Procurador-geral dos EUA omitiu encontros com embaixador russo

Democratas pedem a demissão de Jeff Sessions que respondeu, sob juramento, que não tinha contactado qualquer representante de Moscovo.

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Jeff Sessions foi confirmado Procurador-Geral dos EUA pelo Senado Reuters/KEVIN LAMARQUE

A 10 de Janeiro, Jeff Sessions, actual Procurador-geral dos EUA e um dos primeiros apoiantes de Donald Trump na corrida à Casa Branca, foi questionado pelo Senado norte-americano sobre a existência de comunicações com os representantes de Moscovo durante a campanha eleitoral. Sob juramento, o então senador e “padrinho intelectual de Trump” garantiu que não tinha estabelecido contactos com a Rússia. No entanto, dados do Departamento de Justiça revelados pelo Washington Post provam que, na realidade, encontrou-se, pelo menos duas vezes, com Sergei Kisliak, o embaixador russo nos EUA.

Questionado durante a sessão de confirmação para o cargo de Procurador-Geral, Sessions disse que “não tinha conhecimento” de qualquer encontro entre a equipa de Trump e representantes russos durante a campanha para as presidenciais. E vincou que não estabeleceu contacto com representantes russos e por isso não estava "em condições de comentar" o que faria se houvesse provas de que alguém da campanha tinha estado em contacto com o Governo de Moscovo. A pergunta sobre a sua proximidade com o Governo de Putin seria repetida pelo senador democrata Patrick Leahy, que se dirigiu directamente a Sessions através de um questionário escrito, em que lhe perguntou se esteve em contacto com algum membro do Governo russo durante o período de campanha. Novamente, a resposta de Sessions foi um categórico “não”.

Os encontros já foram confirmados pelo Departamento de Justiça norte-americano através de Sarah Isgur Flores, porta-voz de Sessions. Flores defendeu o Procurador-Geral, argumentando que as conversas decorreram na qualidade de membro de um comité do Senado e que, por isso, "não havia nada de enganador na resposta" de Jeff Sessions. Mais, acrescenta que Sessions não considerou as conversas com o embaixador russo relevantes e que não se lembrava detalhadamente do que haviam discutido. No Twitter, a porta-voz partilhou uma declaração de Jeff Sessions, em que o Procurador-geral vinca que nunca se encontrou com representantes russos "para discutir assuntos relacionados com a campanha", garantindo que as acusações "são falsas".

Em comunicado partilhado pela CNN, Flores justifica que “no último ano, o senador teve mais de 25 conversas com embaixadores estrangeiros como membro sénior da Comité das Forças Armadas, incluindo embaixadores britânicos, coreanos, japoneses, polacos, chineses, canadianos, australianos, alemães e russos”.

"Ele foi questionado durante a audiência sobre comunicações entre a Rússia e a campanha de Trump - não sobre os encontros que teve enquanto senador e membro da Comissão", vincou Flores. 

No entanto, o Washington Post contactou outros 25 membros do Comité das Forças Armadas. Dos 20 que responderam, incluindo o republicano John McCain, todos negaram qualquer contacto ou encontro com o diplomata russo durante o último ano.

O senador democrata Al Fraken, que conduziu o questionário a Session a 10 de Janeiro, acredita que “é mais claro do que nunca que o Procurador-Geral não poderá, em boa fé, supervisionar uma investigação do Departamento de Justiça e do FBI sobre as ligações EUA-Rússia” e que deverá por isso afastar-se imediatamente.

A mesma opinião partilha o principal democrata membro da Comissão de Informações da Câmara dos Representantes, Adam Schiff. “Se forem rigorosas as informações de que o procurador-geral Sessions - um proeminente substituto de Donald Trump - se encontrou com o embaixador Kisliak durante a campanha e não revelou este facto durante a confirmação da sua nomeação, é essencial que ele abstenha de desempenhar qualquer papel na investigação à ligação entre a campanha de Trump e os russos", cita o The Guardian.

Também a congressista democrata Nancy Pelosi, líder do partido na Câmara dos Representantes, considera que Sessions quebrou o juramento e que não tem condições para se manter no cargo e deve, por isso, demitir-se. “[O Procurador-Geral, equivalente a ministro da Justiça] deverá ser independente, bipartidário e alguém exterior à comissão para que possa investigar as ligações politicas, pessoais e financeiras de Trump aos russos”, justificou.

As revelações sobre os encontros de Sessions com o embaixador russo durante o período de campanha eleitoral surgem no mesmo dia em que se soube que a Administração Obama multiplicou esforços para que fossem conhecidos todos os contactos entre os EUA e Moscovo, nomeadamente na equipa de Trump, procurando facilitar o trabalho às agências de investigação norte-americanas e para garantir que não haveria interferência em futuras eleições, quer norte-americanas, quer europeias, como noticiou o New York Times.

A Casa Branca já reagiu, desvalorizando as informações agora conhecidas, considerando-as “o mais recente ataque dos democratas” à Administração Trump, cita a CNN.

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