Portugueses têm percepção errada dos valores das taxas moderadoras

Estudo mostra que a maioria das pessoas acha que os serviços de saúde são mais caros do que o preço real.

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Estudo é apresentado esta terça-feira ENRIC VIVES-RUBIO

Os portugueses têm uma percepção errada dos custos das taxas moderadoras na saúde e estimam valores acima dos reais, mas consideram que apesar de tudo são adequados, indica um estudo que será apresentado esta terça-feira.

Segundo o trabalho da Nova Information Management School (Nova IMS), da Universidade Nova de Lisboa, que vai ser apresentado em Lisboa, mais de um em cada três (38,1%) portugueses considera adequadas as taxas moderadoras praticadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O trabalho da Nova IMS tem vindo a ser feito desde 2014 e todos os anos complementa o anterior com indicadores novos. De acordo com o estudo, mais de metade dos inquiridos (50,1%) considera adequados ou muito adequados os valores pagos pelos medicamentos que lhes foram prescritos nos últimos 12 meses, pouco mais do que aqueles que consideram adequada a comparticipação do Estado para a medicação prescrita (49,1%).

Mas a percepção que os portugueses têm da realidade dos valores das taxas moderadoras é na maior parte dos casos errada. O estudo indica que há uma diferença entre o que os portugueses julgam que custa (11,92 euros) e o que realmente custa (7,00 euros) a taxa moderadora para uma consulta externa/especialidade num hospital público.

Nos episódios de urgência, o valor que os portugueses julgam (16,88 euros) que custa a taxa moderadora também é maior do que o real no caso da urgência básica (14,00 euros) e polivalente (16,00 euros). O valor estimado apenas é inferior ao custo real no caso das urgências médico-cirúrgicas (18,00 euros).

"No caso das urgências a percepção está mais alinhada com a realidade, assim como nos cuidados primários. Onde se verifica maior diferença é nas taxas nas consultas externas dos hospitais", explicou Pedro Simões Coelho, investigador da Nova IMS.

Quanto aos efeitos dos custos reais dos cuidados de saúde no bolso dos portugueses, o estudo diz que 10,7% deixaram de ir às urgências por falta de dinheiro, que 3,9% não fizeram exames de diagnóstico, que 3,4% perderam uma consulta externa/especialidade num hospital público e que 2,4% não foram a uma consulta com o médico de clínica geral ou médico de família num centro de saúde.

Quanto aos que deixaram de comprar medicamentos prescritos pelos médico por causa do seu custo, o estudo indica que estes números têm vindo a cair desde 2014, mas ainda assim foram 11,8% os que o confessaram tal realidade (contra 14,2% em 2015).

Contudo, Pedro Simões Coelho sublinha que estes valores estão "em queda muito acentuada". "Este potencial de cuidados de saúde perdidos está em queda muito acentuada. Estimamos que cerca de 11% dos episódios urgência não se realizaram por esta razão [falta de dinheiro], mas eram quase 14,5%. Nas consultas externas são 3%, mas eram 8%.(...) Ainda é elevado, estimamos por exemplo que 12% não compraram medicamentos por causa do preço, mas em 2014 eram 16%. A tendência é para uma evolução positiva", considerou.

"Esta evolução positiva resulta de várias coisas em simultâneo: da redução efectiva nas taxas moderadoras, de um alargamento de segmentos de população isenta de taxas moderadora e a verdade é que, para certos segmentos da população utilizadores do SNS, observámos um aumento de rendimento disponível", afirmou o investigador.

Com um universo de cidadãos acima dos oito milhões (pessoas com 18 ou mais anos), o estudo abrangeu a realização de 500 entrevistas, em Fevereiro, cujos resultados foram "extrapolados para o universo segundo uma pós-estratificação que tem por base as variáveis género e classe etária". O trabalho vai ser apresentado durante a conferência Sustentabilidade na Saúde, organizada pela TSF e pela farmacêutica AbbVie.

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