Investigadores confirmam vala comum com bebés em antigo orfanato católico na Irlanda

Suspeitas tinham sido levantadas em 2014. Restos mortais encontrados serão de quase 800 crianças, enterradas com idades entre as 35 semanas e os três anos, durante a década de 1950.

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Cruz assinala vala comum em Tuam, Irlanda LUSA/AIDAN CRAWLEY

Foi descoberta uma vala comum com restos mortais de recém-nascidos e bebés nas imediações de um antigo convento irlandês, confirmaram nesta sexta-feira os investigadores no terreno. Terão sido ali enterrados cerca de 800 crianças.

Segundo relata o Guardian, as escavações realizadas no local onde funcionava a congregação de Bon Secours, gerida por uma ordem católica de freiras, na cidade de Tuam, condado de Galway, permitiram descobrir uma estrutura subterrânea com 20 câmaras contendo “quantidades significativas de restos mortais humanos”, explicaram os investigadores ao diário britânico.

Efectuadas já algumas das análises de ADN, sabe-se que as idades dos cadáveres encontrados se situam entre as 35 semanas e os três anos, sendo que foram enterrados nos anos 1950. A congregação, que foi encerrada em 1961, funcionou durante grande parte da sua existência como uma casa de acolhimento para órfãos e filhos de mulheres solteiras, que eram separados das suas mães e permaneciam sob alçada das freiras até que fossem adoptadas.

As suspeitas vieram à tona em 2014, levando o Governo irlandês a formar uma comissão responsável pela investigação, que foi iniciada pela historiadora Catherine Corless. A historiadora assegurava na altura que tinha descoberto restos mortais de 796 crianças, enterradas numa vala comum, sem lápide nem caixão. Apesar de a população local ter conhecimento da existência dos restos mortais, acreditavam que estes pertenceriam, na sua maioria, às vitimas da fome que devastou a população da Irlanda Ocidental no século XIX.

Por essa altura, estava já em marcha uma campanha de angariação de fundos com vista à construção de um memorial com o nome de cada recém-nascido ali enterrado. Os líderes católicos de Galway garantiram que desconheciam que tantas crianças tinham morrido e sido enterradas naquele orfanato e comprometeram-se a ajudar na construção do memorial.

As conclusões agora anunciadas confirmam não só as suspeitas levantadas em 2014 como acrescentam mais um capítulo no historial de práticas deste género nas instituições religiosas na Irlanda no início do século XX.

Dentro dos muros dos conventos e asilos, a violência funcionava, em simultâneo, como punição e forma de redenção, como revelou o inquérito concluído em 2013 às Lavandarias de Maria Madalena, uma rede de albergues onde milhares de raparigas que tinham sido mães solteiras, que eram órfãs ou simplesmente vistas como namoradeiras foram durante décadas sujeitas a trabalho escravo, violência física e psicológica.

Tal como as lavandarias, as casas para as mães solteiras eram geridas por ordens religiosas, que recebiam financiamento do Estado (um tanto por cada cabeça). No caso de Tuam, foram as irmãs do “Bom Socorro”, uma ordem nascida durante a Revolução Francesa para acorrer a enfermos e inválidos e que no início dos anos 1920 foi encarregada pelas autoridades do condado de Galway de tomar conta de dezenas de “filhos do infortúnio”, como lhes chamou um jornal local. 

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