“As redes sociais empolaram algo mais normal do que parece”

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O cartaz do espectáculo 1HD — 1 História da Dança dr
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Paulo Ribeiro PÚBLICO

Recém-chegado à direcção da Companhia Nacional de Bailado (CNB), Paulo Ribeiro vê os seus primeiros meses de mandato marcados pelo afastamento de Bruno Cochat da coordenação do centro educativo da companhia nos Estúdios Victor Córdon, e pelo cancelamento, ao fim de quatro apresentações, do espectáculo infanto-juvenil 1HD — 1 História da Dança, uma criação do próprio Cochat. Para o seu lugar nos Estúdios foi nomeado Rui Lopes Graça.

Nas últimas semanas deu-se o afastamento de Bruno Cochat do centro educativo da CNB. O que esteve por detrás dessa rescisão?
A rescisão com o Bruno foi comunicada pelo conselho de administração do Opart [Organismo de Produção Artística, entidade gestora da CNB e do Teatro Nacional de São Carlos], e se há uma rescisão é porque há responsabilidades que não corresponderam ao que estava inicialmente previsto.

Houve sequer tempo para analisar o que Bruno Cochat se propunha fazer?
Houve. Apanhei isto já em andamento, uma vez que estou cá desde Novembro. O Bruno trabalhou de Setembro até Fevereiro. Em seis meses dá para fazer a avaliação do trabalho no que diz respeito à questão administrativa e da coordenação da Victor Córdon. O que me dizia respeito era o espectáculo 1HD continuar. Entre a conversa com o conselho de administração e a conversa que eu deveria ter com o Bruno, a Internet intrometeu-se. As redes sociais empolaram algo mais normal do que parece. A carreira de um espectáculo na CNB passa por estreia, uma temporada aqui, apresentação no Porto ou noutra cidade e acaba. As peças ficam depois congeladas e logo se vê se são remontadas.

Em relação ao cancelamento de 1HD, não teria sido preferível concluir a carreira do espectáculo?
Não teria sido possível. Uma casa como esta pode prever uma actividade, mas muitas vezes essa actividade tem de ser repensada. A CNB tem uma tournée muitíssimo complexa, há bailarinos, técnicos, equipamento que estão fora de casa de Março até Julho. Refazer ou remontar o espectáculo do Bruno [com apresentações previstas de Março a Junho] era quase tão caro como o produzir, porque teríamos de alugar todo o equipamento, luz, som, audiovisuais, técnicos de fora, etc. Se o espectáculo fosse fantástico e incontornável, não havia recursos na mesma. Mas é frágil. Os próprios intérpretes não querem voltar a fazê-lo. Era incomportável a companhia andar pelo país fora e termos aqui outro espectáculo a acontecer.

Mas isso não foi devidamente previsto na programação?
Há coisas que se prevêem e não se conseguem manter. A vida é assim. Não é porque se pensou na programação daquela maneira que ela é fazível. Somos confrontados, a cada dia, com dificuldades. Dificuldades que são interessantes, porque nos levam a tomar decisões, nos expõem a esta equipa e às suas grandes capacidades, e isso é completamente apaixonante. Infelizmente, não somos surpreendidos com facilidades.

Reconhece que é complicado não olhar para as duas decisões, o afastamento de Bruno Cochat dos Estúdios e o cancelamento do espectáculo, como estando intimamente ligadas?
Houve um desacerto com o Bruno em duas responsabilidades que ele tinha — a coordenação da Victor Córdon e o espectáculo que ele se tinha proposto criar. E que criou e que fez. Quando houve a manifestação, recebi os pais, os representantes, o próprio Bruno Cochat e a Sílvia Real, que vieram para o escritório conversar comigo, e a todos justifiquei [o cancelamento do espectáculo]. Não volto a falar neste assunto. O importante agora é que o Bruno continue e faça outros projectos.

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