Eu sou contra o Dia Internacional da Mulher

Enquanto nós, os homens, precisarmos de uma data no calendário ou no telemóvel para nos lembrarmos que a outra metade da Humanidade existe, não estaremos a fazer outra coisa senão passar um atestado de burrice e estupidez a nós próprios

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Porquê? Por não precisar de um Dia Internacional para me lembrar da minha mãe, da minha avó, das minhas irmãs, de ti, Ana, e por todos os dias que passas ao meu lado, da tua mãe, das tuas tias, que também são minhas, das nossas primas, das nossas sobrinhas ainda agora nascidas e já a caminho de uma vida maior, de todas as nossas amigas e de todas as mulheres sem as quais nós, os homens, não podemos estar senão eternamente gratos por esta oportunidade de vida, por este amor, oferecido a troco de nada, todos os dias por todas as mulheres do mundo.

E, no entanto, nós, os homens, achamo-nos maiores. Achamos que merecemos mais, talvez por termos mais músculo (e isto é discutível, experimentem levar com uma mala de senhora no focinho e depois a gente fala) onde devia haver mais cérebro, talvez por uma eterna frustração em redor desta incapacidade de gerar vida que nos faz parecer (e ser) mais primitivos, talvez por esta imaturidade, por sermos criançolas para a vida, sempre mais preocupados com que os outros se lembrem do nosso nome ao invés de nos lembrarmos do nome dos outros, e das outras, das mulheres.

E, no entanto, nós, os homens, não nos cansamos de bater, cuspir, pisar, estuprar de todas as formas e feitios, matar, esquartejar, queimar, afogar, fuzilar, pulverizar, exterminar e esquecer tantas mulheres, dia após dia, num sentido único de autodestruição cuja infantilidade maior, cuja hipocrisia maior, culmina na edificação de uma estátua e um Dia Internacional para que, depois de cometer todos os males e pecados, nos sintamos um pouco melhor connosco próprios, numa esquizofrenia galopante.

Por conseguinte, sou contra o Dia Internacional da Mulher, porque as mulheres não são a nossa obrigação mas antes a nossa devoção, porque enquanto nós, os homens, precisarmos de uma data no calendário ou no telemóvel para nos lembrarmos que a outra metade da Humanidade existe, não estaremos a fazer outra coisa senão passar um atestado de burrice e estupidez a nós próprios. Tenhamos vergonha! E saibamos evoluir, como espécie, e não como animais, porque enquanto precisarmos de um Dia Internacional para nos lembrarmos das mulheres não estamos senão a garantir, para quem não nos conheça e nos veja lá fora, na segurança de uma galáxia distante, como nós, os homens, não estamos senão a prazo, em nome de um futuro onde as mulheres, dia após dia, garantem ser, elas mesmas, as dignas representantes da Humanidade, lá fora, numa galáxia distante, num futuro cada vez mais perto.

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