Produtores de azeite admitem subida nos preços

No Alentejo, responsável por quase 80% da produção, a quebra na azeitona pode significar azeite mais caro, mas de boa qualidade.

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O grupo SOVENA diz que "há menos oferta" de azeite do que o normal, em Portugal e vários outros países xx direitos reservados

O aumento do preço do azeite em 2017, após a quebra de produção de azeitona na última campanha, é admitido por produtores do Alentejo, região com mais olival e que produz "70 a 80%" do azeite nacional.

A Cooperativa de Olivicultores de Borba, com cerca de 600 associados e uma das principais do Alentejo, assume a diminuição da produção de azeitona para azeite na campanha de 2016/2017, o que se vai reflectir no preço do azeite.

"A quebra provoca o aumento do preço do azeite", disse Paulo Velhinho, director executivo da cooperativa, à Lusa. A produção de azeitona nesta organização é "de cerca de 40% em relação a anos normais", enquanto face a 2015 a descida "foi de 10%".

E, como a azeitona foi paga a um preço "mais elevado", "os sócios da cooperativa apanharam mais azeitona e não a deixaram nas oliveiras", acrescentou. "O preço da azeitona na campanha de 2015 foi, em média, entre 36 e 38 cêntimos por quilo", enquanto, na última campanha, "a média foi de 48 cêntimos por quilo, embora tenha havido azeitona galega que chegou a render 55 cêntimos por quilo", disse.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou, em 17 de Fevereiro, que a produção de azeitona para azeite em Portugal deverá ter caído 30% em 2016, para um total na ordem das 491 mil toneladas, mas com azeite "de boa qualidade".

Henrique Herculano, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), entidade que visa "dinamizar e potenciar o sector do azeite", disse à Lusa que a quebra "é reflexo do que aconteceu no Alentejo". Isto porque, frisou, trata-se da região portuguesa "com mais olival plantado". Possui quase 170 mil dos 315.340 hectares do país, segundo dados de 2015 do INE.

"E grande parte deste olival é moderna, portanto, com produtividades muito elevadas", o que faz com que a região, que deve ser responsável por "70 a 80% do azeite produzido em Portugal"  seja "incontornável" no sector. Mas a produção desta campanha foi prejudicada pelas "chuvas de Maio, que afectaram a floração das árvores" e pelos "calores tardios, sobretudo em Setembro, que diminuíram o rendimento da azeitona".

Do grupo Sovena, detentor de marcas como a Oliveira da Serra e com 10 mil hectares plantados de olival, a maioria no Alentejo, também chega o alerta de que este ano "há menos oferta" de azeite "do que o normal", em Portugal e em diversos outros países, pelo que "os preços vão subir".

"Há uma conjuntura internacional que faz com que haja menos oferta do que procura", disse à Lusa o director de Marketing e Vendas da Sovena, Otto Teixeira da Cruz, aludindo a quebras na produção em Portugal, Tunísia e, "principalmente em Itália", onde "foi muito baixa", salvando-se apenas Espanha, responsável por 50% do azeite comercializado no mundo.

E como os italianos tiveram essa produção baixa, "têm de ir à procura de azeite e quem tem para lhe vender são os outros países, principalmente Espanha, mas também Portugal, que produz mais cedo", provocando "uma inflação dos preços". "Vai ser um ano complicado, mas, se o consumo começar a crescer, depois, terão de ser ajustados também os preços da oferta", afirmou Otto Teixeira da Cruz.

Henrique Herculano perspectiva igualmente o aumento do preço do azeite, mas acredita que não deverá ser "muito significativo". "Poderá "não ter grande expressão" porque o azeite, "nos últimos anos, já tem tido valores bastante elevados". A "esmagadora maioria do azeite" que o consumidor está a comprar agora "ainda não deve ser desta campanha", mas "lá para Maio ou Junho já é capaz de haver uma subida do preço, a não ser que haja a importação de azeites do Norte de África".

Na região de Portalegre, António Melara Nunes, que produz o azeite Castelo de Marvão confirma "quebras significativas" na produção de azeitona, devido ao tempo seco em 2016. O aumento de preços na venda de azeite a granel já se sente, de acordo com o empresário, um cenário que pode ser "uma boa oportunidade" para os pequenos produtores. A subida de preços permite ao consumidor, actualmente, comprar azeite intensivo ou de produtor ao mesmo preço, pelo que os pequenos produtores podem "vingar" num mercado "altamente monopolizado".

A queda da produção de azeitona para azeite em 30% em 2016, para menos de 500 mil toneladas, deverá ser parcialmente compensada pela subida dos preços, o que é expectável que possa acontecer este ano, disse à Lusa o ministro da Agricultura. "Infelizmente, o ano de 2016 foi, do ponto de vista climatérico, muito mau para a agricultura e provocou baixas de produção em vários sectores, designadamente no azeite", disse o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, acrescentando que "quando a produção cai os preços tendem a subir".

Logo, o prejuízo que decorre da redução das quantidades produzidas "é pelo menos parcialmente compensado pela subida dos preços. E é isso que esperamos que possa acontecer este ano", afirmou o governante. O ministro explicou que a produção de azeitona se caracteriza tradicionalmente por anos de safra e contra safra (após um ano de elevada produção segue-se invariavelmente uma menor colheita), sendo esta a realidade com a qual os operadores e os agricultores estão habituados a lidar.

Segundo Capoulas Santos, normalmente os anos de menores produções caracterizam-se por melhor qualidade, apesar de actualmente os parâmetros médios de qualidade do azeite português serem "muito bons", dado existirem tecnologias que permitem manter graus razoáveis de qualidade. Questionado sobre a influência da queda da produção da azeitona nas exportações de azeite, o ministro disse que as grandes empresas exportadoras têm stocks e que acredita que "não haverá problemas no abastecimento dos mercados tradicionais portugueses".

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