, distraído a olhar para a manhã cheia de calor e de gente, escolhe o nome de Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP. E Marcelo? “Não estou a ver quem é.”

A resposta é surpreendente, tendo em conta que o Presidente da República tem sido alvo de estudos que o confirmam como político altamente mediático. A resposta é surpreendente, mas não é representativa. Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República? A memória de Portelo Constantino aviva-se: “Ah, sim, é muito querido, muito querido. Não se compara com o outro.” O “outro” é o antigo Chefe de Estado, Cavaco Silva.

Andar pelas ruas de Lisboa e falar com as pessoas sobre o actual Presidente confirma, empiricamente, as teses académicas. Como Portelo Constantino, só Carla Quinta, 43 anos. Encostada à porta de uma loja de recordações para turistas, atira em primeiro lugar o nome de Durão Barroso para a conversa. Não se esqueceu da polémica ida do ex-presidente da Comissão Europeia para o Goldman Sachs. Depois, introduz o nome de António Guterres, por ter sido eleito secretário-geral da ONU. Só depois Marcelo: “É muito acessível, gosto muito da forma como contacta com as pessoas.”

A proximidade do Presidente da República com os cidadãos é quase sempre destacada. Por quem anda nas ruas e por quem está na academia a fazer os estudos. Como a investigadora na área dos media da Universidade do Minho, Felisbela Lopes, que andou a recolher todos os artigos que saíram no Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Correio da Manhã e PÚBLICO, durante o primeiro ano do primeiro mandato de Marcelo.

80,6% dos textos médios ou longos

Depois de tanta análise, não tem dúvidas: “Marcelo quer trazer as pessoas para junto de si, mas depois ocupa o espaço mediático todo, quase na totalidade. É o Presidente próximo, mas depois nas notícias é ele.” Esta “intensa cobertura mediática” traduzida em números significa que 80,6% dos textos recolhidos por Felisbela Lopes têm um tamanho médio ou longo, com meia página ou mais; e que 43,1% dos artigos só têm uma fonte (com duas fontes são 26,8%).

A passear na Avenida Almirante Reis, de óculos de sol, Carminda, 75 anos, antiga chefe de refeitório, conta que gosta tanto de Marcelo que a irmã até lhe enviou por correio um jornal local, com uma reportagem sobre a visita do Presidente a Ganfei, Valença: “Sou dessa freguesia, onde ele esteve no dia 18 de Fevereiro. Era uma reportagem e tanto. Muito bonita.”

Esta é outra das conclusões do estudo de Felisbela Lopes: a agenda mediática é “pendurada” em eventos – 78% dos textos sobre Marcelo são desencadeados a partir de eventos. Outro dos dados mostra que 69,6% dos títulos ou dos ângulos são “positivos”. As notícias que possam ser consideradas negativas ocupam 11,1% (o noticiário neutro situa-se nos 19,3%). E, entre os vários temas analisados, é no das finanças (10,6% das notícias são sobre questões de finanças) que os ângulos são menos positivos, diz a investigadora.

Outro dos aspectos que Felisbela Lopes realça é o facto de 10,5% dos artigos serem reflexões sobre o próprio cargo de Presidente, numas vezes pela voz de Marcelo, noutras pela de especialistas: se é próximo das pessoas, se as abraça, se dá beijinhos, se tira selfies. Esta “interpretação do cargo” é algo “novo”, diz a investigadora. Significa que se trouxe “para o espaço público o modo de interpretação do cargo”, e logo no primeiro ano.

Nas ruas, é o estilo Marcelo que mais conta. Num quiosque no Martim Moniz, Muntasbano Ibraimo, 50 anos e natural de Moçambique, sorri quando se lembra do Presidente a tentar dançar a marrabenta na visita que fez àquele país. O vídeo correu as redes sociais. “Dançou bem! É outra figura, nem parece Presidente da República.”

Também Carlos Jerónimo, atrás do balcão de uma loja de roupa para homem na Rua dos Fanqueiros, diz que tem gravado na retina imagens televisivas do Presidente “a abraçar as pessoas”, imagens do Presidente a sorrir. Marcelo, Marcelo, Marcelo: as respostas e as conversas vão quase sempre ter ao mesmo político, seja na Praça da Figueira ou num computador da academia: “Marcelo é hegemónico”, resume Felisbela Lopes.

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